Sequência de erros na organização da jornada tem repercussão internacional e demonstra despreparo do país para grandes eventos
Não passa despercebida a ponta de inveja que se insinua na manchete "Perdemos para isso?", estampada com destaque na capa do jornal "Chicago Sun-Times".
Ao salientar os tumultos nas ruas do Rio de Janeiro nesta semana, o periódico certamente desconta a frustração da cidade americana por ter perdido para os cariocas a organização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Isso não retira a razão de quem observa as reiteradas falhas durante os eventos ligados à Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Publicações americanas insuspeitas, como "The New York Times", também ressaltaram episódios constrangedores ocorridos nesta visita do papa Francisco ao Brasil.
A repercussão internacional, é claro, decorre em parte da própria dimensão do megaevento católico, ainda mais se realizado num país que sediará a Copa do Mundo já no ano que vem. Não há como ignorar, todavia, o quanto a visão crítica estrangeira revela a respeito do despreparo brasileiro.
O erro no trajeto da comitiva de Francisco logo após sua chegada ao Brasil expôs o pontífice a um risco imponderável, mas a circunstância insólita --que, por sorte, teve final feliz-- se apequenou perante problemas menos fortuitos.
A pane elétrica no metrô do Rio na terça-feira, por exemplo, tem menos de episódico e mais de estrutural. Com os vagões parados por duas horas, milhares de fiéis custaram a chegar à missa de abertura da jornada, em Copacabana.
Poderia ser este o resultado da sobrecarga de passageiros, mas a própria concessionária do metrô tratou de esclarecer que a interrupção foi provocada pelo rompimento de um cabo de energia, num fato sem relação com o movimento mais intenso daquele dia.
Da mesma forma, tem pouco de ocasional a mudança, feita de última hora, no local da vigília e da missa de encerramento da jornada. Verdade que as chuvas são as responsáveis diretas por essa alteração, mas montar uma estrutura em terreno que, segundo especialistas, é "naturalmente alagável" evidencia a falha de planejamento.
Também a polícia mostra-se despreparada. Repetiram-se no Rio os confrontos, verificados desde os protestos de junho, entre agentes do Estado e manifestantes. Em uma tentativa inconstitucional de evitar excessos, as forças paulistas prometeram barrar, em Aparecida, cartazes e faixas ofensivas "à integridade do pontífice".
Talvez adormecidas por anos sem manifestações dessa natureza no Brasil, as autoridades precisam desenvolver a capacidade de conter, com o mínimo de conflito, as facções violentas. A ação preventiva da polícia fluminense a partir de quinta-feira, com grupos de agentes misturados à multidão, parece indicar algum aprendizado.
Ainda é muito pouco, porém, para um país que pretende ter tamanha projeção internacional.
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