FOLHA DE SP - 27/07
RIO DE JANEIRO - Perguntei a Telmo Martino se, quando na BBC, ele conhecera Noël Coward. Telmo riu, como se, para um brasileirinho em Londres nos anos 50, fosse mais fácil tomar chá com a rainha do que se ver diante do grande homem --o ator, dramaturgo, diretor, compositor, letrista, cantor, frasista, showman etc. etc.
O capixaba Luiz Nogueira da Paixão, 30 anos em 1955 e louco pelas big bands americanas, que ainda eram a música popular da época, teve mais sorte. Como muitos, ele sabia de cor quem tocava o quê nas orquestras de Duke Ellington, Benny Goodman, Count Basie, qualquer uma. A mais "moderna" era a de Stan Kenton, estrelada por cobras como o saxofonista Lee Konitz, o trombonista Frank Rosolino, o baterista Mel Lewis.
Professor de inglês em Vitória, Luiz foi fazer pós na Universidade do Texas, em Austin, torcendo para que uma de suas noites livres coincidisse com a presença de alguma big band numa cidade próxima. Muito difícil. Mas, certo dia, ao olhar pela janela da cantina, Luiz viu um enorme ônibus estacionar. Na lateral do bicho lia-se "Stan Kenton Orchestra".
Correu para a calçada. O primeiro a descer do ônibus foi o próprio Kenton. Luiz cumprimentou-o, disse-se do Brasil e mencionou Laurindo de Almeida, o guitarrista brasileiro que tocara com a orquestra. Kenton, gentilíssimo, apresentou-o a Ralph Blaze, sucessor de Laurindo. E Blaze foi ainda melhor: convidou Luiz a juntar-se a eles na excursão.
Luiz nem avisou aos colegas que ia sumir. Assistiu da coxia ao frenético show em Austin, foi com a banda no ônibus até San Antonio, assistiu a mais um show de arromba e, 40 horas depois, inebriado de jazz e da convivência com seus heróis, despediu-se e voltou para a vida real --a universidade. Isso foi há quase 60 anos. Mas, para ele, até hoje, Stan continua ao alcance de sua voz.
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