Ficção não científica
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO 22/05/11
RIO DE JANEIRO - Não é de hoje que proclamo minha total ignorância sobre quase tudo neste mundo de Deus e do Diabo, principalmente sobre política.
Daí que não me surpreendi quando um amigo bem informado, em voz baixa e conspiratória, pintou-me um quadro da atual situação, magnífica peça de ficção não científica.
Com a blindagem do caso Palocci, as turbulências na área dos ministérios da Cultura e da Educação, a ameaça da inflação que começa a fazer estragos, com tal receita de bolo acrescida com problemas de saúde que estão alterando sua proverbial agenda de trabalho, e aconselhada pelo grupo que formou o "PT profundo", a nossa presidente renunciaria ao cargo para o qual foi brilhantemente eleita.
Apelando para a solidariedade do PMDB, da qual o PT está louco para se livrar, o vice-presidente Michel Temer ficaria um ou dois meses no poder, comprometendo-se a convocar eleições para a Presidência, independentemente da Constituição que poderia ser apressadamente mudada, dada a esmagadora maioria que o governo mantém no Congresso.
Ficaria aberta a possibilidade de Lula ser novamente eleito, cumprida a moratória que o impediu de disputar a Presidência pela terceira vez consecutiva. Ou, na absoluta impossibilidade de nova eleição de Lula, apresentar um candidato do "PT profundo" comprometido com os 20 anos do pretendido domínio petista.
Como se vê, tudo é possível tanto na realidade como, principalmente, na ficção. Se dependesse de mim, Dilma estaria vendendo saúde, Palocci provaria tudo o que dele se espera, as áreas da educação sem livros comprometedores, e da cultura sem marolas forjadas ou não. A lei me facultou a abstenção no último pleito eleitoral, mas não me impede de torcer para que tudo dê certo.
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