domingo, maio 22, 2011

MÔNICA BERGAMO - anjo mau


anjo mau
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/05/11

Gabriel Braga Nunes, que substituiu Fábio Assunção em "Insensato Coração", volta à Globo após cinco anos na Record e é chamado de malvado por causa do vilão Léo


"Sempre vejo tudo o que você faz, sou sua fã! Mas eu estava torcendo para você vir para a Globo fazer um mocinho e você é mau", diz Arlete Pires, 72, para o ator Gabriel Braga Nunes durante uma pausa das gravações da novela das nove da Globo, "Insensato Coração". Ela, que é mãe de um dos atores coadjuvantes da trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, acompanhava os bastidores da novela no estúdio do Projac, no Rio, na última quarta-feira.

Gabriel, 39, diz à repórter Lígia Mesquita que ouve "umas 38 vezes" por dia as pessoas dizerem "como você é mau!", desde que começou a interpretar o vilão Léo Brandão. E, nos últimos dias, tem sido avisado sobre a aproximação de sua antagonista, Norma, interpretada por Gloria Pires. "As pessoas brincam: "Ela tá chegando, cuidado"." Os comentários, afirma, não atrapalham nunca. "Eu trabalho para provocar ódio. Acho que tem uma identificação gostosa das pessoas com os vilões. Onde pega com o Léo é que ele é um psicopata, não sente culpa. E ao mesmo tempo as pessoas acham ele fofo."

Formado em teatro na Unicamp, ele começou a fazer televisão na Globo na novela "Anjo Mau", mas passou os últimos cinco anos na emissora concorrente, a Record. Lá, estrelou cinco produções -em três delas foi protagonista. Em dezembro, o diretor Dennis Carvalho o convidou para retornar à TV dos Marinho para uma missão de última hora: substituir Fábio Assunção na novela. O ator, que em 2008 foi internado numa clínica de reabilitação por problemas com drogas, já havia começado a gravar suas cenas no folhetim quando pediu para sair. Ele alegou "não ter disponibilidade para cumprir a carga horária" do protagonista.

"Eu já tinha diversos indícios de que esse trabalho seria legal. Um vilão do Gilberto, a direção do Dennis, um personagem do Fábio, que é um dos caras que eu mais admiro pessoal e profissionalmente. Não conhecia ele muito bem, mas no ano passado fizemos um filme juntos ["O País do Desejo", de Paulo Caldas, em que interpretam irmãos]. Enfim, o Léo vinha com vários atestados. Achava que o momento não era ideal porque precisava de umas férias, mas não tive como dizer não." Ao longo da conversa com a coluna, ele elogia diversas vezes autor e diretor. E gesticula, passa a mão nos cabelos e termina frases com "sacou?".

Enquanto almoça um carpaccio com salada verde em um restaurante italiano de Ipanema, explica por que até hoje só assina contrato por obra nas emissoras em que trabalha. "É uma necessidade de controle de cada passo. E me agrada mais a ideia de ser convidado do que ser escalado. É muito difícil fazer uma coisa que você não tá a fim, levar um personagem durante dez meses que não tem a ver com seu momento de vida. Sempre tive receio de contratos longos. O que não significa que eu seja contra. Só significa que, quando eu fizer, ele precisa ser interessante."

Questionado se o assédio aumentou da última trama para a atual, responde com números. ""Poder Paralelo" [da Record] tinha média de 11 pontos [de audiência no Ibope]. E até aqui estamos tendo uma média de 38 [em "Insensato Coração']. Três vezes mais. Tá dito."

"Gostei muito de fazer "Poder Paralelo". Hoje tô numa empresa que está há muitos anos fazendo novela. É difícil dizer isso em termos comparativos de emissora, por isso estou evitando. É uma comparação infeliz, não dá pra botar isso em termos de Globo e Record, sacou? Vai ficar uma coisa tendenciosa. Torço muito e acho que o início da produção de teledramaturgia na Record é muito importante. Foi muito bom pra mim e possivelmente pode ser ainda. E vai ser muito bom pra muita gente." Encerra o debate: "Você está insistindo nessa questão".

Sobre o retorno à Rede Globo, diz: "Posso falar da produção em que estou. É muito estruturada, profissional, tem know-how. Temos poucos imprevistos, os horários são respeitados. Eu funciono com horários, a espera me atrapalha demais. Muitas vezes tenho um mau dia por conta de duas horas de espera". No momento atual, afirma, "acordo de manhã e vou trabalhar feliz".

Um motorista busca o ator paulista no restaurante para o levar ao Projac. No percurso de uma hora, checa e-mails no iPhone e lê notícias. "Olha, um site está dizendo que o Léo vai ser assassinado." Chega ao estúdio às 16h, de calça jeans com alguns rasgos, camisa e All Star brancos, um anel em forma de caveira e uma pulseira de correntes prateadas. Vai para o camarim e sai com o terno do personagem. Passa rapidamente pela maquiagem e aguarda sua vez de entrar em cena. Anda de um lado para o outro e relê rapidamente o texto. "Não preciso de concentração. Sou como um suco de laranja já concentrado e natural."

A paixão pela TV foi algo que, diz, "demorou 15 anos para acontecer" e o levou a deixar o teatro de lado. "Eu era contra a televisão, mas me apaixonei. No ano passado fiz três filmes ["O País do Desejo", "O Homem do Futuro" e "Garibaldi'] e senti falta de TV artisticamente, não tô falando de dinheiro. Gosto de novela, no entanto acho que já estou num lugar em que você precisa pensar bem um personagem, porque hoje tem muita história boba. E novela boba é muito cansativa."

O diretor pede para Gabriel se posicionar, pois o ensaio vai começar. No estúdio estão Gloria Pires, Herson Capri, José de Abreu, Tarcísio Meira, Paola Oliveira e Eriberto Leão, entre outros.

O ator conta que seus maiores conselheiros são os pais, a atriz Regina Braga e o diretor teatral Celso Nunes. "Nem sempre eles acompanham o que faço, não tem essa coisa assim tão família perfeita. Mas gosto de conversar com os dois", fala. "Fiz a peça "À Margem da Vida" com minha mãe e foi um dos momentos fortíssimos como ator. Tivemos uma química impressionante. É uma das maiores químicas de cena que já encontrei na vida [risos]. A outra é a Paloma Duarte, minha ex-namorada. Fiz três novelas com ela e parecia que a gente tava em casa." Os dois terminaram recentemente o relacionamento. Antes de Paloma ele namorou a cantora Danni Carlos, participante do reality show "A Fazenda".

Gabriel vive em um flat no Leblon, no Rio, por conta do trabalho, mas não abre mão de sua casa em São Paulo. "Nos dez anos em que não tive minha base lá fiquei carioca demais [gargalha]."

A invasão de privacidade e a superexposição a que muitos artistas estão sujeitos, principalmente no Rio, não o incomodam. "Não faz parte do meu repertório [pensar em superexposição]. Sou ator! Meu repertório são os trabalhos que tenho. Eu moro na Dias Ferreira [rua cheia de paparazzi]. Preciso te dizer mais? Isso não é um assunto pra mim. Quando você trabalha com comunicação de massa, não pode ter incômodo com superexposição."

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