O Estado de S.Paulo - 04/05
Houve quem olhasse para o desempenho desastrado da indústria em fevereiro (queda de 2,4% em relação ao mês anterior) e festejasse o crescimento de 0,7% em março (sobre os resultados de fevereiro) - veja gráfico ao lado.
Mas não há muito o que comemorar. Essa recuperação não é nem satisfatória nem consistente. Não é satisfatória porque, mais uma vez, veio abaixo das expectativas e do que a indústria poderia dar. E não é consistente porque, por enquanto, nada garante o crescimento sustentado da produção industrial nos próximos meses. Ao contrário. O ambiente de baixo entusiasmo tende a apertar as amarras e a impedir o avanço.
Enfim, a indústria vive o que o diretor do Departamento de Pesquisas da Fiesp, Paulo Francini, já havia dito na quinta-feira, a respeito da atividade industrial no Estado de São Paulo: "A recuperação está longe do ritmo das recuperações anteriores. Não há muito a lamentar; não há muito a comemorar".
Essa frouxidão também afrouxa, por sua vez, as previsões sobre o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Vai pintando desempenho insatisfatório de toda a atividade econômica no primeiro trimestre, provavelmente não superior a 0,6%. E esse começo medíocre em 2013 compromete, dentro do governo, até mesmo as projeções mais conservadoras do Banco Central, de aumento do PIB na ordem de 3,1% em todo este ano.
Inconformados com a perspectiva de mais um pibinho, alguns economistas advogam revisão das Contas Nacionais, de maneira a incorporar uma participação mais elevada do setor de serviços do que os atuais 68,5% levados em consideração até agora, para que seu melhor desempenho possa refletir crescimento maior. Não se trata de enfeitar os números; trata-se somente de conferir peso mais realista ao setor dos serviços.
Caso essa mudança metodológica fosse incorporada, o tamanho da indústria na economia brasileira ficaria proporcionalmente ainda mais baixo do que já ficou e incrementaria as queixas de desindustrialização do País.
O comportamento fraco do setor industrial numa conjuntura de forte crescimento da procura põe novos focos de luz sobre duas distorções que, de resto, já vêm sendo denunciadas pelos analistas econômicos.
A primeira é a perda crescente de competitividade da indústria em consequência dos custos brutais que vem enfrentando, agora acrescidos do encarecimento da força de trabalho em ternos reais, de quase 7% em sete anos.
A segunda distorção, que se segue à anterior, é que, longe de beneficiar a indústria do Brasil, o forte ritmo de expansão do consumo concorre para ampliar o mercado da indústria de outros países e menos, o da indústria local. É o resultado que vem obtendo a política deste governo, que se apresenta como defensor dos interesses nacionais.
Subproduto do desempenho insatisfatório da indústria é a elevação do pessimismo e o progressivo adiamento da propensão do empresário a investir - fator adicional que impede o salto do crescimento econômico.
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