sábado, maio 04, 2013

O maior trunfo da presidente - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 04/05
Virou lei: em toda data comemorativa, lá está Dilma a falar no rádio e na televisão e anunciar uma novidade. Logo depois do pronunciamento, os petistas assumem a missão de replicar o discurso na imprensa e nas redes sociais. Pior para a oposição

Há algo imbatível nos movimentos eleitorais de Dilma Rousseff. Algo inerente ao cargo, não à pessoa, mas guardado como um trunfo que desnorteia a oposição em intervalos cada vez menores. Os anúncios oficiais de promessas ou ações positivas, geralmente feitos em datas festivas e com reflexos exponenciais nos palanques, paralisam adversários. Como apenas ela, entre os presidenciáveis, pode se utilizar de tal mecanismo, o jogo fica desigual, por mais que nada possa ser feito para tirar os discursos no rádio e na televisão. O choro dos insatisfeitos apenas reforça os pronunciamentos.

Em pelo menos quatro casos, Dilma usou a prerrogativa de falar com as brasileiras e os brasileiros. Foi assim no Dia das Mães, no ano passado, quando ela anunciou o Brasil Carinhoso. O programa oferece uma renda mensal - de no mínimo R$ 70 - a toda família carente que tenha uma criança de zero a seis anos. Simpática, na televisão Dilma lê um discurso elaborado por marqueteiro, com frases curtas, publicitárias. Na época, a CPI do Cachoeira estava no ápice e a presidente se via envolvida com o controverso Código Florestal. Mas nada que atrapalhasse a petista. Lá estava ela, a mastigar frases.

No último 7 de Setembro, Dilma aproveitou o discurso festivo para revelar o plano do governo federal em reduzir as tarifas de energia. A campanha eleitoral nas capitais estava fervendo e a presidente teve o um belo arranca-rabo com Fernando Henrique Cardoso. Era um período propício para anunciar - mesmo que a medida só começasse a valer dali a cinco meses - uma redução média de 16,2% nas contas pagas pelo consumidor residencial e de quase 28% para o setor produtivo. No balaio, Dilma prometeu a retomada do crescimento no ano seguinte e defendeu o modelo de concessões.

No final de janeiro deste ano, a presidente voltou à TV para confirmar a redução da conta de energia em índices ainda melhores - 18% para consumidores e 32% para as indústrias. E, mais importante: aproveitou a oportunidade para negar o risco de racionamento. Os petistas, na imprensa e nas redes sociais, fizeram o resto: criticar diretamente o apagão dos tucanos. Assim, a campanha se desenvolve, com a plateia replicando o discurso e sendo mais explícita em relação à pré-campanha. É fácil, parte-se de um fato político incontestável, o discurso presidencial. E tome mote eleitoral.

No Dia da Mulher, lá estava ela. Daquela vez, há dois meses, anunciou a retirada de impostos federais de todos os produtos da cesta básica. Um belo presente, diriam corneteiros governistas. Na prática, algo para tocar o coração do eleitor. No pacote, divulgou ações de defesa do consumidor e de combate à violência contra a mulher. No final, usou um poderoso slogan contra homens violentos: "Se vocês agem assim por falta de respeito ou de amor, não esqueçam que a maior autoridade deste país é uma mulher, uma mulher que não tem medo de enfrentar os injustos nem a injustiça, estejam onde estiverem".

Na última quarta-feira, Dilma não anunciou absolutamente nada, ao contrário do que se esperava - afinal, como em toda data comemorativa tinha uma "bondade", qual seria a da vez? Ficamos sem uma única medida, mas ganhamos a discurseira contra os bancos privados. "É inadmissível que o Brasil continue com um dos juros mais altos do mundo". Segundo ela, o setor financeiro não tem como explicar "a manutenção das altas taxas praticadas no cheque especial, empréstimo e cartão de crédito". Uma combatente contra os banqueiros e especuladores. Um personagem e tanto.

Não é fácil para a oposição brigar contra os pronunciamentos. E Dilma dia a dia vai melhorando no vídeo. Assume as frases do marqueteiro João Santana como se fossem da própria lavra. Mas tem horas que tudo ganha um sentido um tanto bizarro, como no final do discurso de quarta-feira: "Viva o 1º de maio, viva o trabalhador brasileiro, viva o nosso querido Brasil." Só faltou um "viva Dilma".

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O Correio ganhou o Prêmio Embratel por conta das reportagens sobre o fim dos 14º e 15º salários de parlamentares. É um orgulho trabalhar nesta equipe.

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