terça-feira, junho 04, 2013

Pingos nos is - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 04/06


"Alguém precisa furar esse tumor, explicitar a questão. Até para que o debate saia do campo da intriga e aconteça à luz do dia", diz o ex-ministro da Integração Nacional e atualmente um dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, sobre sua decisão de falar publicamente e sem ambiguidades sobre os atritos entre governo, PT e PMDB.

E o que diz ele? Em resumo, que os conflitos se avolumam, cresce a tendência de os pemedebistas lançarem candidatos próprios nos Estados em 2014 e, se continuar nesse ritmo, mais adiante há o risco de a convenção do PMDB não aprovar a renovação da aliança com o PT.

"Não acho salutar esse jogo nebuloso em que prospera a rasteira em prejuízo do diálogo. É uma situação muito ruim para todo mundo. Administrativamente devo lealdade ao governo, mas não posso esquecer que politicamente milito no PMDB."

Não tem nada combinado com a direção do partido, Geddel não se intitula porta-voz dos insatisfeitos nem carrega a bandeira da ruptura. "Faço uma constatação, não uma pregação." Trata-se, segundo ele, de uma resolução unilateral com dois propósitos: sentir o "pulso" do PMDB sobre a consistência das crescentes reclamações e levar a uma solução do problema.

Para o bem ou para o mal. Ou se estabelece com transparência o entendimento ou se chega à conclusão de que em 2014 os dois maiores parceiros da aliança que sustentam o governo vão brincar separados. Uma terceira hipótese é a de essa manifestação cair no vazio e as coisas continuarem como estão - na base da intriga de bastidor em clima de tensão permanente.

Nesse terreno meio movediço ninguém sabe direito qual o tamanho real da encrenca nem se o que move os queixosos é a política ou o fisiologismo em estado bruto.

Se a opção for recorrer aos panos quentes, se a escolha for por "abafar o caso", isso vai significar que o partido prefere atuar na dinâmica do estresse para não se arriscar a perder algumas benesses que ainda lhe rende a condição de aliado preferencial, mas sem abrir mão do gestual de protesto.

"Digo isso claramente porque as pessoas estão com medo de falar sobre os efeitos da antecipação do processo eleitoral, que antecipou também a explosão das angústias estaduais."

Em miúdos: o PMDB se vê alijado do centro do poder federal. Embora ocupe a vice-presidência da República, ministérios e um punhado de cargos, não participa das decisões de governo.

Com isso, fica regionalmente desguarnecido para montar palanques fortes, eleger governadores e formar grandes bancadas no Congresso de onde vem a força do partido desde que desistiu de construir seu próprio projeto nacional mediante a disputa da Presidência da República.

Na última eleição municipal o número de prefeituras do PMDB foi reduzido significativamente. Segundo avaliação interna, isso ocorreu muito em função de o partido ter-se colocado a reboque dos interesses eleitorais do PT.

A se repetir esse padrão em que aos pemedebistas fica sempre reservado o papel de coadjuvantes, a consequência pode ser a redução da representação do partido no Parlamento e daí a perda de influência em decorrência do esvaziamento do principal ativo do partido.

A proposta de Geddel Vieira Lima é que as cartas sejam postas na mesa com franqueza: o PMDB diga ao governo que precisa de instrumentos e autonomia para preservar sua condição de partido com presença importante no cenário nacional e o governo diga ao PMDB se há espaço para convivência ou se ao PT o que interessa mesmo é ser o dono absoluto da bola.

Postos os pingos nos is, cabe aos brigões decidir se vão, se racham ou se preferem continuar aos trancos para ver como é que na hora H ficam os barrancos.

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