GAZETA DO POVO - PR - 08/06
A agropecuária ganhou crédito para cumprir suas metas. Agora o país precisa dar lastro a esse crescimento com investimentos em infraestrutura
O Brasil usa o agronegócio como uma carta na manga para a sustentação do crescimento econômico. Dias atrás, o governo ampliou a oferta de crédito e espera estimular a produção de alimentos e de produtos de exportação como soja e milho. Mais que uma manobra econômica, no entanto, a estratégia reforça a contínua expansão do setor e, automaticamente, aumenta a pressão sobre a infraestrutura de armazenagens, rodovias e portos.
O crescimento rápido da produção é apontado como principal causa da sobrecarga nas linhas de escoamento das commodities enfrentada nos últimos anos. Os investimentos em silos, estradas e corredores portuários chegam tardiamente. Com o crédito extra e a demanda internacional sustentada, a produção brasileira deve crescer novamente em 2013/14, passando de 185 milhões para mais de 190 milhões de toneladas de grãos.
O quadro reforça a necessidade de ampliação contínua também da infraestrutura. Ainda não há previsão de quando o escoamento da safra vai ocorrer sem filas de caminhões e navios. Também não há prazo para que os portos consigam cumprir a agenda de embarque. O tempo que os navios importadores esperam na costa paranaense, por exemplo, é maior que a duração de uma viagem de ida e volta para a China pelo Oceano Atlântico.
Evidentemente, a falta de infraestrutura não deve impedir a agropecuária de elevar sua produtividade e renda. A ampliação do crédito para a produção com juros subsidiados é benéfica por uma série de motivos. Aumenta a competitividade do agronegócio brasileiro, estimula a profissionalização do setor, faz girar a economia da maior parte das cidades, fortemente ligadas à economia rural.
Mas a revisão dos investimentos estruturais torna-se uma necessidade constante quando se atinge os limites da logística. No pacote que ampliou o crédito rural, só o déficit da armazenagem teve atenção – com promessa de R$ 25 bilhões a juros de 3,5% ao ano para que a iniciativa privada elimine a falta de armazéns ainda nesta década, e de R$ 500 milhões para a estrutura pública, que é subutilizada por estar obsoleta. O atraso nas obras de estradas e ferrovias e os percalços da reforma do sistema portuário ficaram de lado, como se a tática fosse resolver um problema de cada vez.
O governo elevou o orçamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), destinando R$ 136 bilhões para financiar a agropecuária comercial em 2013/14, valor 18% maior que o da temporada anterior. Espera reflexos positivos no Produto Interno Bruto (PIB) e na balança comercial de 2013 e 2014. A estratégia vem sendo usada há uma década e, neste ano, ganha importância decisiva na positivação dos indicadores.
A produção de grãos vem batendo recorde atrás de recorde e não será difícil passar de 185 milhões para 190 milhões de toneladas. Houve crescimento de 18 milhões de toneladas na temporada 2012/13, conforme os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As exportações do agronegócio, que atingiram US$ 99,5 bilhões nos últimos 12 meses, tendem a superar esse valor dentro de um ano com o aumento do volume embarcado e os reajustes esperados para produtos como as carnes. Esse quadro mostra que estimular o setor é optar por uma aposta que dá certo.
O Plano Safra da Agricultura Familiar, também anunciado recentemente, confirma a busca por equilíbrio econômico no campo. A elevação do orçamento do Pronaf em R$ 3 bilhões (para R$ 21 bilhões) e a ampliação da abrangência do programa tornam acessíveis financiamentos com juros baixos – de 3,5% ao ano – às unidades que faturam anualmente até R$ 360 mil. O limite, que era de R$ 160 mil ao ano, foi mais que dobrado. A expectativa é de que aumente a oferta de alimentos como leite, feijão, arroz, batata, e que haja maior equilíbrio nas tabelas dos supermercados.
A agropecuária, que projeta expansão de 9% em seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, ganhou crédito para cumprir suas metas. Agora o país precisa dar lastro a esse crescimento com investimentos concretos em infraestrutura.
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