sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Causa & consequência - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 01/02

A expressão dos senadores Pedro Taques (PDT_MT), Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) no gabinete de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) denunciava ontem a escassez de votos. A maioria dos senadores, salvo um cataclisma, se prepara para fazer de Renan Calheiros (PMDB-AL) presidente do Senado no lugar de José Sarney (AP). A dissidência se limita aos pedetistas, ao PSol, a Jarbas, a Eduardo Suplicy, do PT e, ainda, aos dois partidos que têm pré-candidatos a presidente da República, o PSDB do senador Aécio Neves e o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Como na física, cada ação terá uma reação. Os dissidentes — em especial o PSDB, que tem assento reservado na Mesa Diretora — correm o risco de perder o cargo que lhes cabe. O regimento do Senado é claro no que se refere ao respeito à proporcionalidade. O maior partido indica o candidato a presidente e os demais indicam os cargos de acordo com o número de senadores. Como o PSDB não respeitará a decisão do PMDB de lançar Renan, os peemedebistas se mobilizam para eleger Sérgio Souza, do Paraná, no lugar de Flexa Ribeiro, o indicado dos tucanos.

Essa ameaça deixou o ninho do PSDB pra lá de dividido. O partido anseia por voz ativa no Senado. Mas não pode desmoralizar o senador Aécio Neves, que já declarou com todas as letras que a bancada tucana apoiará Pedro Taques. Nesse sentido, há quem diga que a saída honrosa para o PSDB é descarregar votos em Taques para não deixar Aécio sem bancada.

A consequência de tudo isso é que o Senado de Renan começará 2013 dividido. E ninguém sabe se o senador alagoano terá condições de aglutinar seus colegas para assegurar dois anos de tranquilidade na condução da Casa. Sarney, na condição de ex-presidente da República, produzia um certo acanhamento à oposição e poucos ousavam enfrentá-lo. Não se sabe hoje se haverá a mesma deferência a Renan.

O grupo de Jarbas receia que a ascensão de Renan jogue o Senado na agenda negativa onde está hoje o mensalão. E isso não está livre de ocorrer por conta da atitude do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, criticada por muitos, de apresentar o pedido de indiciamento de Renan ao Supremo Tribunal Federal uma semana antes da eleição. Ora, por que não o fez lá atrás?

Apesar das reclamações sobre a atitude de Gurgel, caberá ao futuro presidente da Casa trabalhar com essa realidade. Afinal, o pedido existe e será avaliado pelo STF. E se o Supremo acolher o pedido do Ministério Público? O PMDB não tem hoje uma resposta clara a essa pergunta. A visão da maioria do PMDB é a mesma dos petistas acusados no processo do mensalão, um grupo que viveu — e ainda vive a cada dia — a sua aflição. Um passo de cada vez. Cuidando para que o céu não lhes caia sobre a cabeça.

Enquanto isso, no PT…

A maioria dos petistas vai votar fechada com Renan. Os colegas de partido de Dilma Rousseff passaram a semana aliviados com o foco da mídia voltado para o PMDB do Senado e da Câmara, que tem o deputado Henrique Eduardo Alves candidato a presidente. Assim, abrem 2013 sem reportagens a respeito do mensalão. Uma lufada de ar, diz um integrante do partido, sempre cai bem. A intenção dos petistas é aproveitar esse período para dar aquela respirada e se preparar para os solavancos da área econômica.

E na Câmara dos Deputados…

Ninguém tem mais dúvidas de que o PMDB está a um passo de retomar aquelas divisões que marcaram o comportamento do partido até 2005, quando, em função da crise do mensalão, Lula acolheu a todos em seu governo. O quadro ficará claro no domingo, quando o partido escolherá seu futuro líder. Essa disputa entre Eduardo Cunha, Sandro Mabel e Osmar Terra criou um ambiente litigioso capaz de rebaixar as brigas por espaço interno no passado em meros “mal-entendidos”.

E a Dilma, hein?

Hoje ela ficará bem longe da eleição do Senado. Cada vez mais a presidente se distancia das aflições do Parlamento e do Judiciário e cuida da sua própria sobrevivência política. No Planalto, diz-se que esta viagem de hoje ao Pará estava marcada havia tempos. Ela volta apenas no meio da tarde, quando o presidente do Senado estará eleito.

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