A cola e a escola
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/03/11
RIO DE JANEIRO - A tentação é grande. Ao receber a incumbência de produzir um texto sobre um assunto xis, o aluno -de qualquer grau, escola ou universidade- vai ao Google, digita-o entre aspas, clica e recebe uma chuva de referências, páginas e até livros inteiros a respeito. Certo ou errado, não importa -está "tudo" ali, ao alcance dos dedos.
E copiar é ainda mais fácil. Pode-se puxar o texto para nosso arquivo sem precisar sequer digitá-lo. Sob o pretexto de fazer "pesquisa", e graças à internet, o plágio se tornou uma prática maciça entre os estudantes brasileiros. Se temos cola, para que escola?
Por sorte, os professores estão aprendendo. Primeiro, eles já não aceitam que determinado aluno, que passou o ano com a cabeça em Shakira ou Lady Gaga, possa de repente citar Cassirer ou Merleau-Ponty em seu trabalho. Para se certificar de que estão diante de um plágio, vão eles próprios ao Google, digitam entre aspas um trecho do trabalho, clicam -e o original completo, de autoria alheia, aparece gloriosamente na tela do monitor.
Outro motivo de suspeita é quando o mesmo trecho, com as mesmas palavras, aparece nos trabalhos de metade da turma, sinal de que foram à mesma fonte ou se copiaram uns aos outros.
É verdade que, no tempo da caneta-tinteiro, da pena de ganso e do mata-borrão, também existiam a preguiça, a cópia e o plágio. Mas o acesso aos livros era menor, havia menos títulos circulando e estes eram conhecidos pelos professores. Era preciso grande descaro para transcrever trechos mais longos.
Às vezes, mandam-me trabalhos escolares sobre a bossa nova, Nelson Rodrigues, Garrincha ou Carmen Miranda. Passo os olhos na esperança de encontrar alguma novidade e, de repente, deparo com páginas que me soam familiares. Vou conferir e descubro, com divertido espanto, que sou o autor delas.
Um comentário:
Ei Ruy, fiz o teste, pesquisei no Google a partir de uma frase do seu post e veio o texto completo. Não tenho dúvidas de que é possível identificar, com um pouco de paciência, a estratégia do crtl+c crtl+v.
Não estou em sala de aula, mas imagino que se os alunos sintetizassem o trecho pesquisado e utilizassem aspas e citação do autor/origem, como num trabalho acadêmico, fossem intelectualmente honestos. Isso exige motivação/interesse em aprender, dá trabalho em ler e se posicionar, ao invés de simplesmente copiar e colar. Eles nem se dão ao trabalho de corrigir possíveis erros de digitação do original ou modificar a formatação.
Acho pertinentes as suas colocações e espero que surjam contrinuições a respeito.
[ ]s.
Marcos Evêncio - Belo Horizonte.
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