Na semana passada, cinco PMs cariocas foram filmados adulterando a cena de um crime no morro da Providência. Colocaram a arma na mão de um jovem traficante, "Pintinho", já baleado, e dispararam com ela para fabricar um auto de resistência. Os PMs foram identificados e presos. Serão processados e expulsos da polícia.
Alguns dias depois, foi a vez de outro PM, Caio César, morrer assassinado por três tiros durante um patrulhamento no Complexo do Alemão. Os traficantes se postam no alto do morro e têm a patrulha lá embaixo à sua mercê. É quase sempre uma chacina, não um confronto. Caio César é o 19º policial a morrer em serviço este ano. Outros tantos morreram em emboscadas quando estavam de folga. Essas mortes, em geral, só são sentidas pelos parentes.
"Pintinho" tinha 17 anos. Segundo testemunhas, era craque em bola de gude e empinar pipas. Teve de interromper os estudos para trabalhar. O tráfico o cooptou com a promessa de dinheiro, boas roupas e poder na comunidade. Caio César tinha 27. Antes de entrar para a PM, já trabalhava como dublador, profissão que não abandonou. A dublagem é uma função altamente técnica. E Caio César não era um dublador comum: fazia a voz de Harry Potter no Brasil.
Os PMs da Providência deveriam cumprir penas longas, porque o que fizeram atinge toda a corporação. Se o carioca já não gostava da polícia, agora tem mais um motivo para gostar menos. Mas como se explica que essa mesma corporação produza um Caio César? Segundo relatos, ele podia viver bem como dublador. A polícia, por sua vez, era uma vocação: "Se eu morrer defendendo a sociedade, morrerei feliz", dizia.
O bem e o mal custam caro em nossos dias. Costumam custar a vida. Ao nosso repúdio pelos maus policiais, deveria haver maior respeito e reverência pelos que morreram pela causa do bem.
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