FOLHA DE SP - 27/07
Expansão elevada do PIB obscurece empenho por reformas defendidas pelo presidente Xi Jinping
Analistas no mundo inteiro perguntam-se hoje que taxa mínima de crescimento o governo da China tolerará sem que recorra a aumentos substanciais dos investimentos estatais. O ministro da Fazenda, Lou Jiwei, indicou que, para 2013, espera 7% e, para mais adiante, considera 6,5% resultado tolerável.
Um fator importante a definir o piso de crescimento será a geração de emprego. O governo chinês sempre temeu a frustração dos recém-formados, sobretudo os que saíram do campo para estudar na cidade e que, sem emprego, dadas as regras de mobilidade geográfica vigentes, têm que voltar ao local de origem.
Na era das redes sociais, lidar com jovens insatisfeitos é, em toda parte, arriscado.
Mas há outros pontos relevantes na equação. O crescimento elevado obscurece o empenho por reformas. Agrada os conservadores e dirigentes locais. A ala reformista do partido sabe que, sem mudanças, a China perderá gás.
A impressão que fica é que formar consensos internos está mais trabalhoso do que se imaginou. Há quem tenha começado a duvidar da própria determinação do presidente Xi Jinping em enfrentar o custo político de grandes transformações.
Esta semana, numa reunião em Hubei, Xi voltou a defender a necessidade de reformas. Numa de suas falas, indicou que "a chave é aprofundá-las em todas as áreas".
Desde que assumiu, em março, o governo parece estar seguindo uma ordem planejada de decisões.
O primeiro passo foi ampliar a disciplina partidária, expor casos de corrupção e condenar diversos membros do partido a penas pesadas.
O segundo tem sido o anúncio de mudanças que funcionam mais como balões de ensaio.
Dois exemplos: (1) Xangai foi autorizada a flexibilizar a regra do hukou (documento de origem territorial das famílias), de modo a facilitar a legalização de trabalhadores originários de outras partes da China; (2) os bancos foram liberados para oferecer juros de empréstimos a seus tomadores, abaixo da faixa fixada pelo Banco Central.
Na verdade, as novas regras de Xangai são tão rígidas que um número reduzidíssimo de profissionais poderá valer-se delas para ganhar um hukou da cidade.
Já a liberalização dos juros terá impacto irrelevante sobre o barateamento do crédito. Talvez ajude algumas estatais. Mas as mudanças nos juros e no hukou indicam um sentido de direção.
O grande projeto anunciado até o momento foi a criação de uma zona de livre comércio em Xangai, uma espécie de versão atualizada do plano de abertura de Deng Xiaoping, em Shenzhen, em 1978, agora envolvendo livre acesso do setor financeiro externo à nova zona e flexibilidade nas regras cambiais.
O primeiro-ministro Li Keqiang, ao que se sabe, teve que usar todo o seu peso político para vencer resistências e emplacar a ideia.
Os cruzamentos de dados dos economistas ajudarão, como sempre, a estimar o crescimento. Mas quem quiser entender o que acontecerá na China terá que lançar um olhar aos sinais políticos emitidos aqui e ali. E esperar com paciência as grandes novidades.
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