quinta-feira, outubro 08, 2009

CELSO MING

Rali do real


O Estado de S. Paulo - 08/10/2009
O Banco Central (BC) não deixou que mais de US$ 4 bilhões em subscrições de ações do Banco Santander desabassem terça-feira sobre o câmbio. Absorveu os dólares e os incorporou às reservas externas.

Cumpriu, no caso, a política destinada a impedir excessiva volatilidade no câmbio. Mas esse não foi o único recado que essa decisão passou ao mercado. O outro foi o de que os investidores estrangeiros não precisam temer a demasiada valorização do real ante o dólar. Sempre que despacharem dólares para o Brasil, poderão trocá-los por mais reais do que obteriam se o câmbio estivesse todo solto.

A oferta pública de ações do Santander, parte da qual feita em moeda estrangeira, é a primeira de uma série que, logo à frente, terá a capitalização da Petrobrás, a maior da história, que poderá trazer ao País numa só tacada mais de US$ 15 bilhões. Ontem o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, avisou que o impacto da queda desse asteroide no câmbio não é problema da Petrobrás, mas do BC.

Todos os dias, um importante veículo da imprensa internacional diz que a hora e a vez são do Brasil. Tudo se passa como se o investidor internacional estivesse se dando conta de que não pode perder a oportunidade de fazer suas posições no País.

Os bancos brasileiros sentem a pressão dos dólares e a ela se têm antecipado. Ontem o BC informou que os bancos daqui fecharam o mês de setembro com uma posição vendida em dólares no mercado futuro pelo quarto mês consecutivo, desta vez de US$ 3,3 bilhões.

Enfim, é o rali do real, como apontou o preocupado secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. O Brasil está enfrentando as consequências de um problema bom: o fortalecimento da economia, processo que vem desde 1994, ano do Plano Real, a ponto de ter passado incólume pela maior crise global desde os anos 30.

É o que está empurrando os investidores internacionais para ativos em reais, num mercado global inundado de liquidez.

Convém deixar claro que a valorização do real contraria grande número de analistas, os mesmos que temiam as consequências da especulação com juros (arbitragem) ou as consequências da forte exportação de commodities (doença holandesa). Por isso, vinham recomendando os remédios que, sob o atual diagnóstico, seriam errados: baixa unilateral dos juros, confisco sobre exportações de commodities e taxação da entrada de capitais especulativos.

A enxurrada de capitais que vem aí nada tem a ver com arbitragem com juros ou com doença holandesa. Tem a ver com subscrição de capital de empresas sediadas no Brasil e com investimentos de longo prazo.

Como é sabido, o BC vai absorvendo esses jorros de moeda estrangeira. Mas está chegando a hora de perguntar até quando essa operação atenderá aos interesses do Brasil, sob condições barométricas que apontam para inexorável desvalorização do dólar a longo prazo.

Enfim, pode estar próximo o momento em que o Banco Central estará administrando um enorme balaio de micos.

O que fazer para enfrentar esse problema é uma longa conversa que fica para outro dia.

Confira

Falsa escalada - Um pouco da alta é pelo aumento da procura. Mas o mais importante não é o ouro que está subindo em dólares; é o dólar que está valendo menos, a ponto de serem precisos mais dólares para comprar a mesma quantidade de ouro.

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