sexta-feira, novembro 18, 2011

Brasil vai à guerra -ANCELMO GOIS



O GLOBO - 18/11/11

Depois de contratar Zico como seu treinador, a seleção do Iraque articula um amistoso contra o Brasil, em 2012.
Numa dessas, a CBF aceita. Afinal, este ano, o time de Mano Menezes jogou em cada buraco do mapa-múndi que eu vou te contar.

Salário em dracmas
O rubro-negro Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central, não entende a lógica que faria Ronaldinho Gaúcho jogar na Grécia:

— Trocaria um país com economia em expansão (+3%) por outro mergulhado em profunda recessão (-7%). E se a Grécia deixar o euro, nosso craque corre o risco de receber o salário em dracmas.

Air Polícia Federal
O Tribunal de Justiça do Rio encaminha amanhã os bandidos Nem, Coelho e Walquir para o presídio de segurança máxima de Campo Grande, MS.

Muita petulância
Demóstenes Armando Dantas Cruz, um dos advogados presos com o traficante Nem, da Rocinha, concorreu na OAB à vaga de desembargador pelo quinto constitucional.
Teve quatro votos, de um total de 84.

Alô, Guido Mantega!
Dona Inflação está pela hora da morte. O cemitério Jardim da Saudade de Paciência, no Rio, aumentou de R$ 190 para R$ 251 a taxa anual de manutenção cobrada de quem tem túmulo ali.
Um acréscimo de uns 25%.

Velório ao vivo
A empresa SAF (Serviço de Assistência Funeral), de Nova Friburgo, RJ, lançou um novo serviço para seus segurados. Agora, um de seus planos inclui... transmissão do velório ao vivo pela internet, para parentes que não puderem comparecer.

Tesão do Cauby
Inezita Barroso, 86 anos, Cauby Peixoto, 80, e Ângela Maria, 83, vão cantar juntos “Ronda”, de Paulo Vanzolini.
O encontro inédito dos veteranos será dia 29 agora, na festa-show de entrega do Troféu Sexo MPB 2011— Por uma MPB com mais tesão, no Tom Jazz, em São Paulo, promovido pelo pesquisador Rodrigo Faour.

Aparecido, o livro
O Instituto Cravo Albin vai lançar uma biografia de José Aparecido de Oliveira (1929- 2007), o político mineiro, escrita por José Augusto Ribeiro. Esta semana, em Lisboa, foi colhido um depoimento do ex-presidente Mário Soares, que era grande amigo de Aparecido.

Lapa em Paris
Mariana Baltar, a cantora que brilha na Lapa, vai fazer um show dia 17 de dezembro em Troyes, pertinho de Paris.

Viva Ruth!
A Secretaria de Cultura de Eduardo Paes vai homenagear Ruth de Souza, 90 anos, a grande atriz, no Dia da Consciência Negra, domingo agora. Abrirá a exposição “A sacerdotiza da dramaturgia” no Salão Guarani do Teatro Carlos Gomes. Trata-se de retrospectiva da vida de Ruth, com fotos, roupas, objetos pessoais, vídeos etc., já expostos no Museu Afro Brasil, de São Paulo, em maio. Vai até 18 de dezembro.

Grande hotel
O Riocentro, na Barra, no Rio, vai ganhar um hotel com 300 apartamentos para atender a demanda de grandes eventos.

Verão do Tiago
Tiago Abravanel, o neto de Sílvio Santos que brilha como Tim Maia, enche o cofrinho. Foi contratado para fazer um show de tributo a Tim na inauguração do Barzin, o bar que o piloto Cacá Bueno, o ator Bruno de Luca, o rapper Tulio Dek e o músico Di Ferrero (vocalista do NXZero) inauguram em Ipanema, dia 30.

Tyson é fofo
O voo da Continental que pousou ontem ao meio-dia no Galeão-Tom Jobim, procedente de Houston, Texas, trouxe a bordo o ex-lutador Mike Tyson. O fortão não enfrentou a vala comum da burocracia da imigração. Foi levado a uma salinha da Polícia Federal. Mas, na hora de pegar as malas, juntou-se ao povo na esteira e deu autógrafos.

Os 'Gattopardi' - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE


O ESTADÃO - 18/11/11


Don Fabrizio, príncipe de Salina, é um homem atormentado por suas memórias. Refém de um mundo em transformação, assiste à derrocada da aristocracia sem nenhuma vontade de remediá-la. Sábio e covarde em igual medida, o protagonista de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, imortalizado por Burt Lancaster na obra-prima de Luchino Visconti, é um fatalista. Um fatalista erudito e elegante. Talvez seja isso o que falte aos líderes mundiais: a erudição e a elegância. O empobrecimento dos países maduros, necessário para corrigir os excessos dos anos pré-crise, não deixaria de ser doloroso, mas ao menos dar-se-ia com mais dignidade.

Os países maduros, como Don Fabrizio, assistem a sua própria decadência. A crise aguda bancária, seguida da doença crônica fiscal, entra agora na sua terceira e mais perigosa fase: a da convulsão política, corolário do empobrecimento. Nos EUA, há as hostilidades mal disfarçadas entre republicanos e democratas e o prenúncio de um novo impasse na discussão dos ajustes fiscais para restaurar a higidez fiscal, agora nas mãos do comitê bipartidário instituído em agosto, após a desastrosa discussão sobre a elevação do teto da dívida. Candidatos à presidência inexpressivos, incluindo o ex-eloquente incumbente. Disfuncionalidade política não combina com recuperação econômica.

Na Europa é ainda pior. Numa iniciativa indecorosa e assustadora, a aliança franco-germânica resolveu suspender os processos políticos usuais - a democracia - depois de julgar que estavam ameaçando a moeda única. Interferiram diretamente na soberania de dois países e demoveram seus líderes, que, por pior que fossem, haviam sido eleitos democraticamente. George Papandreou e Silvio Berlusconi foram substituídos por Lucas Papademos, na Grécia, e por Mario Monti, na Itália, ambos com credenciais impecáveis - como economistas. Não têm legitimidade política em seus respectivos países, mas têm a confiança dos demais líderes europeus. O gesto deixa claro como pensam Angela Merkel e Nicolas Sarkozy. Não são como Don Fabrizio, que, ao ser convidado para ser senador da nova Itália unificada, recusa, afirmando que "é desprovido de ilusões e da capacidade de enganar a si mesmo". Ao contrário, são como o pérfido novo rico Calogero Sèdara, que retruca: "Também não tenho ilusões, mas sou esperto o bastante para criá-las". É isso o que fazem hoje os líderes europeus. Criam ilusão em cima de ilusão de que estão a resolver a crise. E, neste processo, interferem nas boas práticas da governança global.

O que isso significa para as instituições globais, para a economia mundial, sobretudo quando a grande força emergente no palco internacional é um país de incontestável viés autoritário, a China? Essas perguntas não são meramente filosóficas. Afinal, qual o líder mundial hoje que não gostaria de ser chinês? São as escolhas atuais que determinarão a condução da política econômica neste mundo onde os arroubos de imprudência são travestidos de ousadia.

Em muitos aspectos, o Brasil continua bem melhor do que o resto do mundo. A economia está se desacelerando, mas o País ainda deverá exibir uma taxa saudável de crescimento este ano, em meio a tanto desalento mundo afora. A inflação é e continuará a ser um problema, mas são muitos os países que desejariam tê-la, ainda que não o admitam, para sanar os seus problemas de endividamento.

Na política, corrupção, clientelismo e indecência não são atributos brasileiros. Silvio Berlusconi está aí para comprovar que alguns italianos fazem "tão bem", ou "melhor", do que os brasileiros.

Onde, então, está a nossa semelhança com os Gattopardi globais, esses líderes que não conseguem fazer mais do que contemplar a sua própria decadência? Talvez na frase mais famosa do livro, proferida pelo sobrinho de Don Fabrizio, quando insiste em que, "para nada mudar, é preciso que tudo mude". Parece que, ao menos na política econômica, a máxima é verdadeira. E, de quebra, nos garante um lugar de destaque entre os Gattopardi do futuro.

À espera - ALON FEUERWERKER



CORREIO BRAZILIENSE - 18/11/11


Na teoria temos uma bela vantagem sobre o mundo desenvolvido. Aqui quase tudo ainda está por fazer. Mas essa qualidade é também nosso grave defeito: o Estado brasileiro estruturou-se para não deixar que as coisas aconteçam



A prévia do PIB divulgada ontem pelo Banco Central registrou recuo de 0,32% no trimestre de julho a setembro. O número final dirá quanto, mas sabe-se desde já que a economia brasileira andou para trás. 
O governo espera que o fim do ano traga boas notícias, salvando o período gregoriano. Mas o acumulado dos 12 meses terminados em dezembro terá carregado a inércia do ótimo 2010, fazendo concluir que 2011 foi um ano perdido. 
Eis por que um número razoável no total de 2011 não terá como resolver o problema prático. Na medição instantânea, a economia brasileira está parando. O tranco é menos agudo que em 2008/09, mas a gravidade é maior. 
Se três anos atrás a crise era de crédito, enfrentável portanto com medidas monetárias, a de agora parece bem mais complicada. 
As taxas mundiais de juros estão no chão, sem que isso faça destravar a engrenagem. A cada momento em que a locomotiva ensaia ganhar velocidade, aparece um novo problema e a aceleração se frustra. 
Agora é a Europa, com sua dívida descontrolada e seus bancos pressionados. Qual será a próxima surpresa, a próxima casinha a se abrir e exibir uma imagem assustadora aos passageiros do trem-fantasma? 
No nosso caso, o governo não parece ter uma estratégia própria. Reage conforme as novidades. Um protecionismozinho aqui, um apelo ali à regulação dos mercados, e mais nada. Ou muito pouco. 
Como na esfera dos escândalos da política, vai reagindo aos fatos, tentando desvencilhar-se deles à medida que aparecem. 
Não que as reações sejam ruins. O Banco Central merece parabéns por ter lá atrás firmado a convicção de que precisava baixar os juros. E baixou, contra a corrente de quem pedia prudência adicional e arriscava repetir o erro de três anos atrás. 
Quando o Brasil perdeu a maior e melhor oportunidade de cortar radicalmente os juros reais, pois a demanda caíra a zero. 
Mas só política monetária não resolve. É pouco. O país precisaria de um novo choque anticíclico, facilitado pela boa situação fiscal. 
Precisaria de uma política para crescer aceleradamente o investimento, com a participação decisiva do Estado, já que o capital privado anda algo medroso. 
E na teoria temos aqui uma bela vantagem sobre o mundo desenvolvido. No Brasil quase tudo ainda está por fazer. Mas essa qualidade é também nosso grave defeito: o Estado brasileiro estruturou-se para não deixar que as coisas aconteçam. 
A crítica não é nova. 
Basta comparar os vencimentos do engenheiro encarregado de tornar a estrada viável e os do promotor cuja missão é impedir que dinheiro público seja dissipado na obra. Não é que o segundo ganhe a mais. É o primeiro que ganha a menos. 
Quem gostava de fazer essa comparação, ou comparações assim, era o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ele segurou a caneta por oito anos e não mudou radicalmente esse quadro. Falou mas não fez. 
O Brasil precisa faz tempo de governos que coloquem o Estado para andar, retirando-o da imobilidade paquidérmica e gulosa. 
Se há maneiras de acender a fagulha numa economia de consumidores endividados e atemorizados, uma bem conhecida é melhorar o efeito multiplicador de cada real investido pelo setor público. 
Há notícias a respeito? Quem souber de alguma, avise. 

EscapandoAs dificuldades econômicas não vêm afetando, por enquanto, a popularidade presidencial, dizem as pesquisas privadas encomendadas para medir como vai Dilma Rousseff. 
Talvez porque ainda não tenha dado tempo. Talvez porque o brasileiro esteja convencido de que a crise é global e o governo faz o melhor que pode. E na comparação com outros países, o Brasil não vai mal. 
Ou uma mistura dessas coisas todas. 
Para que um governante seja politicamente mais afetado por dificuldades da vida material dos cidadãos, é preciso algo além de uma situação difícil. É necessário que pelo menos parte do povo se convença de que o governo está deixando de fazer algo que deveria. 
Não parece ser o caso. 
É um espaço político desocupado, à espera de alguém que se ofereça para o serviço de dizer que Dilma deveria fazer diferente. 
O governo saboreia uma tranquilidade enganosa. Especialmente porque a combinação das frustrações econômicas e políticas (“éticas”) tem perfil explosivo. 

Por que nossas firmas não inovam? - NAERCIO MENEZES FILHO


VALOR ECONÔMICO - 18/11/11

Um dos principais meios para aumentar o crescimento econômico de forma consistente ao longo de vários anos é por meio do crescimento da produtividade. Quando a produtividade cresce, o país produz mais com o mesmo nível de capital e trabalho, e assim sua renda per capita cresce mais rapidamente. Um dos principais problemas do Brasil nas últimas décadas tem sido o baixo crescimento da produtividade, que decorre, em grande parte, da baixa taxa de inovações das firmas brasileiras, apesar da existência de uma série de incentivos. Por que as firmas brasileiras resistem tanto a inovar?

O nosso problema com a produtividade vem de longa data. Pesquisas indicam que a produtividade agregada da economia brasileira vem caminhando a passos lentos desde meados da década de 70. Mais recentemente, entre 1995 e 2005, enquanto a produtividade no mundo avançava a uma taxa de 1% ao ano (mesma dos Estados Unidos) e 1,5% na China, no Brasil ela declinava 0,3% ao ano. Entre 2005 e 2008, o crescimento anual médio da produtividade foi de 4,1% na China e 2,3% na Índia, enquanto no Brasil ela declinou 0,8%. Há algo de errado por aqui.

Existência de fortes barreiras à competição faz com que empresas ineficientes operem na economia

Com relação às inovações, os dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE (Pintec) mostram que a parcela de firmas inovadoras na indústria cresceu apenas 6,5 pontos percentuais nos últimos 10 anos, passando de 32% no período entre 1998 e 2000 para 38% entre 2006 a 2008. Pior ainda, a porcentagem de empresas do setor industrial que investem em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para gerar novas ideias e produtos, passou de 10% em 2000 para apenas 4,2% em 2008.

VALOR ECONÔMICO - 18/11/11

O mais surpreendente é que nós temos no Brasil um conjunto de leis que se destinam especificamente a financiar a inovação. Tanto a Finep como o BNDES tem vários programas para fomentar a inovação, subsidiando atividades de P&D, inclusive com recursos não reembolsáveis (a fundo perdido). Além disso, o governo federal tem introduzido várias leis nos últimos anos para tentar aumentar as inovações, sem nenhum efeito substantivo. Afinal, por que as empresas brasileiras resistem tanto a inovar?

Parece que no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, não é necessário inovar para sobreviver e crescer. Existem no Brasil fortes barreiras à competição, que fazem com que empresas ineficientes operem em todos os setores da economia. A falta de competição advém da dificuldade de abrir novas firmas e de obtenção de crédito barato para expansão das pequenas empresas existentes. Essas dificuldades são agravadas pelas políticas de favorecimento às grandes empresas, predominante no atual governo. O país protege e subsidia setores que precisariam de mais competição. O recente aumento do IPI para os veículos importados é um exemplo claro de política econômica equivocada nessa linha. Para as empresas que poderiam inovar, é muito mais fácil (e menos arriscado) gastar recursos para obter favores do governo (lobby) do que investir em P&D.

O outro fator que limita as inovações é a baixa qualificação da nossa mão de obra. A figura ao lado, por exemplo, mostra a relação entre a nota de matemática no Pisa (exame internacional realizado pela OCDE em 2009 com alunos de 15 anos de idade) e o número de aplicações internacionais para patentes na "World Intellectual Property Organization" (Wipo) para alguns países. A relação é bastante clara. Países como a Finlândia e Coreia do Sul têm sistemas educacionais de alto nível e, portanto, facilidade para lançar novos produtos e desenvolver novas ideias. Portanto, têm uma alta taxa de patentes. Por outro lado, países como o Brasil, Argentina, Colômbia e Peru estão na situação oposta.

Em suma, apesar das perspectivas sombrias pela frente, os Estados Unidos tiveram um crescimento de produtividade invejável nas últimas décadas, com lançamento constante de novos produtos, cujo maior ícone foi Steve Jobs. Enquanto isso, por aqui proliferam políticas anticompetitivas, com favorecimento a grupos específicos e empresas gastando recursos com lobby para entrarem no clube. Tudo isto é agravado por uma deficiência crônica de mão de obra qualificada. Por isso as empresas brasileiras não inovam.


Naercio Menezes Filho, professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, é professor associado da FEA-USP

GOSTOSA


Enredo policial - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 18/11/11

BRASÍLIA - Estamos no final do ano, os escândalos são muitos, as mentiras se multiplicam e, talvez por isso, o escândalo do banco PanAmericano desliza sorrateiramente para um segundo plano. Não devia.
É a típica história que envolve política, economia, maracutaias, protagonistas poderosos e capítulos picantes, mas é sempre mal contada.
O PanAmericano era do empresário Silvio Santos, quase quebrou em 2010 sob o peso de um rombo de
R$ 4,3 bilhões e acabou sendo milagrosamente salvo numa parceria do BTG Pactual e da Caixa Econômica Federal, banco público que despejou R$ 740 milhões para levar 36% do mico, ops, do negócio.
O então presidente Lula andava ocupadíssimo com a campanha da companheira Dilma, mas arranjou uma brecha na agenda para conversar com SS bem no meio da confusão do PanAmericano.
Jamais se soube, como provavelmente jamais se saberá, o que o presidente da República e o dono do banco trataram, como jamais se soube, mas talvez se possa saber um dia, por que a CEF foi se meter numa furada dessas. A chave pode estar na dupla militância de SS, que é também, e principalmente, dono do SBT.
Parecia tudo resolvido, mas algo saiu do script: a Polícia Federal decidiu escarafunchar o PanAmericano e nove pessoas acabaram indiciadas, inclusive o seu ex-presidente Rafael Palladino.
E tem mais: o pior de tudo é que o PanAmericano estava morrendo, recebeu a injeção levanta-defunto e... continua agonizando. O Banco Central exige que instituições financeiras tenham um mínimo de 11% de capital próprio para fazer operações de crédito. E o banco do BTG e da Caixa, que já foi do SS, passa raspando. Precisa de um aporte pesado para ser novamente salvo. Quem vai se responsabilizar dessa vez? E por quê?
Como há interrogações de mais e respostas de menos, essa novela ainda deve ir longe. Sem final feliz.

Depois de Lupi - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 18/11/11

Governos e autoridades públicas em geral dispõem de duas opções em face de denúncias de mau comportamento em seus quintais. Ou defendem quem estiver sendo acusado injustamente ou castigam quem foi apanhado, como se dizia antigamente, com a boca na botija. Pelo menos em tese é assim. Na prática, pode-se dizer, generosamente, nem sempre.

Até ontem, a presidente Dilma Rousseff ainda não decidira o que fazer a respeito das denúncias contra o seu ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT. Ele é acusado de se aproveitar de mordomias oferecidas pela aparentemente próspera ONG Pró-Cerrado, que tem convênios com o seu ministério - o que seria, em tese, comportamento obviamente mais do que inadequado para um membro do Governo.

Note-se que não é preciso que a ONG tenha sido beneficiada pela sua gentileza quando, ao que se diz, emprestou um jatinho para levar o ministro ao Maranhão, dois anos atrás. O empréstimo é negado pela ONG, o que não melhora muito as coisas para Lupi que, até ontem, não explicara de onde saiu o dinheiro para o passeio aéreo. Nos últimos dias, ele se preocupou principalmente com o esforço de ter o apoio do partido no seu esforço desesperado - e considerado inútil pela maioria dos pedetistas - para ser mantido no ministério.

O PDT, que jura não ter financiado o passeio aéreo do ministro, deixou para Lupi a missão difícil e solitária de explicar a mordomia. Na verdade, a cúpula do partido foi além: informou que, se o ministro cair, não pedirá que o ministério seja entregue a outro pedetista. "Temos que mostrar que confiamos na presidente Dilma mesmo sem cargos", disse o presidente em exercício do partido, deputado André Figueiredo. E o deputado Miro Teixeira completou: "Quem disser que o PDT precisa de cargos para apoiar o governo está mentindo."

É uma atitude notável - que, a propósito, desmente os rumores de que o partido estaria pleiteando a substituição de Lupi pelo próprio Figueiredo ou um de dois outros pedetistas. Rumores certamente alimentados pelos mentirosos citados por Miro.

Seja como for, a queda de Lupi, considerada já decidida por quem entende dessas coisas em Brasília, mostrará inevitavelmente se o PDT condiciona ou não a sua fidelidade ao Palácio do Planalto à presença de pedetistas no primeiro escalão do governo.

Cafajestice em crise - BARBARA GANCIA


FOLHA DE SP - 18/11/11

Digamos que Dilma e Merkel não sejam adeptas do bunga-bunga por falta de tempo ou incentivo das amigas
Não sei se estou preparada pa­ra viver em um mundo sem cafajestes. Primeiro leva­ram embora o brincalhão Idi Amin, depois foi a vez do erudito Bokassa. João Figueiredo, pobre homem, te­ve aquela hérnia horrorosa de tanto confraternizar no lombo de seus pares equinos. Depois veio o pro­blema no coração e ele foi tragica­mente nocauteado.

Mais recentemente vimos o que aconteceu com Saddam, outro ho­mem finíssimo que acabou isolado, sem nem mesmo um barbeiro para acudi-lo quando mais precisava. Logo na sequência acompanha­mos, ou melhor, não acompanha­mos coisíssima nenhuma (mesmo porque, ele tem as dimensões de um garçom de festa de criança e su­miu da nossa vista) o que aconteceu com Kim Jong-il. Alguém sabe de­le?

Houve também o probleminha da sodomização por lâmina de faca so­frida por Kaddafi (se você conse­guiu decifrar do que se trata, escre­va para mim expli­cando e eu lhe enviarei um picolé de limão pelo correio como forma de agradecimento).

Hugo Chávez também estrepou-se. Agora passa na base da sopinha de barbatana de tubarão e já não atazana mais os vizinhos. Agora veio mais um para completar o quadro.

"Nel blu dipinto di blu", o grande Sil­vião, rei do bronzeamento artifi­cial, campeão do implante capilar, paladino do jaquetamento dentá­rio e do remodelamento maxilar, rei da pamonha e do botox, ganha­dor do salto com vara na Olimpía­da Sexy Hot, em Oslo, 1958, hexa­campeão mundial de bunga-bun­ga, tendo batido Casanova, Hugh Hefner, Alexandre Frota, Rita Ca­dillac e Angela Bismarchi em um mesmo torneio marcado por histó­rica final contra Ron Jeremy em combinado que incluiu partidas de bridge, palitinho, dominó e sessão de fotos para o site Paparazzi com as garotas russas de programa "Pâ­nico", digo, garotas do programa russo que nem mesmo russas eram, olha, é duro, viu? E eu preciso respirar.

Não estou acostumada a viver em um mundo governado por mulhe­res que não gostam de vida notur­na. Dilmão e Angelão, alemã de temperamento constante e sem grandes sobressaltos, são muito no­vela das oito. Não consigo ver uma ou outra mantendo escravos se­xuais, se entretendo em um bun­ga-bunga interminável regado a dry martinis e pupilas dilatadas ou determinando que seus ajudantes de ordens andem por aí colhendo números de telefone de menores de idade para servirem de possíveis presas.

Você pode alegar que as doces se­nhoras não fazem esse tipo de coisa por falta de tempo, hormônios ou incentivo das amigas. Mas eu des­confio que esse negócio de bunga-bunga só possa ser praticado quan­do se tem em mãos um kit basicão composto por Viagra/uísque/co­caína e que raramente prescinde de um quarto elemento, a cafajestice.

Sem aquela camisa branca para fora da calça jeans, sem seus mo­cassins desprovidos de meias em pleno verão sardo, sem aquele ím­peto de cantar standards interrom­pendo o jantar de garotas cuja apo­sentadoria ele garante, o que é de Silvio Berlusconi?

Agora vem uns tipinhos com mo­dos de moça e discurso de técnico da NET para mandar na Itália. Sei. Enquanto tudo é novidade, a gente finge que acredita que eles sabem separar a hora do expediente do bunga-bunga. Até a próxima crise de credibilidade. "Nel blu dipinto di blu". Cada um segurando o seu pin­cel.

Sobreviveu? - ILIMAR FRANCO



O GLOBO - 18/11/11

O ministro Carlos Lupi (Trabalho) vai continuar sangrando, mas o depoimento no Senado garantiu sua sobrevivência temporária. No Planalto avaliava-se ontem: "Não falou besteira"; "Foi mais do mesmo"; e "Ele conseguiu escapar do crime de responsabilidade". A situação continua não sendo confortável para a presidente Dilma. O noticiário negativo a incomoda. Mas ela está contida porque não gostaria da demissão de mais um ministro

Autoflagelo, caras e bocas no Senado
Ao defender que o ministro Carlos Lupi deixe o cargo, em depoimento ontem, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que sua preocupação era que ele saísse menor do que entrou. "Pode ser um trauma de quem saiu demitido por telefone, o que talvez seja a forma mais grave de sair menor, salvo sair por corrupção", disse ele, citando sua própria demissão do MEC, no governo Lula. Mais adiante, enquanto a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) desancava Lupi por causa da briga que culminou com a saída das entidades patronais do Codefat, o ministro ria e fazia cara de deboche. Já quando, na resposta, ele elogiava a história de vida da senadora, Kátia torcia a boca e revirava os olhos.

"Eu ajudei a vender jornal. Agora continuo ajudando, né?” — Carlos Lupi, ministro do Trabalho, provocando risos, sobre seu passado de jornaleiro e as atuais manchetes da imprensa com denúncias contra ele

NA EUROLÂNDIA. A disputa política entre o PSD e o DEM atravessou o Atlântico. Nos últimos 30 dias, o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), e o presidente da Fundação Liberdade e Cidadania, José Carlos Aleluia, viajaram à Alemanha, à Espanha e à Inglaterra para assegurar a interlocução do DEM com a Internacional Democrata de Centro. Ocorre que o prefeito Gilberto Kassab, fundador do PSD, está fazendo gestões para que seu partido ingresse na organização.

Se colar, colou
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) reuniu-se ontem com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Falaram da DRU. A ideia é apensar o aprovado na Câmara ao já em tramitação no Senado para ganhar tempo.

Pé na estrada
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) está tratando de consolidar seu lugar na dianteira da fila de candidatos do PSDB à Presidência da República. Nesta semana esteve em Porto Alegre e, em dezembro, irá a Recife (8) e Salvador (9).

Barraco trabalhista
O deputado Brizola Neto (PDT-RJ) não quer nem ouvir falar na possibilidade de o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) assumir o Ministério do Trabalho, no caso da queda de Carlos Lupi. O ressentimento vem de longe. A família Brizola não perdoa Vieira, que em 2004 era presidente da Assembleia do Rio Grande do Sul, por ter sido colocada de lado no velório do ex-governador do Rio. Brizola Neto também é cotado para assumir a pasta.

De volta ao passado
Contestando informação publicada aqui, o ex-presidente do BC Gustavo Franco escreve: "Portugal, Itália e Espanha compraram dívida brasileira em 1998. Contribuições pequenas, mas importantes como gestos de simpatia com o Brasil."

Uma Dilma tucana
No encontro nacional de mulheres do PSDB, que ocorre em Brasília, o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), fez um desafio aos militantes: eleger mil mulheres tucanas vereadoras ou prefeitas nas eleições do ano que vem.

NENHUM senador do PT defendeu o ministro Carlos Lupi (Trabalho). Apenas os líderes do PDT, Acyr Gurgacz (RO), e do PCdoB, Inácio Arruda (CE), ressentido com a demissão de Orlando Silva.

ESCORREGADA. Mesmo dizendo que estava tentando segurar seu "sangue italiano", o ministro Carlos Lupi, ao ser interpelado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), chamou-o de "meu irmão".

O PPS também pode abandonar o PSDB em 2014. Cresce no partido os que defendem o lançamento de uma candidatura própria à Presidência.

As notas em risco - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 18/11/11

É excelente a notícia de que o Brasil teve outra promoção na mais conhecida das listas de classificação de risco. O Brasil merece porque ao longo dos anos melhorou os indicadores, porém as agências, como se sabe, erram muito. Tanto que a Itália com sua dívida mamútica continua à frente do Brasil, e a França tem a melhor nota do mundo apesar de estar sendo olhada com desconfiança.

Promover o Brasil faz sentido, manter o triplo A da França não faz sentido. Considerar que a Itália é A, três degraus à frente do Brasil, é um espanto.

A Itália tem 120% de dívida/PIB e ela continuará crescendo nos próximos anos. O Brasil tem quase a metade disso e tem grande chance de reduzir a dívida. Só ontem o Brasil passou Portugal e continua atrás da Irlanda e os dois países foram resgatados recentemente pela Comissão Europeia e pelo FMI.

O Brasil em abril de 2008 foi considerado grau de investimento pela Standard & Poor’s, desde então foi promovido apenas ontem. Era BB+, foi para BBB-, e ontem, para BBB. Mas o país passou relativamente bem pela crise de 2008. O Brasil teve uma forte queda de crescimento, a dívida subiu de 65% para 68% do PIB, mas depois retomou a trajetória de queda e está agora em 64%, segundo dados do FMI. Os países grandes que têm nota máxima ou notas bem acima do Brasil tiveram uma forte deterioração fiscal nos últimos anos (vejam no gráfico abaixo).

A dívida brasileira não é tão baixa quanto o governo diz. Aqui, é usada o conceito de dívida líquida, que desconta da dívida as reservas cambiais. Mas a S&P usa um conceito próprio de dívida bruta, que dá 55%.

De qualquer maneira a contradição maior vem da comparação com outros países que estão na nossa frente.

Há inúmeros países pequenos que têm nota melhor do que a do Brasil, como Botswana, por exemplo, mas o que as agências medem é a capacidade de pagamento da dívida. Nem é exatamente o tamanho da dívida.

Por isso, houve tanta controvérsia quando a S&P rebaixou os Estados Unidos de AAA para AA. A dívida americana é alta e estava no meio do debate no Congresso sobre elevar ou não o teto do endividamento do país. Mesmo assim, os investidores continuaram e continuam correndo para títulos do Tesouro americano a cada momento que há uma dúvida em relação a qualquer parte da economia mundial. Ou seja, o mercado continua disposto a financiar o governo americano.

Assustada com o impacto da notícia do rebaixamento dos EUA, a S&P não usou o mesmo critério para a França, que continua com o triplo A, apesar dos indicadores franceses terem se deteriorado.

Ontem o seguro contra o risco de calote da França cresceu para 236 pontos-base. Isso significa que quem tem US$ 10 milhões emprestados à França teria que pagar 236 mil euros por ano. Isso é outra medida de risco, mais nervosa e mais concreta porque significa o que o mercado está exigindo no momento.

Não são relacionados, mas quando se vê esse movimento no mercado fica claro que não se pode dizer que a França é um país sem risco. E é isso que quer dizer o triplo A. O curioso é que dias atrás a Standard & Poor’s soltou uma informação de que havia tirado um A da França. E em seguida ela disse que fora um erro. Nunca explicou como é mesmo que acontece uma coisa dessas. É no mínimo irônico.

A melhora na nota do Brasil vem tarde porque passamos de forma mais sólida pela crise do que vários outros países. Grandes economias pioraram muito. A cartela de notas das agências já não conversa com a realidade.

Olhando para o Brasil - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS


FOLHA DE SP - 18/11/11

Vou deixar de lado a crise europeia -cada vez pior e mais difícil de ser resolvida- e voltar minha atenção para a economia brasileira neste final de ano. Os sinais de desaceleração são cada vez mais evidentes, como mostra a estimativa do PIB mensal para setembro divulgada ontem pelo Banco Central.
Nas estimativas da equipe da Quest Investimentos, entre julho e setembro deste ano a economia contraiu-se à taxa de 0,1% em relação ao trimestre anterior e cresceu à taxa de apenas 2,2% em relação ao terceiro trimestre de 2010.
Com esses números, a Quest prevê crescimento de 2,8% para o ano fechado de 2011. Para 2012, as projeções apontam para crescimento da ordem de 3,2% a 3,5%, pouco acima da média histórica de 3,1% dos últimos 20 anos, mas inferior à dos últimos dez anos, de 3,6%.
Esses números são bem mais modestos do que as taxas de expansão entre 2004 e 2008, quando o Brasil cresceu à taxa média de 4,8% ao ano. Mas a presidente Dilma precisa entender que repetir o crescimento desse período de ouro do governo Lula será missão impossível no seu mandato por motivos objetivos que listo a seguir.
No final do primeiro mandato de Lula e nos dois primeiros anos do segundo, antes de a crise financeira nos EUA chegar ao Brasil, a economia brasileira crescia a taxas elevadas, influenciada por várias forças temporárias, criadas a partir da conversão de Lula à política econômica de seu antecessor, em 2003.
Quando o mercado entendeu que não haveria mudança de rumo na economia, o real recuperou seu valor anterior às eleições de 2002, provocando deflação importante no segmento de preços influenciados pelo câmbio. Isso permitiu ao Banco Central reduzir os juros elevadíssimos de então e estimular o consumo das famílias e o investimento privado via crescimento do crédito a taxas que chegaram a 30% ao ano.
Essas forças de expansão foram reforçadas a partir de 2004 com a política de ganhos reais elevados na fixação do salário mínimo. A massa salarial passou a crescer a taxas de mais de 6% ao ano pelo aumento do emprego e dos salários.
Alavancados pela expansão do crédito, os consumidores foram às compras, principalmente de bens duráveis, fazendo com que as vendas no varejo crescessem a taxas de dois dígitos altos. Com isso, o crescimento do PIB nos anos seguintes conseguiu superar largamente os 3% ao ano que parecia ser o limite a que estávamos condenados.
Mas essas forças que ajudaram o presidente Lula a romper limites históricos passaram a perder intensidade no final de seu mandato. E o governo Dilma, sem o auxilio delas, está enfrentando os mesmos limites que prevalecem há muitos anos na economia brasileira.
O principal deles continua sendo as baixas taxas de investimento -públicos e privados-, que são insuficientes para permitir um crescimento econômico mais vigoroso. No período Lula, essa limitação foi em parte contornada pela existência de capacidade ociosa em setores-chave da economia, inclusive no mercado de trabalho.
Hoje, vivemos uma situação oposta, com grandes gargalos que impedem um nível de atividade maior ou, ao estimular as importações devido aos custos crescentes no setor produtivo, desviam demanda interna para o exterior.
Para superar essas limitações, o governo teria de adotar uma agenda diversa da estabelecida por Lula ao longo de seu mandato e mantida quase intocada por Dilma. Entre seus pontos principais estariam a redução expressiva dos gastos de consumo e de transferências de natureza social do governo, abrindo espaço para o aumento dos investimentos, e a implementação de uma agressiva política de transferência da operação de serviços públicos para o setor privado.
Mas não parece ser esse o caminho a ser trilhado pelo governo, e a tentativa de acelerar novamente o crescimento virá certamente de estímulos ao crédito, tanto via bancos privados como públicos, bem como pela expansão de gastos correntes no Orçamento. Mas como os obstáculos para que isso possa ocorrer são estruturais, o resultado final desse esforço será muito limitado.

Os meios e as mensagens - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 18/11/11

Na adolescência fui um leitor apaixonado de ficção científica, viajava para cidades futurísticas em astronaves interplanetárias com armas mortíferas, o radinho de pulso do Dick Tracy era o máximo da tecnologia, só depois viria o telefone com imagem dos Jetsons. Mas nunca li ou ouvi falar de nenhuma fantasia semelhante a uma caixinha chata com uma tela, um teclado e uma câmera, em que se falava com qualquer um no mundo inteiro, de graça, e ainda se via filmes, fotos e quadros, se ouvia a música que se quisesse, se lia e se dava opinião sobre tudo, se comprava o que o seu crédito suportasse. Seria absolutamente inverossímil e risível, sem nenhuma base científica, nem um adolescente idiota do final dos anos 50 acreditaria.

Na juventude distante fui um leitor entusiasmado de pensadores anarquistas, Bakunin, Proudhom, sonhando com um império da liberdade e da responsabilidade individual, com o fim do Estado como pai, mãe, patrão, ou religião. Para Proudhom, ser governado era "ser observado, fiscalizado, controlado, numerado, doutrinado, avaliado, punido, autorizado, taxado, explorado, corrigido, licenciado, comandado - sob o pretexto da utilidade pública - por criaturas que não têm o direito, nem a sabedoria e nem a virtude para isto".

Ainda vale o escrito, mas o que Proudhom pensaria no mundo da internet, com sua liberdade sem limites e sem controles do Estado, de monopólios ou burocracias partidárias? Os velhos anarquistas aposentariam as bombas e alistariam hackers libertários?

E Marx? E Freud? E Jung? Que teorias teriam desenvolvido em um mundo com essas liberdades e possibilidades, com o planeta todo interligado e interagindo, sem intermediários, como nem a mais delirante ficção científica ousou oferecer? O que escreveriam Machado de Assis, Eça de Queiroz e Proust com um Google? Que filmes o adolescente Glauber Rocha faria com uma câmera de celular? O que Camões, nas caravelas com seu laptop, postaria em seu blog Lusíadas.com, hospedado em uma nuvem à prova de naufrágio? Que Ilíadas e Odisseias Homero digitaria em seu tablete roubado dos deuses do Olimpo?

A nota do Brasil e as três irmãs - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 18/11/11


O CRÉDITO do Brasil melhorou, avalia uma dessas agências de classificação, a S&P. Tais empresas são uma espécie de "serviço de proteção ao crédito". Avaliam se países, empresas, instituições financeiras e negócios vários são risco bons: se são capazes de pagar o que devem.
A S&P é uma das três maiores do ramo, ao lado de Moody's e Fitch. As notas que dão ainda são levadas a sério, na prática, pois contratos e leis podem impedir que se invista em tal negócio ou dívida de país caso a nota de crédito deles for ruim.
Mas faz década e meia, pelo menos, desde a crise do Leste Asiático, no final dos anos 1990, que as três irmãs erram em quase tudo o que é importante; não enxergam grandes crises ou grandes quebradeiras. Isto quando não são cúmplices de grandes rolos, como a emissão do papelório de investimentos podres imobiliários, que deram na grande crise financeira de 2008.
Pelo mundo rico, há investigações a respeito de erros, irresponsabilidades ou até ilegalidades cometidas pelas agências. Vários países da União Europeia querem a cabeça das agências de classificação.
Na Europa, ainda se estuda colocar as agências sob rédea curta e modos de evitar conflitos de interesse (as agências recebiam dinheiro para dar nota de risco de crédito para títulos). Pensa-se até em submeter os critérios delas à aprovação oficial, entre outras limitações.
É verdade que os europeus apenas acordaram para os disparates e os conluios das agências quando se viram em maus e sujos lençóis. Na França, em particular, onde há mais ojeriza ao mercado e à "mundialização", a grita é grande. Ficou ainda maior com a ameaça de que o governo do país perca a nota "AAA"; tornou-se fúria quando a S&P cometeu o erro vexaminoso de vazar, em plena crise, a hipótese de que a França seria rebaixada.
Sem a nota máxima, não apenas o custo de financiamento da dívida poderia ficar mais alto. Poderia ficar mais difícil e caro levantar dinheiro emprestado para o fundo europeu de socorro a países semiquebrados, que também é bancado pela França. "Poderia", note-se, pois a nota de crédito dos EUA foi baixada e não se deu trela às agências.
Dados todos esses vexames e polêmicas, a elevação da nota de crédito do Brasil deixa governo e seus críticos "de mercado" em situação divertidamente constrangedora.
O governo brasileiro, "mais de esquerda", costuma criticar ou fazer troça das agências. Mas a S&P fez grande elogio à política econômica de Dilma Rousseff: que é responsável na área fiscal e tornou o Brasil mais resistente à crise. O que o governo dirá agora das agências?
O pessoal do mercado tende a ser mais "pró-agências" (pagam por seus serviços). Quanto mais ideológicos, mais defendem as agências e outras porta-vozes da finança. Como de costume, e com boas razões, economistas ligados à finança se queixam do equilíbrio precário das contas públicas, sempre ajustadas provisoriamente, com remendos.
O que vão fazer agora? Detonar as agências de classificação de crédito? Dizer que elas "perderam a autonomia" (como o Banco Central?); que estão equivocadas?
Enfim, a bem da justiça: a situação das contas públicas brasileiras, precária como é, faz tempo merece nota muito maior que a concedida pelas desmoralizadas três irmãs.

GOSTOSA


SONIA RACY - DIRETO DA FONTE



O ESTADÃO - 18/11/11


Belo, o Monte
Leonardo DiCaprio se preparava, ontem, para gravar depoimento para o movimento Gota D’Água. A campanha, de flagrada anteontem contra a construção de Belo Monte, conseguiu, em 24 horas,150 mil assinaturas na petição on-line.
O vídeo-manifesto conta com Juliana Paes, Marcos Palmeira, Maitê Proença, entre outros artistas. E já está gravada posição contundente de Daryl Hannah.

Belo 2
Idealizado por Maria Paula Fernandes e Sérgio Marone, o projeto foi abraçado por Marcos Prado. Que só se engajou depois de estudara fundo o assunto. “Não sou a favor de queima de carvão. Mas, pelo que pesquisei, várias premissas foram ignoradas para que Belo Monte saia do papel”, explica o coprodutor de Tropa de Elite, frisando: “A discussão é necessária”.

Belo 3
Parecido com o vídeo americano de Spielberg pró-voto em 2008? “Idêntico. Com os devidos créditos de inspiração”.
A pilha de assinaturas será levada ao Congresso por artistas que participaram do viral.

Mágoa
Alckmistas ventilam que Walter Feldman deve enfrentar o conselho de ética do PSDB em breve. O deputado disparou contra o grupo do governador ao anunciar sua saída do partido - – ainda não concretizada.

Mágoa 2
Caso realmente deixe a legenda, o PSDB tentará reaver o mandato na Justiça. Se ficar, terá de lavar a roupa suja.

Al mare
Depois de Corinthians e Santos, agora o São Paulo levanta âncora. O cruzeiro, que comemora 20 anos do primeiro título mundial, acontece em abril. Passageiros? Raí, Cafú, Palhinha, Ronaldão e outros.

In loco
Em discurso,anteontem,no seminário do JP Morgan, em São Paulo, Jean-Charles Naouri enfatizou que acredita no plano de negócios do Grupo tanto para o Brasil como Colômbia e Tailândia. E que o problema societário (com Abilio Diniz) ficou para trás. Michel Klein, na plateia, ouviu.
Pessoas próximas dos dois lados tentam construir solução amigável para o curto prazo.

Batom
O executivo de finanças do ano, pela segunda vez consecutiva, é... uma mulher. Olga Monroy, da McCann, recebe o título do IBEF dia 24, no Fasano.
Ela sucede Marcela Drehmer, da Braskem.

Cinebiografia
Chimbinha, da banda Calypso, se encontrou com o cineasta Caco Souza. Para discutir detalhes do filme sobre a história do grupo. Joelma também participou da reunião, via conference call.
O longa, cujo roteiro ficará pronto até junho de 2012, vai mostrar o lado ecológico do grupo.

Novela aérea
Santos Dumont fechado durante a manhã de quarta-feira, por causa do mau tempo, Eva Wilma estressou no guichê da Gol.
Enquanto isso, João Bosco (que também tentava embarcar para SP) aguardava, pacientemente.

Na frente
-Kiko Parente avisa, já dentro do espírito natalino: brinquedos novos e usados podem ser entregues, até 21 de dezembro, em seu Spazio Gastronômico, no Itaim. O restaurante os doará à Apae e ao Instituto Pró-Queimados.
-A mostra Benedito das Flores e Antonio do Categeró tem abertura hoje. No Museu de Arte Sacra.
-Ricardo Lacerda, da BR Partners, pode até ser um bom banqueiro, mas certamente não estudou na Suíça. Educação, bem entendido.
-Tarsilinha, sobrinha-neta homônima de Tarsila do Amaral, convida para lançamento da nova biografia da artista, escrita por Maria Alice Milliet. Dia 24, na Hípica Paulista.
-É amanhã o ELLE Fashion Day, evento de rua que tomará a Oscar Freire.
-Temporada de trufas brancas nos restaurantes Piselli e Tre Bicchieri. Servidas pelos chefs Paulo Kotzent e Rodrigo Queiroz.

Urgente! Lupi pro Zorra Total! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 18/11/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!
E o ministro do baralho, ops, do Trabalho? Eu acho que ele só quer sair depois de receber o décimo terceiro! E sabe por que os ministros caem tanto? Porque lavaram a rampa e esqueceram de tirar o sabão!
Rarará!
E a melhor charge sobre o Lula careca e sem barba é do Clayton: "Galega, deixa o bigode pra eu não ficar a cara do Serra". Rarará! Esse seria o pior efeito colateral: ficar com a cara do Serra! Rarará!
E o ministro Lupi declarou: "Eu não menti, é que eu não tenho memória absoluta". Ele tem amnésia galopante; "Quem é Dilma? O que é um avião? ONG ESTOU?"
Eu adoro esse ministro Lupi, o
looping! Cara de revista em quadrinhos. Ele tem cara de quem acabou de engolir um caramujo.
E adorei o prefixo do avião do Maranhão que enrascou o ministro: ONJ! Será que ONG no Maranhão se fala ONJ?! Rarará!
E eu tenho a foto de uma coisa inédita, um posto de saúde no Maranhão que não se chama Sarney: "Posto de Saúde do Saquinho". Ou então o apelido dele na região é Saquinho. Saquinho de bigode!
E mais uma do Lupi: "Não tenho condições de saber se as pessoas que me transportam nas viagens estão em dia com as leis, se os carros que eles dirigem estão com o IPTU em dia". Então é um imóvel, e não automóvel. Ele se movimenta por imóveis. Rarará!
Ele tem que ir pro "Zorra Total". Urgente!
E um leitor mandou perguntar: quando a Britney Spears tiver um orgasmo, vai ser ao vivo ou playback? Ela usa playback para ficar com a boca livre para fazer aquele monte de biquinho! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz o outro: é mole, mas trisca para ver o que acontece!
E Minas adere à campanha pelo pedestre: "Drive-in Pampulha, box especial para pedestres". Devem fazer 69 em pé. Rarará! Em Minas, você não precisa ter carro para ir no drive-in! Vai a pé mesmo. Como naquele motel de Fortaleza: "Aceitamos casais a pé". Rarará!
E esse ministro do Trabalho é tão engraçado que não vai lhe faltar trabalho! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Aliás, eu vou beber o meu colírio alucinógeno!

ESTAÇÃO NA ÁGUA - MÔNICA BERGAMO



FOLHA DE SP - 18/11/11

Situação de caos na Estação Ciência, da USP, um dos principais museus de SP: no feriado, o local teve que ser fechado para não colocar em risco a vida de visitantes e funcionários. A infiltração da água das chuvas tomou proporções consideradas "alarmantes" pela direção. Fiações, interruptores e tomadas estavam mergulhados na água. As pessoas foram retiradas do local.

AGENDA 1
Pior: a próxima exposição, com o acervo do Museu de Zoologia, pode ser adiada por falta de segurança. Nas atuais condições, a Estação Ciência não poderia garantir a preservação do acervo. Seriam necessárias reformas emergenciais no telhado, no muro de arrimo, no piso e em várias outras áreas do lugar.

AGENDA 2

O diretor do museu, Helio Dias, afirma que as chuvas foram "anormais". E diz que já pediu à pró-reitoria da USP reunião "emergencial" para tratar das reformas. "A universidade está com uma demanda superior à sua capacidade", afirma. "Sempre conseguimos ir tocando o museu. Dessa vez, infelizmente, não conseguimos aguentar."

AQUELE ABRAÇO

Torcedor do Santos, Gilberto Gil foi convidado pelo presidente do clube, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, para assistir ao último jogo do Peixe na Vila Belmiro neste ano. Ele verá a partida contra o Bahia, no dia 27.

RODÍZIO DE PEIXE

E o Santos jogará com o time reserva no domingo, contra o Coritiba, no Paraná. Os suplentes têm entrado em campo devido à preparação para o Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro.

NEGÓCIO FECHADO

A Ejesa (Empresa Jornal Econômico S/A) concluiu na última sexta a venda do prédio do jornal "O Dia", na rua do Riachuelo, no Rio.

LUZ NA PASSARELA
As modelos Natalia Schueroff e Carola desfilaram a coleção Fashion Five, da Riachuelo, anteontem, na Casa Fasano. O empresário Flavio Rocha com a mulher, Anna Cláudia, e a estilista Clô Orozco conferiram a apresentação.

SÍNDICO DA VILA

Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro lançou sua candidatura à reeleição para a presidência do Santos Futebol Clube com festa no bar Seu Domingos, na Vila Madalena, em São Paulo, anteontem. Os advogados Mario Covas Neto e Luiz Bueno estiveram presentes.

TROCA DE SAIA

A atriz Camila Morgado deixará o programa "Saia Justa", do GNT, em março de 2012. Ela será protagonista da próxima novela das nove da Globo.

CONVERSÊ

Maria Rita, que acaba de lançar o CD "Elo" pela Warner, está conversando com a gravadora Universal.

FILME À VISTA

O livro policial "O Mistério do 5 Estrelas", de Marcos Rey, da "Coleção Vagalume", deve virar filme em breve. A produtora RT Features comprou os direitos da obra, que já teve 6 milhões de exemplares vendidos.

HERMANOS

A ministra Ana de Hollanda, da Cultura, e Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, assinaram convênio em Buenos Aires nesta semana para tornar acessível aos argentinos documentos sobre seu país. Entre os papéis de posse brasileira, estão manuscritos e planos sobre a fundação de Buenos Aires e mapas das ilhas Malvinas.

FAÇA UMA PRECE

O livro "Um Show em Jerusalém - O Rei na Terra Santa" (Globo Livros), de Léa Penteado sobre os bastidores do show de Roberto Carlos em Jerusalém, será lançado no dia 23, em SP. A obra traz uma entrevista que o Rei deu ao jornal israelense "Yedioth Ahronoth". O cantor conta que reza, "mas não só nas horas difíceis, rezo todos os dias. Peço mais para os amigos, parentes. Peço proteção e agradeço".

CURTO-CIRCUITO
A balada Sem Loção encerra hoje, às 23h, sua temporada 2011. 18 anos.

André Mehmari faz o recital de piano "O Brasil Não Existe", hoje, às 21h, no Theatro Municipal. Classificação: livre.

O trio francês Yelle se apresenta na quarta, às 23h, no Beco 203. Classificação etária: 18 anos.

A ONG Ação Comunitária promove hoje o Torneio Beneficente de Golfe, na Quinta da Baroneza.

O Prêmio RBS de Empreendedorismo e Inovação será entregue hoje no Centro Britânico Brasileiro.

A percussionista Simone Sou fará pocket show do CD "Sim One Sou", na Livraria da Vila dos Jardins. Amanhã, às 21h. Gratuito.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Basta um momento de suprema felicidade - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO


 
O Estado de S.Paulo - 18/11/11

Terminei de ver o filme do Jabor pensando: pois é, este é um dos filmes que eu queria ter feito. Sempre tive um mundo de filmes na cabeça, nenhum deles realizado. Ficaram guardados enquanto eu esperava a chance de ser diretor. O diretor que nunca fui e, talvez, nunca serei. Tem jeito de Oito e Meio esta afirmação? Onde me desviei do sonho de fazer cinema?

Nos últimos tempos vi dois filmes que eu deveria/poderia ter feito. Sobre um deles, já falei, é o de Woody Allen, Meia-Noite em Paris. O outro é este Suprema Felicidade, do Jabor. Dia desses, depois do almoço anual dos cronistas do Estado, saí num táxi com o Jabor, já que somos vizinhos. No caminho, a conversa deslizou para o filme dele, que eu não tinha visto. Quando foi lançado, eu não estava em São Paulo. Depois, bem depois os exibidores tiraram de cartaz e ficou por isso. Claro, essa indiferença dos exibidores provocou uma (justa) mágoa no diretor.

Quando indaguei: "Saiu em DVD?", ele respondeu: "Não apenas saiu, como vou te dar um". Passei pela casa dele, apanhei o DVD e corri para meu apartamento. Meio da tarde, eu não queria sentar-me ao computador, estava ansioso, fiz o filme rodar.

Desgraçado, esse Jabor! A palavra não tem o tom da maldade, de rogar praga, é minha expressão de afeto. Pois ele fez o filme que está (estava) na minha cabeça. Recuperou por meio de um personagem, que vai dos 4 aos 20 anos, toda uma época, que foi dele e também minha. Sei, passa-se no Rio de Janeiro, mas também aconteceu em Araraquara, Bauru ou Marília. O Brasil era igual, lento. Uma coisa menos complicada, mais ingênua, com pouca informação, com pureza e sacanagem, com ideais, sonhos e muitos desejos.

Não invejei o avô do menino (vivido magistralmente por Marco Nanini), porque tive um avô, que, se não era "zoneiro", ou seja, de farrear na zona, ou bordel, tocando trombone de vara, era um avô que me encantava ao produzir em sua marcenaria móveis, brinquedos, caixas de relógio de parede; esculpia cavalos, me levava ao campo para caçar içás.

Quem não teve um pipoqueiro safado a nos gozar, perguntando se tínhamos pegado nos peitinhos das meninas? Quem não teve uma proibidíssima revista de mulheres peladas? A nossa se chamava Paris Hollywood, impressa em sépia e com os pelos das mulheres escamoteados, de modo que pareciam manequins de vitrine. Mesmo assim, excitavam! Nos meus 18 anos, sensacional era o cabaré que ficava em São Carlos, exatamente onde é a UFSCAR hoje.

Ah, caro Jabor, você foi buscar no fundo de você, mas mexeu comigo, com todos nós, sem fazer um filme nostálgico, sem dizer que naquele tempo é que era bom. Disse apenas: naquele tempo era assim, tinha lágrimas e risos. Você teve sua Marilyn, eu também. Nós, de Araraquara, tínhamos a Rosicler, loira, provocante, sedutora. Ou a Cotuba tão livre, independente, na dela, indiferente aos diz-que-diz-ques. E olhe o acaso. Falo de Rosicler e Marilyn em meu livro Acordei em Woodstock, o mais recente, saiu há três semanas.

E o teatro-revista, e a escola? Naquele tempo já existia o bullying, só que não precisavam convocar o diretor, o orientador pedagógico, os pais, as testemunhas, o psicólogo, essa doideira toda. Tinha sujeito que apanhava, apanhava, até que um dia, ele batia, batia. Tudo era resolvido entre nós, tínhamos de saber conversar, negociar, ganhar e perder, levar e dar de volta, enfim, aprender a viver e se virar.

Jabor, nunca fiz esse filme que ia falar de carnaval, de lança-perfume, de marchinhas carnavalescas, de festas nas casas, de boleros, de risos e choros, de mães sofredoras, de homens desatinados. O meu ia (digo, vai) ter o que não tem no seu: igreja, procissões de Semana Santa com Verônica cantando, malhar o judas, olhar as coxas das professoras com espelhinho, ver vizinhos reunidos nas cadeiras na calçada ou ouvindo radionovela ou programas de auditório da Nacional, frequentando quermesses, comprando rifas de frango assado e mandando Correio Elegante, jogando tombola, assistindo a chanchadas.

Você ficou 17 anos longe do cinema, mas voltou e realizou Suprema Felicidade, um filme tocante. Felliniano. Musical, nossa vida foi cheia de músicas que marcaram: Besame Mucho, Quiçás, Quiçás, Love Is a Many Splendored Thing, Mona Lisa, Ninguém me Ama, As Águas Vão Rolar, Sassaricando, Touradas de Madri, Granada, A Noite do Meu Bem, Love me Tender, Carol, Diana, Datemi um Martelo, Dio Como Ti Amo, Mulher de Trinta, Você menina moça/ mais menina que mulher...

Vendo o making of, Jabor, percebi uma coisa. Você feliz, solto, amando cada cena, cada ator, cada personagem e tudo isso a gente sente no filme. Teve quem não gostou? Sempre tem. Mas vai ver que a vida deles não foi tão legal quanto a nossa! Precisamos descobrir se tiveram um momento de suprema felicidade. Porque basta um momento para justificar tudo, a vida inteira. Um dia, suprema felicidade, farei um filme. Enquanto isso, caminho atrás desse sonho, não fico paralisado.

GOSTOSA


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO LIVRE



FOLHA DE SP - 18/11/11


Empresa de TI investe R$ 210 mi em aquisições
A multinacional brasileira Stefanini IT Solutions, provedora de soluções para o mercado de tecnologia da informação, vai investir mais de R$ 210 milhões em novas aquisições até o final de 2013.

Do total de recursos injetado, 60% serão destinados a compras de empresas no exterior. A Stefanini atua em 28 países, onde devem permanecer concentrados os próximos negócios.

Fora do país, a estratégia é buscar empresas com operação semelhante ao trabalho que a Stefanini já realiza atualmente, como fabricação de software, infraestrutura e terceirização de serviços.

No Brasil, a meta é encontrar negócios que possam agregar novos serviços ou produtos ao portfólio.

"No exterior, nós procuramos focar no mesmo segmento, com oferta de serviços equivalentes, senão o risco é muito alto", afirma Marco Stefanini, fundador e presidente da companhia.

Antes do final deste ano, deve ser anunciada a compra de uma empresa no Brasil, com faturamento de aproximadamente R$ 100 milhões.

"O processo é longo. Para 2011 ainda não deve sair nada no exterior", afirma. O alvo dos investimentos está principalmente nos Estados Unidos e na Europa. O processo de internacionalização começou em 1996, com uma filial na Argentina.

Hoje há também unidades na Ásia, na Europa, na África, nos Estados Unidos e na América Latina.

Com previsão da faturar R$ 1,25 bilhão neste ano, 40% do volume deve vir do exterior. A ideia é que esse percentual alcance 50% e que as operações internacionais cresçam 60% em 2012.

"São estratégias diferentes. No exterior, focamos empresas no mesmo segmento, que têm a mesma oferta de serviços. No Brasil, são as que agregam oferta diferente"
MARCO STEFANINI

RAIO-X
R$ 1,3 bilhão é a previsão de faturamento para 2011

R$ 1 bilhão foi o faturamento no ano passado

40% é a participação das operações internacionais no faturamento deste ano

HP E CAPGEMINI são alguns dos principais concorrentes

CXI e I&T foram as empresas adquiridas em 2011

Pirataria de software causa prejuízo no país de US$ 186 mi
Softwares pirateados usados por empresas no Brasil já causam prejuízo de US$ 186 milhões por ano às empresas concorrentes que usam software legítimo no país.

Segundo estudo da Microsoft em parceria com a consultoria Keystone Strategy, o país registra o terceiro maior volume de perdas entre os países do Bric, à frente da Rússia, que registra US$ 115 milhões.

Lideram o ranking de perdas a China, com US$ 837 milhões, e a Índia, em segundo lugar, com US$ 505 milhões.

O total de perdas contabilizado nos quatro países é de US$ 1,6 bilhão. Esse é o volume de prejuízo causado aos concorrentes que usam software legítimo.

Em cinco anos, as perdas nesses países chegarão a US$ 8,2 bilhões.

No mercado chinês, segundo a consultoria, caso os recursos fossem movimentados legalmente, seria possível a construção de 66 grandes fábricas de software, com a contratação de nada menos do que 12,7 mil funcionários.

PÉ DE BAILARINA
As sapatilhas da My Ferragamo, da grife florentina Salvatore Ferragamo, desembarcaram no Brasil. As "ballerinas" têm o DNA italiano da marca-mãe, mas são criadas para o público mais jovem -alvo da linha My Ferragamo, que tem preços mais acessíveis.

Mesmo assim, os mimos, em diferentes materiais, que vão do couro de cabra à renda e ao veludo, não saem por menos de R$ 1.150.

GALPÃO INFLACIONADO
O aluguel de galpões industriais em São Paulo é o mais caro da América Latina, segundo estudo da Colliers International Brasil.

O valor do metro quadrado na cidade no final do primeiro semestre deste ano chegou a R$ 24,50.

A capital paulista tem o oitavo preço mais caro do mundo neste segmento.

"Se o câmbio continuar do que jeito que está, São Paulo deverá chegar às cinco primeiras posições nos próximos trimestres, mesmo com uma alta menor do que a dos últimos dois anos", afirma o presidente da consultoria, Ricardo Betancourt.

Tóquio e Londres, por sua vez, apresentaram os aluguéis mais altos de galpões industriais no mundo, com R$ 32,74 e R$ 29,97 por metro quadrado, respectivamente.

Na América Latina, a colombiana Bogotá tem o valor mais próximo do de São Paulo: R$ 17,60 por metro quadrado, segundo a consultoria.

GÁS NOS NEGÓCIOS
Vila Velha (ES) quer novos negócios, principalmente os que apoiam as atividades de petróleo e gás. A cidade promove evento para 300 empresários, no hotel Renaissance, em SP, no dia 23. O município espera investimentos até 2012 superiores a R$ 1 bilhão, diz o prefeito Neucimar Fraga.

Árvore... Os 14 shoppings da Multiplan investem neste Natal cerca de R$ 32,8 milhões, aumento de 47% ante 2010. Os shoppings Morumbi, Vila Olímpia, Anália Franco, e ParkShoppingSãoCaetano somam R$ 14,7 milhões.

...de Natal Os dez shoppings da Sonae Sierra Brasil, localizados em São Paulo, Amazonas e Distrito Federal, investem mais de R$ 8 milhões no Natal deste ano. Os cenários decorativos já foram inaugurados.

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ e CAMILA FUSCO

Juízes da censura prévia - JUDITH BRITO


O Globo - 18/11/2011

Cada cidadão nasce sob a égide de um Estado nacional, o Leviatã - nem sempre benevolente. Nas sociedades modernas, há um consenso de que o sistema democrático representa não um modelo perfeito de convivência, mas quem sabe o menos ruim que os homens conseguem gestar. Não por outra razão, a referência global de democracia consolidada, a americana, tratou de cravar em sua Constituição já em 1791 a Primeira Emenda, que impede qualquer restrição à liberdade de imprensa - um dos pilares indispensáveis das sociedades democráticas.

No Brasil, a Constituição de 1988 consagrou o mesmo princípio, e decisão do Supremo Tribunal Federal em 2009, que revogou a Lei de Imprensa do governo militar, acabou por consolidar de vez a liberdade de expressão.

Apesar desse entendimento, ainda existem, mesmo que residualmente, decisões de juízes proibindo os meios de comunicação de veicularem determinadas informações, o que na prática configura a "censura prévia judicial". Por essa razão, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) tem procurado a interlocução com representantes dos órgãos do Judiciário nos diversos estados do país, com o objetivo de discutir, de forma aberta e saudável, o espírito da lei.

Geralmente as decisões de censura prévia judicial decorrem de pedidos feitos por políticos, por autoridades públicas, que pretendem impedir divulgação de informações que consideram mentirosas ou ofensivas. Alguns juízes aceitam o que pedem esses agentes públicos e determinam que o meio de comunicação que esteja de posse das informações seja punido, quase sempre com pesadas multas, caso as divulgue.

Os juízes que impõem a censura prévia argumentam que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa não são absolutas e não podem se sobrepor aos direitos individuais, como a imagem e a privacidade desses agentes públicos. Por essa interpretação, o direito de um indivíduo de se proteger da divulgação de informação que considera mentirosa ou ofensiva antecede o direito geral da sociedade de ter acesso a essa informação.

No entanto, como bem disse o ministro Carlos Ayres Britto quando da decisão do STF em 2009: "Não há como garantir a livre manifestação do pensamento... senão colocando em estado de momentânea paralisia a inviolabilidade de certas categorias de direitos subjetivos fundamentais, como, por exemplo, a intimidade, a vida privada, a imagem e a honra de terceiros."

Como reza o princípio maior da liberdade de expressão consagrado por nossa Constituição, ninguém pode proibir ninguém de dizer o que quer que seja. A contrapartida dessa plena liberdade de expressão é a possibilidade de o divulgador de determinada informação, depois de ela tornada pública, ser processado e condenado por danos morais, conforme legislação específica.

A violação ao princípio constitucional da liberdade de expressão é ainda mais grave quando censura prévia judicial beneficia um agente do Estado. Essas figuras públicas têm status diferenciado diante da sociedade, bem diverso do de outros cidadãos, e precisam sim estar sob a permanente vigilância dos meios de comunicação. Gozam, inclusive, de foros de julgamento privilegiados no Poder Judiciário. Por isso, quando um jornal divulga informações a respeito de determinado político sob investigação da Polícia Federal, ele o faz exercendo um direito de toda a sociedade, de ter acesso às informações que lhe interessam.

Nos casos relacionados a agentes públicos, a agentes do Estado, a democracia claramente optou pela possibilidade do ônus individual - passível de correção a posteriori - do que pelo ônus coletivo, com toda a sociedade sendo prejudicada.

É claro que erros e injustiças podem ocorrer, mas esse é um mal menor diante do grande equívoco de se institucionalizar a censura prévia, mesmo que apenas pela via judicial.

Se queremos mesmo uma democracia, com plena justiça, não podemos admitir que os interesses dos agentes públicos estejam acima dos de toda a sociedade.

Um filme melhor que a foto de dois governos - MARIA CRISTINA FERNANDES


Valor Econômico - 18/11/2011

O Brasil melhorou de vida como poucos no mundo pelo último relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De 187 países listados, apenas 36 subiram no índice e o Brasil é um deles.

De Brasília vieram reações cristalinas dos dois governos que convivem na Esplanada. Primeiro foi a vez do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, relatar telefonema do ex-chefe. Segundo o ministro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha ficado "iradíssimo" com o índice. O ministro explicou que Lula estava sob tratamento quimioterápico mas não tinha deixado de acompanhar o noticiário e achava que o governo deveria reagir à "injustiça" do relatório.

Na mesma manhã, o presidente em exercício Michel Temer declarou que considerava "equivocado" o IDH.

Governo Dilma tem reação mais ponderada ao IDH

Por injustiça e equívoco, o ex-presidente e o atual vice entendiam o avanço de apenas uma posição do Brasil num índice que combina renda, educação e saúde.

O IDH divide os países em quatro classes. Desde 2002, o Brasil pertence à segunda classe de desenvolvimento. Na primeira, além dos europeus, tigres asiáticos e petroleiros do Golfo, há dois da América Latina, Chile e Argentina. Na terceira permanecem dois países dos Brics (Índia e China) - a Rússia está no mesmo vagão que o Brasil, ainda que 20 cadeiras à frente. Na quarta classe estão o Haiti e quase toda a África.

O Pnud recebe reclamações de todos os lados por conta do IDH. Para desarmar os espíritos, seu relatório anual reproduz a queixa original de um dos criadores do índice, Amartya Sen. O prêmio Nobel de Economia conta como seu ceticismo sobre um índice que pretendia captar situações tão complexas de desenvolvimento foi revertido pela constatação de que, apesar das falhas, o IDH é mais próximo da realidade que o PIB.

Criado há 20 anos, o índice já passou por várias mudanças e a cada ano incorpora mais países. Por esse motivo, seus organizadores advertem sobre os limites das análises evolutivas. Como a data dos censos nacionais não é mundialmente uniforme, o relatório também deixa claro que pode haver defasagem entre os dados.

Para contemplar as queixas, o IDH mudou a medição de dois pilares de seu tripé, renda e educação. No lugar do PIB entrou a renda bruta que, na avaliação de seus economistas, filtra melhor a riqueza que fica no país e relativiza o peso dos países exportadores de petróleo.

Na educação, como um grande número de países, entre os quais o Brasil, havia universalizado o ensino básico, passou-se a uma avaliação mais qualitativa que mede a escolaridade dos adultos e a expectativa de anos escolares das crianças.

O passivo educacional do Brasil com os seus adultos foi um dos motivos por que o país avançou menos do que se esperava.

A malhada saúde pública brasileira teve mais importância para o único degrau que o Brasil avançou do que a educação e a renda. A saúde respondeu por 40% da alta e os outros dois itens por 30% cada.

Neste ano, o IDH incorporou três indicadores complementares, o ambiental, de gênero e de desigualdade. Foi esse último que mais irritou as autoridades brasileiras. Quando considerada a desigualdade, o Brasil despenca 13 posições. Os Estados Unidos caem 19 e a Rússia sobe 10.

O presidente do Ipea, Márcio Pochmann, preferido de Lula para disputar a prefeitura de Campinas, endossou o tom de Gilberto Carvalho nas críticas e chegou a dizer que o Ipea estaria preparado para produzir um IDH alternativo, como se a credibilidade do índice não dependesse do respaldo de um organismo multilateral.

A zanga do lulismo com o IDH vem desde o ano passado. E tem forte componente político. Ao deixar o governo em 2002, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi premiado pelo Pnud pelos avanços do Brasil na lista. O país não deixou de avançar desde então, mas não é preciso torcer por um lado ou pelo outro para se constatar que o avanço é mais rápido quando o patamar de desenvolvimento social é mais baixo.

A média anual de crescimento do Brasil no IDH na última década foi de 0,69%, o dobro do 1ºlugar, a Noruega, e mais de cinco vezes o crescimento dos Estados Unidos no período. Mas é uma velocidade mais baixa do que a alcançada pelo Brasil entre 1980 e 2000.

O economista Marcelo Neri fuça os dados do IDH desde sempre. E diz que seus indicadores, ainda que torturados, mostram um Brasil melhor a cada ano. O problema é que o país ainda precisa melhorar muito para ficar bem na foto. A pobreza caiu pela metade no governo Lula e a renda da metade mais pobre avançou 67% na última década, mas os 10% mais ricos ainda têm 43% da renda. Um filme, resume, melhor que a foto.

Mesmo na educação, Neri vê um escalada cinematográfica. Em 1990 havia 16% das crianças fora da escola. Em 2000 eram 4%. E agora menos de 2% das crianças não estão matriculadas.

Foi este filme que permitiu ao Brasil fazer grande alarde por ter batido a meta do milênio - estipulada pela mesma ONU que agora contesta - antes do prazo.

A reação mais ponderada do governo ao relatório veio da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo.

No mesmo dia em que Gilberto Carvalho vinha a público para divulgar a contrariedade de Lula com a foto do Brasil no IDH, a ministra almoçou na Casa Civil com Gleisi Hoffmann, e os titulares da Educação e Saúde, Fernando Haddad e Alexandre Padilha.

Dali saiu a decisão de Tereza Campelo se pronunciar em nome da presidente Dilma Rousseff, que estava na reunião do G-20, em Cannes. Numa entrevista coletiva, a ministra passou o filme dos avanços brasileiros no IDH e disse que, para ficar melhor na foto, o governo reforçaria as ponderações metodológicas que já havia feito no ano passado.

Indagada se concordava com as declarações de Carvalho, foi clara sobre quem falava em nome da atual presidente. Disse que o governo ainda não havia se manifestado sobre o relatório até aquele momento e que talvez o ministro estivesse se referindo aos dados do ano passado.

Ao Valor, a ministra voltou a manifestar as objeções metodológicas, mas disse que o Pnud já concordou em trazer uma equipe ao Brasil para discuti-las. E evitou alimentar polêmicas sobre a disposição do Ipea em fazer um IDH paralelo: "Vamos avançar no diálogo com o Pnud".