O risco numa situação de PIB baixo e inflação em alta é o governo ficar tentado a fazer estripulias que terminam por danificar o organismo produtivo para o futuro
O Conselho de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 7,5% para 8% ao ano. O argumento é que a elevação foi necessária para combater a inflação. Para 2013, a meta de inflação fixada pelo Banco Central (BC) é de 4,5%, medida pelo IPCA. A resolução do BC fixando essa meta prevê a margem de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo, ou seja, de 2,5% a 6,5%. Mas a inflação vem teimando em superar o teto desde o início do ano e, embora o IPCA seja calculado com base em 365 itens de bens e serviços de consumo, o grupo “alimentação”, aquele que mais atinge as famílias, chegou a atingir 14% de elevação no acumulado de 12 meses.
Diante desse quadro, nada mais normal que o Copom eleve a taxa Selic, pois ela é o principal instrumento à disposição do BC para combater a escalada dos preços. O problema não está na conexão lógica e aceitável entre elevação de preços e subida na taxa de juros, mas sim em outro ponto: a coexistência perversa entre inflação em alta e Produto Interno Bruto (PIB) em baixa. Essa combinação é explosiva e capaz de provocar duas consequências altamente negativas para o bem-estar social: a perda de poder de compra dos salários (efeito da inflação) e o aumento do nível de desemprego (efeito do PIB em baixa).
O PIB do ano passado cresceu à taxa pífia de 0,9% (embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha começado o ano prevendo crescimento de 4%) e as previsões feitas por instituições do mercado para 2013 estão jogando a estimativa para baixo – algumas falam em 2,5%, longe da previsão do governo de 4% para este ano. O PIB está em queda por algumas razões, entre elas a redução do consumo das pessoas resultante do endividamento nos anos anteriores e da inflação recente.
Tendo em conta o atual panorama econômico, a coexistência de inflação alta (que corrói o poder de compra), PIB em baixa (que gera desemprego) e juros subindo (o que encarece as dívidas e desestimula investimentos) constitui um conjunto de indicadores com potencial de empobrecer a população e corroer a popularidade do governo. A presidente Dilma Rousseff somente aceitou hipotecar seu apoio à decisão do BC de elevar os juros por ter sentido queda em seus índices de popularidade.
Tanto para fins de confiança no governo quanto para o otimismo das pessoas, as duas situações mais graves – portanto, a serem evitadas a qualquer custo – são a inflação e o desemprego. Juntas, essas duas doenças econômicas têm o potencial de jogar a população contra o governo e tirar votos de um presidente candidato à reeleição. Como Dilma é candidata, em 2014, a um segundo mandato, ela corre contra o tempo e, para não correr riscos eleitorais, precisa trazer a inflação para baixo em poucos meses (sem apelar à solução argentina de maquiar os índices) e, ainda por cima, tentar evitar que a taxa de desemprego aumente.
Outro aspecto com capacidade para estimular o pessimismo econômico é a repetição do chamado “voo da galinha”, ou seja, o crescimento do PIB em uns poucos anos para, na sequência, perder fôlego e cair. Aplicado à economia, o conceito de crescimento sustentado significa ter o PIB crescendo todos os anos a uma taxa superior à taxa de aumento da população. Em 2012, verificou-se uma situação muito ruim: o PIB cresceu apenas 0,9% contra um aumento de 1,1% da população, diminuindo, assim, a fatia média de cada habitante (renda per capita).
O risco numa situação como a atual – quadro econômico ruim à véspera de eleição presidencial – é o governo ficar tentado a tomar medidas heterodoxas e não convencionais e acabar fazendo estripulias que, além de não resolverem o problema, terminam por danificar o organismo produtivo para o futuro. Exemplo disso foram os planos econômicos dos anos 80 que, tentando resolver os dramas econômicos por meio de mágicas não funcionais, deixaram de atacar os verdadeiros problemas do país, especialmente os déficits públicos, o inchaço do Estado, o intervencionismo, o protecionismo e a emissão de dinheiro.
Quando o governo Lula conseguiu manter o PIB em crescimento, especialmente por um conjunto de medidas fiscais e creditícias, novamente foi cometido o erro de serem postergadas as reformas estruturais (a trabalhista, a tributária e a previdenciária), as privatizações e a falta de investimentos em infraestrutura. Esgotada a possibilidade de puxar o aumento do PIB pelo aumento do consumo das pessoas, o Brasil está sentindo que os entraves internos ao crescimento econômico estão todos aí.
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