FOLHA DE SP - 02/06
Presidente chega ao fim de seu período de aprendizado com um fracasso na política econômica
O GOVERNO da economia brasileira não faz mais sentido algum neste terceiro ano de Dilma Rousseff. Não produziu nem ao menos os resultados desejados pela presidente, é incoerente e não prepara o país para dias melhores.
Isto posto, o que Dilma Rousseff pretende fazer? O problema começa aí: ao menos desde a segunda metade do seu ano de estreia, a presidente é uma mistura de Esfinge com Medusa. Não se sabe bem o que pensa nem para onde quer ir; paralisa todas as partes do governo para onde olha.
Se fosse apenas esse o problema, a confusão e o desnorteio de inícios de governo, Dilma estaria até em boa companhia.
Franklin Roosevelt, que virou a história americana de cabeça para baixo, tomou posse do governo dos Estados Unidos com um programa, começou a governar com outro e a seguir ainda mudou de ideia.
Quando assumiu, Abraham Lincoln não sabia nem onde ficava o cafezinho da Casa Branca, por assim dizer; era meio banana e considerado um jeca idiota por parlamentares e pelos seus secretários e generais mais importantes.
Pode-se dizer que os dois aprenderam uma ou outra coisa pelo caminho.
Mesmo Dilma se move, ainda que na undécima hora e em agonia ideológica teimosa. Quando viu que do mato do governo não sairia coelho ou investimento em infraestrutura, aceitou a contragosto privatizar estradas, aeroportos, portos. Mas, para não dar o braço a torcer, quis fazer uma privatização meio estatizada, com o que enrolou o meio de campo. Voltou atrás mais um bocado, e assim vamos, neste bolero capenga, dois para lá, um para cá.
Capenga mesmo é sua política macroeconômica, na verdade descoordenada de modo essencial: um pé vai adiante, outro recua. O Banco Central aumenta os juros a fim de, entre outras coisas, desestimular o consumo, pois a inflação é mesmo um problema. Mas o governo gasta mais, a fim de estimular a economia ou por negligência. Trocando em miúdos, o governo toma uma pílula para dormir bebendo um bule de café. Não vai prestar, claro.
Como tal política não faz sentido algum, a gente pode especular que a presidente talvez tenha mudado de ideia, enfim, e vai dar um jeito de evitar que as contas do governo mergulhem no vermelho onde já nadavam. O deficit público está na beira dos 2,5% do PIB em 2012 para bem mais de 3% do PIB neste ano.
Pode ser. Mas, ainda em março, a presidente dizia que não aceitava aumentos de juros ou baixas no crescimento a fim de controlar a inflação, como declarou desastradamente na África do Sul.
Espera-se que a presidente tenha atravessado outro período de agonia ideológica e esteja em paz com a ideia de que precisa dar um jeito ao menos no essencial de sua política econômica.
Além dos problemas que herdou, daqueles que não resolveu (alta de custos) e de outros que criou (desconfiança das empresas), há cascas de banana novas na calçada, o dólar subindo, o risco de mudança na política de juros nos EUA, a mudança de padrão no crescimento chinês, a desconexão brasileira das redes de comércio mundial etc. etc.
Está na hora de a presidente demonstrar que não é mais caloura, como tantos colegas ilustres o fizeram.
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