sexta-feira, novembro 18, 2011

À espera - ALON FEUERWERKER



CORREIO BRAZILIENSE - 18/11/11


Na teoria temos uma bela vantagem sobre o mundo desenvolvido. Aqui quase tudo ainda está por fazer. Mas essa qualidade é também nosso grave defeito: o Estado brasileiro estruturou-se para não deixar que as coisas aconteçam



A prévia do PIB divulgada ontem pelo Banco Central registrou recuo de 0,32% no trimestre de julho a setembro. O número final dirá quanto, mas sabe-se desde já que a economia brasileira andou para trás. 
O governo espera que o fim do ano traga boas notícias, salvando o período gregoriano. Mas o acumulado dos 12 meses terminados em dezembro terá carregado a inércia do ótimo 2010, fazendo concluir que 2011 foi um ano perdido. 
Eis por que um número razoável no total de 2011 não terá como resolver o problema prático. Na medição instantânea, a economia brasileira está parando. O tranco é menos agudo que em 2008/09, mas a gravidade é maior. 
Se três anos atrás a crise era de crédito, enfrentável portanto com medidas monetárias, a de agora parece bem mais complicada. 
As taxas mundiais de juros estão no chão, sem que isso faça destravar a engrenagem. A cada momento em que a locomotiva ensaia ganhar velocidade, aparece um novo problema e a aceleração se frustra. 
Agora é a Europa, com sua dívida descontrolada e seus bancos pressionados. Qual será a próxima surpresa, a próxima casinha a se abrir e exibir uma imagem assustadora aos passageiros do trem-fantasma? 
No nosso caso, o governo não parece ter uma estratégia própria. Reage conforme as novidades. Um protecionismozinho aqui, um apelo ali à regulação dos mercados, e mais nada. Ou muito pouco. 
Como na esfera dos escândalos da política, vai reagindo aos fatos, tentando desvencilhar-se deles à medida que aparecem. 
Não que as reações sejam ruins. O Banco Central merece parabéns por ter lá atrás firmado a convicção de que precisava baixar os juros. E baixou, contra a corrente de quem pedia prudência adicional e arriscava repetir o erro de três anos atrás. 
Quando o Brasil perdeu a maior e melhor oportunidade de cortar radicalmente os juros reais, pois a demanda caíra a zero. 
Mas só política monetária não resolve. É pouco. O país precisaria de um novo choque anticíclico, facilitado pela boa situação fiscal. 
Precisaria de uma política para crescer aceleradamente o investimento, com a participação decisiva do Estado, já que o capital privado anda algo medroso. 
E na teoria temos aqui uma bela vantagem sobre o mundo desenvolvido. No Brasil quase tudo ainda está por fazer. Mas essa qualidade é também nosso grave defeito: o Estado brasileiro estruturou-se para não deixar que as coisas aconteçam. 
A crítica não é nova. 
Basta comparar os vencimentos do engenheiro encarregado de tornar a estrada viável e os do promotor cuja missão é impedir que dinheiro público seja dissipado na obra. Não é que o segundo ganhe a mais. É o primeiro que ganha a menos. 
Quem gostava de fazer essa comparação, ou comparações assim, era o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ele segurou a caneta por oito anos e não mudou radicalmente esse quadro. Falou mas não fez. 
O Brasil precisa faz tempo de governos que coloquem o Estado para andar, retirando-o da imobilidade paquidérmica e gulosa. 
Se há maneiras de acender a fagulha numa economia de consumidores endividados e atemorizados, uma bem conhecida é melhorar o efeito multiplicador de cada real investido pelo setor público. 
Há notícias a respeito? Quem souber de alguma, avise. 

EscapandoAs dificuldades econômicas não vêm afetando, por enquanto, a popularidade presidencial, dizem as pesquisas privadas encomendadas para medir como vai Dilma Rousseff. 
Talvez porque ainda não tenha dado tempo. Talvez porque o brasileiro esteja convencido de que a crise é global e o governo faz o melhor que pode. E na comparação com outros países, o Brasil não vai mal. 
Ou uma mistura dessas coisas todas. 
Para que um governante seja politicamente mais afetado por dificuldades da vida material dos cidadãos, é preciso algo além de uma situação difícil. É necessário que pelo menos parte do povo se convença de que o governo está deixando de fazer algo que deveria. 
Não parece ser o caso. 
É um espaço político desocupado, à espera de alguém que se ofereça para o serviço de dizer que Dilma deveria fazer diferente. 
O governo saboreia uma tranquilidade enganosa. Especialmente porque a combinação das frustrações econômicas e políticas (“éticas”) tem perfil explosivo. 

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