quinta-feira, outubro 08, 2009

VINÍCIUS TORRES FREIRE

A Bolsa, Gisele e o Santander


Folha de S. Paulo - 08/10/2009



"Decepção" com papel do banco no primeiro dia diz pouco sobre o negócio, que, porém, reforça a "moda Brasil"

A VENDA de ações do Santander foi muito boa para o banco.
Deixou muito felizes e gordas de comissões as instituições que executaram a operação. No curto prazo, pelo menos, também foi muito boa para a imagem financeira do país. Decerto deu mais gás à "moda Brasil" (será que a voga ou "vogue" Brasil pelo mundo vai durar tanto quanto a de Gisele Bündchen?).
A abertura do capital do banco pode ainda ser vantajosa para os acionistas da BM&FBovespa, que talvez venham a contar com um papel que incrementará o volume de negócios da Bolsa. Mas o maior IPO do mundo, neste ano, foi bom para os acionistas? A megavenda de ações de ontem diz alguma coisa sobre a capacidade de os investidores da Bovespa suportarem outros grandes IPOs, a bom preço? O que será das outras quatro dezenas de IPOs que estariam no forno, segundo a BM&FBovespa, se materializada a sombra das mães de todas ofertas de ações, a da capitalização da Petrobras?
Como de costume, note-se que, se alguém imaginasse ter uma resposta certa sobre o futuro de preço e lucro da ação do Santander, não a forneceria de graça, é claro. Mas a decepção com o preço de fechamento da ação do Santander suscitou o debate.
Houve até piadas com o código da ação na Bovespa, SANB11: "Sambei".
De início, deixe-se de lado a fofoca de quem pretendia fazer algum dinheiro com a alta das ações no primeiro dia, à maneira da febre dos IPOs de 2007. Pode até ser que esses investidores de um dia tenham ajudado a derrubar o preço da ação, que estreou a R$ 23,50 e fechou a R$ 22,62, em queda de 3,74%. Em segundo lugar, a ação do Santander tem apenas algumas horas de vida.
Pode-se especular que alguns investidores tenham ficado de lado, à espera da queda do preço, que sempre foi considerado no limite (a faixa sugerida para o IPO, de R$ 22 a R$ 25, era considerada cara), ainda mais se considerado o volume da operação. O preço relativo do papel (ao lucro) ficaria um pouco superior ao de Itaú e Bradesco. Gente do mercado acreditava, pois, que não haveria tanto dinheiro para elevar ainda mais o preço. Enfim, a Bovespa inteira já está longe de barata.
Mas há analistas que acompanham ações de bancos brasileiros para quem o tamanho da oferta não foi o motivo da "decepção" de ontem. Um deles acredita que muitos investidores brasileiros já estariam satisfeitos com seu volume de aplicações em bancos brasileiros e que tais papéis já subiram demais -seria difícil ver alta atrativa, no curto prazo, para o Santander. Os investidores entrariam "aos poucos" no banco, esperando definições para o uso do dinheiro arrecadado e melhorias no resultado do Santander, que tem perdido a corrida para os grandes bancos daqui. Por isso mesmo, no entanto, o banco teria "gordura" para queimar, além de estar bem posicionado num mercado com boas perspectivas, como o imobiliário, avalia um analista que trabalha para um concorrente do Santander.
A lição mais evidente do IPO é a mais óbvia e batida: especular no curto prazo, sem levar em conta o potencial da empresa, cenário macro e a biruta financeira mundial não é o modo mais prudente de investir em ações. É óbvio, sabido e velho. Mas sempre esquecido.

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