sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Surfando no crescimento mundial - LUCIANO NAKABASHI

GAZETA DO POVO - PR - 01/02

Esse título parece estranho pelo momento em que se encontram as economias nacional e mundial. No entanto, o atual cenário explicita o que foi dito por muitos analistas na era Lula: o país estava surfando na onda do crescimento mundial, além de aproveitar os frutos de reformas que tinham sido realizadas no governo anterior e no início do primeiro mandato do governo Lula.

Aproveitar o crescimento da economia mundial foi positivo para o país, pois foi um período em que presenciamos uma significativa redução no desemprego, melhora nos níveis salariais e na distribuição da renda, estímulo ao “espírito animal” dos empresários com elevação dos investimentos, melhora na autoestima dos brasileiros, entre outros fatores.

O problema é que reformas e investimentos importantes deixaram de ser realizados para que o país pudesse manter uma razoável taxa de crescimento. Os grandes méritos do governo Lula, na parte econômica, foram: manter a política macroeconômica do governo anterior; unificar e estimular os programas de transferência de renda que não são custosos e atingem parte da população que realmente é mais vulnerável; e elevar o crédito às famílias.

No entanto, a redução do crescimento mundial, a falta de reformas e de investimentos relevantes na era Lula – como fortalecimento das agências reguladoras, redução da burocracia e da carga tributária, combate à corrupção, melhora na infraestrutura e na qualidade educacional –, além de erros adicionais na política econômica do governo Dilma redundam no período de baixo crescimento por que estamos passando.

O atual governo vem adotando políticas econômicas de médio e curto prazos voltadas, sobretudo, ao estímulo da demanda agregada para reverter o cenário de baixo crescimento. No entanto, a mudança de regime cambial, a redução do superávit primário e dos juros, os estímulos fiscais para determinados setores da economia, e a injeção de grandes somas de recursos no BNDES, entre outras medidas, não foram suficientes para recolocar a economia em uma trajetória de razoável crescimento.

Ao se observar a convivência de um baixo nível de desemprego com um crescimento medíocre nos dois últimos anos, fica evidente que estímulos adicionais à demanda irão se traduzir em pressões no mercado de trabalho, sendo que este já se encontra em uma situação próxima do pleno emprego. Como consequência, iremos presenciar uma elevação da inflação e das importações.

O problema atual do país vem da oferta, sobretudo do fraco desempenho da produtividade. É preciso estimular os investimentos produtivos através da garantia dos direitos de propriedade, com especial ênfase ao retorno dos investimentos realizados e da garantia e estabilidade das “regras do jogo”. O governo federal deve priorizar um ambiente que incentive o bom funcionamento do mercado sem interferências que prejudicam ainda mais as expectativas dos empresários. Os investimentos públicos devem ser realizados em áreas que são complementares aos investimentos privados e em parceria com estes, devido à restrição orçamentária – como, por exemplo, em infraestrutura.

Como enfatizado recentemente por Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central e professor da PUC-RJ) em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, “o governo orienta, cuida do estádio e do gramado e não se mete a cobrar escanteios”.


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