Folha de SP - 05/10
Mesmo nos momentos econômicos mais venturosos de outrora, o Brasil nunca deixou de ser um ambiente hostil para empreendimentos de todos os portes.
Reflexos de vícios arraigados nos regulamentos nacionais, indicadores como o número de procedimentos exigidos para iniciar um negócio, ou de horas consumidas no pagamento de taxas e impostos, que aproximam o país das piores colocações nas listagens globais, não podem ser atribuídos a desacertos deste ou daquele governo.
São bem identificáveis, porém, as responsabilidades pela vexatória queda brasileira no ranking de competitividade recém-divulgado pelo Fórum Econômico Mundial–da 57ª posição, no ano passado, para a 75ª entre 140 países.
Se competitividade é um conceito um tanto vago, o levantamento analisa quesitos concretos o bastante. De 12 categorias, houve retrocesso em 9, e o único posto digno de comemoração se deve à grandeza populacional: um 7º lugar em tamanho do mercado.
Quando estão em jogo resultados que dependem mais diretamente das gestões da economia e da política, o Brasil avança rumo ao extremo errado da tabela –e com contribuição decisiva de desatinos e escândalos acumulados ao longo da administração petista, em particular sob Dilma Rousseff.
No julgamento do ambiente macroeconômico, a incúria no controle do Orçamento e da inflação nos custou um mergulho para o 117º posto, 32 abaixo da já desconfortável classificação de 2014. Nesse caso, ao menos, conta-se com vizinhos de renome, como a Espanha (em 116º) e o Japão (em 121º).
Mais incômodas são as companhias na relação que ordena as nações conforme a qualidade das instituições. Com a corrupção desnudada em proporções inéditas, o país desceu da 94ª para a 121ª colocação, logo abaixo da Sérvia e com Serra Leoa em seus calcanhares.
Elaborado a partir de dados estatísticos e pesquisas de opinião com executivos, o documento aponta uma piora vertiginosa, e ainda pouco explicada, da percepção sobre o desempenho brasileiro em ensino superior e treinamento, com queda da 41ª para 93ª posição.
Pode-se supor que o recrudescimento da crise tenha azedado o humor dos entrevistados, contaminando as avaliações. Já havia, porém, uma coleção prévia de outros resultados deploráveis, como em educação primária, complexidade tributária e custos trabalhistas.
A variedade de mazelas mostra que a agenda pela frente transcende o ajuste das finanças públicas. A longo prazo, será fundamental substituir a onipresença estatal por incentivos à produtividade de trabalhadores e empresas.
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