sexta-feira, novembro 18, 2011

Depois de Lupi - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 18/11/11

Governos e autoridades públicas em geral dispõem de duas opções em face de denúncias de mau comportamento em seus quintais. Ou defendem quem estiver sendo acusado injustamente ou castigam quem foi apanhado, como se dizia antigamente, com a boca na botija. Pelo menos em tese é assim. Na prática, pode-se dizer, generosamente, nem sempre.

Até ontem, a presidente Dilma Rousseff ainda não decidira o que fazer a respeito das denúncias contra o seu ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT. Ele é acusado de se aproveitar de mordomias oferecidas pela aparentemente próspera ONG Pró-Cerrado, que tem convênios com o seu ministério - o que seria, em tese, comportamento obviamente mais do que inadequado para um membro do Governo.

Note-se que não é preciso que a ONG tenha sido beneficiada pela sua gentileza quando, ao que se diz, emprestou um jatinho para levar o ministro ao Maranhão, dois anos atrás. O empréstimo é negado pela ONG, o que não melhora muito as coisas para Lupi que, até ontem, não explicara de onde saiu o dinheiro para o passeio aéreo. Nos últimos dias, ele se preocupou principalmente com o esforço de ter o apoio do partido no seu esforço desesperado - e considerado inútil pela maioria dos pedetistas - para ser mantido no ministério.

O PDT, que jura não ter financiado o passeio aéreo do ministro, deixou para Lupi a missão difícil e solitária de explicar a mordomia. Na verdade, a cúpula do partido foi além: informou que, se o ministro cair, não pedirá que o ministério seja entregue a outro pedetista. "Temos que mostrar que confiamos na presidente Dilma mesmo sem cargos", disse o presidente em exercício do partido, deputado André Figueiredo. E o deputado Miro Teixeira completou: "Quem disser que o PDT precisa de cargos para apoiar o governo está mentindo."

É uma atitude notável - que, a propósito, desmente os rumores de que o partido estaria pleiteando a substituição de Lupi pelo próprio Figueiredo ou um de dois outros pedetistas. Rumores certamente alimentados pelos mentirosos citados por Miro.

Seja como for, a queda de Lupi, considerada já decidida por quem entende dessas coisas em Brasília, mostrará inevitavelmente se o PDT condiciona ou não a sua fidelidade ao Palácio do Planalto à presença de pedetistas no primeiro escalão do governo.

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