Visão do BC
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 21/03/11
No próximo relatório trimestral de inflação o Banco Central deve deixar mais clara sua visão sobre o alcance da política monetária, que é motivo de polêmica hoje no mercado financeiro, pois há quem defenda uma ação mais agressiva por parte das autoridades para conter a alta dos preços. Nesse relatório, o BC enfatizará que mudanças substanciais ocorreram na conjuntura.
No mundo, e no Brasil. E, por isso, a política monetária não pode ser avaliada pelos mesmos modelos de anos atrás. A reação coordenada dos diversos países à crise financeira de 2008/2009 gerou uma considerável liquidez nos mercados internacionais, o que tem provocado uma valorização de mercadorias, bens e moedas.
O Banco Central está atento a esse fenômeno e por isso intervém quase diariamente nos mercados de câmbio, buscando diminuir a volatilidade do real. Diferentemente do que ocorreu nas duas últimas décadas, a valorização do real agora contribui pouco para derrubar a inflação. Por outro lado, uma oscilação mais brusca nas cotações da moeda seria capaz de causar tremendo estrago nas finanças de considerável número de empresas brasileiras, com o risco de detonar uma crise nos moldes de setembro/outubro de 2008.
As reservas cambiais acumuladas pelo Brasil representam menos de 15% do Produto Interno Bruto, percentual inferior ao de outras economias emergentes, como Chile e México (e bem mais baixo que os dois países que formam o Bric, como Rússia, Índia e China). A curto prazo, esse tipo de atuação do BC não deve se alterar.
Às críticas que classificam a atual política monetária como pouco agressiva diante dos riscos de alta da inflação, o BC observa que, das grandes economias, o Brasil foi o primeiro a se mover para segurar os preços. Como o crédito deu um salto nos últimos anos, e já corresponde a 50% do PIB (o que significa que metade da economia brasileira passou a ser financiada), o poder de fogo da política monetária se ampliou também consideravelmente. Qualquer alteração nos juros básicos tem hoje mais efeito sobre a economia do que há dez ou cinco anos. No entanto, modelos usados no mercado parecem ignorar essa mudança, relativamente recente. O mercado é que nem São Tomé. Só acredita vendo. O BC precisará de alguns meses para provar que está certo.
Estive no Japão em 2004, a convite do governo, quando já não havia sinal da destruição causada pelo grande terremoto de 1995, que abalara principalmente a região industrial de Kobe, ao Sul de Tóquio (que quer dizer "capital do Norte"; Kioto, por sua vez, significa "capital do Sul"). O famoso bife de Kobe custava na época cerca de US$ 100 por 150 gramas.
A economia ainda continuava mergulhada em uma "recessão de ouro". Japonesas faziam fila para comprar na Louis Vuitton e em outras lojas de grifes famosas. Mas num parque de Tóquio, perto do estádio olímpico, havia um acampamento de desempregados, os "lonas azuis", morando precariamente em barracas com água, energia elétrica e aquecimento. À noite se podia ver o reflexo das televisões ligadas dentro das barracas.
Já tinha escurecido, e fazia frio, quando vi um senhor (que não me pareceu um mendigo) retirando, do que seria um contêiner de lixo, pequenas caixas individuais com comida pronta. Estaria ali o retrato da crise? Logo fiquei sabendo que as lojas eram obrigadas a jogar fora, a partir das 18h, essas caixas contendo sushis e sashimis. Na verdade, a comida ainda estava própria para consumo, e os contêineres efetivamente não estavam sujos. Algumas pessoas - em dificuldades, porém não miseráveis - tinham esse hábito de apanhar as caixas assim que eram postas nos contêineres.
O Japão só tem 20% do seu território habitáveis. Em Tóquio e no entorno da capital vivem 25 milhões de pessoas. A atividade econômica se concentra num arco ao longo da costa entre Tóquio e Osaka, passando por Nagoia. O Norte e o Nordeste - este mais atingido pelo terremoto e pela tsunami - abrigam menos gente, para os padrões japoneses.
Para recuperar a infraestrutura que foi abalada, o Japão enfrentará desta vez mais obstáculos. Difícil será contornar a escassez de energia, pois o que aconteceu em Fukushima deve restringir o funcionamento de usinas nucleares semelhantes no país.
As obras civis de Angra 3 estão indo bem, com as paredes externas do prédio do reator atingindo uma altura equivalente a oito metros, a partir do solo. Em maio, começarão a ser assentadas, simultaneamente à concretagem, as chapas da contenção de aço do prédio do reator.
Embora Angra 3 esteja nesse ritmo, o ambiente no setor aqui no Brasil é de abatimento, porque o acidente em Fukushima fez ressurgir toda a desconfiança que existia em relação ao uso da energia nuclear. É como se esse trabalho de convencimento da sociedade tivesse voltado à estaca zero (e não adianta repetir que as usinas brasileiras são mais modernas, mais seguras etc., porque o sentimento de insegurança é mais forte.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro em breve escolherá as quatro últimas empresas (ou centros de pesquisas) que ocuparão seu parque tecnológico. Na fila da espera, existem mais de dez candidatos. Há ainda outros terrenos vagos na Ilha do Fundão, mas que não pertencem à UFRJ.
Felizmente uma outra grande área já está sendo oferecida para eventuais interessados do setor de tecnologia. São cinco hectares, com infraestrutura, junto aos laboratórios do Inmetro, em Xerém (Duque de Caxias), que abrigam 160 PhDs. O presidente do Inmetro, professor João Jornada, promete se envolver pessoalmente na instalação desse novo parque tecnológico. Ilha do Fundão, Xerém e Petrópolis poderão formar um "corredor" de centros de pesquisa e atividades de alta tecnologia.
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