FOLHA DE SP - 07/06
RIO DE JANEIRO - Quando se trata de discutir a liberação das drogas no país, há uma constante: os médicos são contra; os advogados, a maioria dos políticos, os sociólogos e os amadores, a favor. No caso destes, um dos argumentos é o de que o Estado não pode proibir o cidadão de ingerir o que for ou de fazer o que quiser com o próprio corpo. Bem, se é assim, vamos revogar a lei seca, que proíbe o cidadão de beber e dirigir, e as leis antitabaco, que o proíbem de fumar até no Maracanã.
Supondo que tais legalistas estejam certos, não faltam exemplos para provar que o Estado não pode interferir na liberdade das pessoas. Vamos a alguns.
O cidadão não pode ser proibido de usar drogas, mesmo que não tenha meios de sustentar seu consumo e, para isso, depois de tomar todo o dinheiro dos pais, passe a vender tudo de valor da família --joias, eletroeletrônicos, prataria, louça, objetos de decoração, roupas e até panelas-- para aplacar a ira do traficante. Um amigo meu, músico, teve sua insubstituível coleção de discos vendida pelo filho. Precisou também abandonar a profissão, que o obrigava a viajar e a deixar a mulher sozinha com o rapaz, sujeita a agressões.
Uma jovem não pode ser proibida de usar drogas, mesmo que para isso, idem, tenha de vender o que estiver à sua volta e, quando não houver mais nada, se prostituir para sustentar sua dependência.
Os indígenas brasileiros não podem ser proibidos de usar drogas, como já acontece nos Estados que fazem fronteira com os principais fornecedores de pasta-base de cocaína, Colômbia e Bolívia, e em que a recente chegada do crack às tribos antecipa um matar e morrer em massa.
Enfim, os 7 milhões de usuários assumidos de drogas no Brasil precisam ter os seus direitos e liberdade garantidos contra os demais 193 milhões que não querem ver seus filhos destruídos.
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