ZERO HORA - 16/08
Desde que o SUS foi criado como programa salvador da assistência médica no Brasil, o ponto fundamental é o atendimento multiprofissional ao cidadão, visando a uma ação integrada de todos os profissionais da área da saúde.
Esse sistema tem por objetivo o atendimento de maneira global, afastando-se do modelo tradicional de tratamento de doenças e centralização do atendimento nos hospitais.
Os profissionais atuariam dentro dos limites impostos pelas leis que regem suas profissões. O modelo ideal passa a ser o da prevenção de doenças e promoção da saúde. Assim, todas as profissões são premiadas e os custos são infinitamente menores do que seriam apenas com o tratamento das doenças, pois esse modelo exige menor aporte de recursos financeiros. Um modelo politicamente agradável às esferas dos governos federal, estaduais e municipais e aos profissionais da saúde.
A consequência: diminuem os leitos existentes para tratamento de doenças e os hospitais acabam inviabilizados economicamente, fechando suas portas sucessivamente. Ao mesmo tempo, os médicos perdem seu principal campo de trabalho, que é o diagnóstico e a indicação de tratamento de doenças.
O modelo de atendimento multiprofissional é adotado pelo governo federal, mas o clamor das ruas _ queixas da falta de atendimento, hospitais e leitos, superlotação das emergências, as mortes sem a devida assistência _ demonstra o erro em direcionar o financiamento da saúde pensando apenas na promoção e prevenção. Esses recursos deveriam, no mínimo, premiar igualmente o tratamento das doenças.
Os municípios, com hospitais fechados e sem condições para manter os profissionais, gastam seus escassos recursos na prevenção e promoção da saúde, jogando seus cidadãos para centros maiores e estabelecendo a prática da “ambulancioterapia”.
Faltam hospitais com condições mínimas, faltam Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), faltam médicos com condições de trabalho e faltam também os demais profissionais da saúde. A explicação e a responsabilidade desses erros são lançadas, de maneira política e ideológica em fase pré-eleitoral, para cima de uma única categoria: os médicos. Assim, algumas perguntas se impõem:
Os médicos não querem ir para o interior. Mas a política do SUS não é de trabalho multiprofissional?
Onde estão os demais profissionais da saúde para trabalhar no interior?
Onde estão as condições de trabalho para a equipe multiprofissional?
Por que obrigar apenas os médicos a trabalhar no interior?
Por que bolsas apenas para os médicos, se eles fazem parte de uma equipe?
Afinal, a saúde é feita apenas pelos médicos?
Perguntas sem resposta, pois o governo federal, pelo Ministério da Saúde, lança um programa culpando e exigindo apenas médicos para trabalhar na saúde dos pequenos municípios. Ao mesmo tempo, veta grande parte da Lei do Ato Médico para contentar as demais profissões da área da saúde, tirando aquilo que de maneira milenar caracteriza a medicina: o direito de diagnosticar e indicar o tratamento de doenças.
Como poderão os médicos _ sozinhos no interior, sem condições de trabalho, sem equipe multiprofissional _ legalmente fazer diagnóstico e tratamento?
Respondam os gestores, mas de maneira urgente. O governo central tem que definir se quer Mais Médicos ou mais saúde.
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