O GLOBO - 15/08
Cresci ouvindo que não se podia confundir alhos com bugalhos. A ideia traduz bem o que vem acontecendo no Leblon. Manifestações populares estão entre as maiores expressões inalienáveis da democracia. Mas é preciso saber por que e aonde protestar. Na residência do governador certamente não é o lugar adequado. Não só por ser numa área basicamente residencial e nem pelo inevitável transtorno sofrido pela vizinhança.
Protestos têm mesmo de "fazer barulho", mesmo que sem gritos. Mas a questão aqui é outra: em casa, até mesmo o governador é "pessoa física". O poder público tem suas sedes próprias.
Faz parte da construção da cidadania entender o papel de cada uma das esferas de poder para que nossos direitos sejam corretamente exercidos e cobrados. Nós, da AMALeblon, por exemplo, já tivemos uma série de reivindicações.
A chegada do Metrô ao bairro é outro legado imenso para todos nós. Chegamos, sim, a questionar incessantemente o traçado da nova linha, mas, diante da impossibilidade de alterálo, precisamos reconhecer os benefícios que esta obra trará para toda a cidade. Mas nunca fomos bater na porta da casa do vizinho Sérgio Cabral para fazer essas cobranças.
Nem sempre conseguimos ser atendidos, claro. Mas em todos esses anos foram muitas as reivindicações que, com diálogo e encaminhamento adequados, tiveram retorno positivo.
Sempre respeitados os caminhos oficiais para todo e qualquer tipo de solicitação. Não há outro meio, é assim que deve ser. Não podemos perder de vista que vivemos num estado democrático.
Outro ponto fundamental é saber exatamente pelo que se protesta. Ouvi gente criticar o fato de o governador não morar no Palácio Laranjeiras, apesar de não haver uma lei que o proíba de morar na sua residência. Mas nunca vi ninguém perguntar em que condições o governo anterior deixou o lugar, que passa por imprescindíveis reformas, pois é um legado do Rio de Janeiro, nosso patrimônio, que estava em condições deploráveis.
Para preservar a liberdade de criticar e cobrar, optei por não fazer política partidária.
Embora nem todas as esquinas sejam flores, tivemos, repito, conquistas importantes e este não é um privilégio só do Leblon, mas de todo o Rio. Uma iniciativa que nos trouxe uma inquestionável melhora da qualidade de vida foi a criação das UPPs. Será que ninguém se lembra dos tiros traçantes que cruzavam o céu da cidade todos os dias? Duvido muito que alguém tenha saudade dessa época. Embora ainda precisem de aprimoramento, as UPPs foram um passo importantíssimo no combate à criminalidade, assim como as UPAs - que também precisam melhorar muito - favoreceram nosso sistema de saúde. Não por acaso defendemos que as UPPs sejam transformadas numa política de estado, independentemente do governante. Precisamos disso.
Não há mal nenhum em manifestar-se diante da insatisfação, muito ao contrário. Mas para exercer a democracia é preciso conhecer suas regras - e assim contribuir para preservá-la, não para atacá-la -, evitando que um estado democrático seja confundido com uma anarquia.
Por isso, com todo o respeito que tenho pelas melhores intenções e ideologia dos cidadãos que se manifestam atualmente acampados no canteiro central da Avenida Delfim Moreira, acho que estes também devem ser submetidos às regras legais imputadas a toda nossa cidade.
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