FOLHA DE SP - 15/08
BRASÍLIA - Começou bem a segunda fase do julgamento do mensalão, num momento em que o caso Siemens ainda está só esquentando.
"Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Existe corrupção", declarou em sua estreia no julgamento o novo ministro Luís Roberto Barroso, infenso à polarização infernal entre petistas e tucanos.
Opinou e ensinou mais: o mensalão não foi o maior escândalo da história, apenas o mais investigado, e será em vão punir os atuais réus sem fazer uma reforma política, porque tudo vai continuar na mesma.
É impossível discordar do ministro, e o PT não tem o direito de comemorar nem o PSDB de lamentar.
O fato de o mensalão não ser o maior escândalo da história, como opina Barroso, não significa que não tenha existido, que seja irrelevante e que não tenha sido lesivo para quem realmente interessa: a sociedade brasileira. Se os outros fazem, isso não dá direito ao PT de fazer também.
O princípio vale para os tucanos no caso Siemens. De nada adianta Geraldo Alckmin dizer que o cartel atuou também em outros Estados nem a Folha mostrar que cinco empresas investigadas por cartel em SP e no DF receberam pelo menos R$ 401 milhões do governo federal desde 2003 --se elas eram impuras nos governos de oposição, certamente não eram puras nos governos petistas.
Se os esquemas ocorrem em outros Estados e se o governo federal também tem contratos com empresas suspeitas, nada disso absolve o cartel paulista nem inibe as investigações (inclusive da imprensa) sobre as administrações tucanas em São Paulo. Ao contrário, só confirma que os cartéis existiam, ou existem.
Jogar a batata quente de lá para cá não resolve a questão central de que há compra de votos, há cartéis e está na hora de acabar com essas práticas, custe o que custar --mesmo a punição dos dois melhores partidos e de alguns dos melhores quadros políticos do país. Até por isso, eles é que mais deveriam dar o exemplo.
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