A construção de bons indicadores antecedentes para informar o mercado e melhorar a qualidade da política econômica sempre foi um dos mais importantes objetivos das técnicas de mensuração que vem sendo incessantemente desenvolvidas por estatísticos, econometristas e economistas.
É uma espécie de esporte nacional de todos os bancos centrais. O nosso não escapa à regra. Vem aperfeiçoando a construção de um indicador mensal (o índice IBC-Br), que deverá mimetizar a taxa de crescimento do PIB, quando convenientemente acumulado, trimestral ou anualmente.
Ele exerce um fascínio sobre todos os que se interessam pelo assunto por motivos profissionais e tende a exercer alguma influência sobre o comportamento dos agentes econômicos. A crítica que lhe é feita refere-se a que o Banco Central não tem dado suficiente transparência à metodologia de sua construção. De certa forma isso é compreensível, dadas às incertezas que cercam o exercício e o fato que se trata de um indicador ainda incipiente e sujeito a chuvas e trovoadas.
As estimativas de crescimento do PIB, que permitem comparar o IBC-Br com as estimativas do IBGE, do crescimento de cada trimestre sobre o imediatamente anterior, têm apresentado diferenças significativas (ver tabela abaixo). Quando se amplia o horizonte de observação e se compara os vários trimestres de cada ano com o seu anterior, o IBC-Br parece flutuar em torno das estimativas do IBGE, mas os erros pontuais continuam grandes.
No segundo trimestre de 2013, há algumas indicações de que o nível de atividade tenha melhorado. O IBC-Br de abril-março cresceu 0,84%, estimulado pela forte recuperação do setor industrial, que provavelmente não se repetirá em maio-abril. Parece, entretanto, confirmarem-se as expectativas do Banco Central (e de alguns analistas de mercado), segundo as quais a expansão no segundo trimestre com relação ao primeiro será um pouco maior do que 0,6%. Isso sugere para 2013:
1) a possibilidade de crescimento do PIB próximo de 3% (com um aumento médio dos últimos três trimestres parecido com 0,75%); 2) uma taxa de inflação desconfortável, mas sob controle, em torno de 6%; e 3) um incômodo déficit em conta corrente de US$ 75 bilhões.
Há pouca coisa a fazer com relação a esses números, a não ser reconhecer que o aumento dos gastos do governo que apenas estimulam o consumo tem - por necessidade aritmética produzida pelas identidades da contabilidade nacional - que acabar em mais inflação. Se o Banco Central recusar firmemente a "dominação fiscal", como agora dá sinais de que vai fazer, terá de ajustar a taxa de juros real com graves efeitos colaterais.
Não se sugere, obviamente, reduzir ou sacrificar os programas de inclusão social que civilizaram o nosso desenvolvimento. Foram eles que propiciaram o sentimento de bem-estar social revelado em todas as pesquisas de opinião (internas, como a de nossos institutos, e externas, como a da PewResearch). Trata-se de assumir o compromisso de colocar o ritmo de crescimento de todas as despesas apenas ligeiramente abaixo do crescimento do PIB, uma vez que as receitas do governo crescem mais do que ele.
Quando o crescimento é lento, não por falta de demanda global, mas porque não há fatores de produção disponíveis na proporção adequada (como é hoje o caso da mão de obra), as despesas do governo financiadas por um aumento da dívida pública são feitas à custa da redução das despesas do setor privado, com dois inconvenientes: 1) em geral o cidadão que compra o papel está sendo educado para ser "rentista". Em outras palavras, estamos ensinando que "bom é o rendimento sem risco"; e 2) isso aumenta a dívida pública e pressiona os juros, o que desestimula o investimento privado com risco, que é a essência do desenvolvimento!
É preciso insistir sobre três fatos: 1) só pode ser distribuído o que já foi produzido, ou o que tomamos emprestado do exterior através do déficit em conta corrente, que é financiado pela paciência dos investidores externos, mas ela é finita; 2) o governo não produz nada. É mero transferidor de recursos produzidos pelo setor privado. Na transferência, consome um alto pedágio para sustentar-se; e 3) o papel do governo não é o de produtor, mas o de regulador. Sem garantia jurídica e adequada regulação, a economia de mercado não funciona. Talvez produza alguma eficiência produtiva, mas é incapaz de controlar sua tendência a produzir desigualdades pessoais indesejáveis e flutuações insuportáveis no nível de emprego, que estressam os trabalhadores.
O governo tem tomado medidas que, apesar de produzirem ruídos no curto prazo, vão na direção de aumentar a produtividade total da economia no prazo médio, o que significa que estamos nos preparando fisicamente para acelerar, no futuro, a taxa de crescimento.
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