sexta-feira, fevereiro 15, 2013

O tempo de cada um - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 15/02

A cada dia que um jornalista queria uma avaliação futura do então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, ele se saía com essa: “Muita calma. A cada dia a sua aflição. Não vamos antecipar problemas nem podemos agir antes que cheguem”. É assim que os partidos estão hoje em relação à recandidatura da presidente Dilma Rousseff. A sensação na base é a de que talvez esteja tarde para Dilma colocar todos os partidos aliados dentro da bolsa sem fazer muito esforço.

Ela fez isso em 2010, quando, embalada pela popularidade de Lula, chegou ao Planalto. Repetiu a dose ao longo dos dois primeiros anos de governo. Agora, com a antecipação do calendário eleitoral, o jogo de 2013 começa invertido. Muitos partidos têm a sensação de que Dilma é quem precisa deles, e não eles do governo dela.

O PR, por exemplo. Desde que o senador Alfredo Nascimento deixou o Ministério dos Transportes e o partido se declarou independente, existe a conversa de retorno à base aliada — leia-se aos cargos. Os líderes da legenda estiveram recentemente no Planalto. Ouviram da presidente que o senador Blairo Maggi não será ministro pelo PR. Nem poderia. Blairo apresentou, no ano passado, uma consulta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para deixar o partido sem perder o mandato. Alegou problemas internos e sustentou que Valdemar Costa Neto, condenado no processo do mensalão, continua mandando na agremiação. O clima entre ele e o PR azedou de vez.

O partido, da sua parte, está hoje com aquele ar de superioridade perante o Planalto. Isso porque, conforme revelam alguns integrantes da legenda, ficaram tanto tempo fora do poder que podem perfeitamente ficar mais um pouco e tentar algo melhor num governo futuro. Afinal, se tem uma coisa que político sabe fazer é calcular o tempo. Uma nomeação em março, quando Dilma ficou de chamar o PR para uma conversa mais consistente sobre o retorno ao primeiro escalão, é praticamente 2013 perdido. Até o ministro assumir (seja ele quem for) e conhecer a máquina (seja ela qual for), o Orçamento já estará todo comprometido. E, 2014, ano eleitoral, é bem mais curto, não há tempo de fazer muita coisa por conta do prazo exíguo de liberação de recursos. Isso quer dizer, na avaliação de integrantes do partido, que Dilma perdeu o timing dessas nomeações.

Enquanto isso…

A ausência de grandes expectativas do PR em relação aos cargos que pode assumir no governo Dilma tem um outro ingrediente: o assédio de pré-candidatos a presidente. Tanto o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, quanto o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tiveram conversas com integrantes do Partido da República. A conversa de Campos é de pré-candidatíssimo. Afinal, o PR tem dois minutos e meio de horário eleitoral gratuito na tevê, mais de 400 prefeitos, 37 deputados federais e sete senadores, uma estrutura nada desprezível. Se atrair o PR, Eduardo conquista ainda um nome com força em Campos, no Rio de Janeiro: Anthony Garotinho, líder do partido na Câmara. Garotinho já foi candidato a presidente da República pelo PSB. O relacionamento com a legenda esteve ruim, mas em política a necessidade faz mais milagres do que um bom anti-inflamatório.

Por enquanto, entretanto, o PR não pensa em largar Dilma. Afinal, o ano está começando e um carro oficial com bandeira verde e amarela na placa indicando que se trata de um ministro de Estado tem lá o seu charme. Os republicanos não esquecem as mágoas, mas também não vão largar o governo assim, rumo a uma aventura. Daqui para frente, essa turma, como todas as outras, vai é tratar de valorizar o passe, o que exigirá de Dilma uma paciência oriental. Resta saber se ela está disposta a adotar os velhos ensinamentos de Confúcio.

Um político a ser lembrado

Lá se vai mais uma grande estrela do passado recente do Brasil. O ex-ministro da Justiça e ex-deputado Fernando Lyra, importantíssimo na coordenação da campanha de Tancredo Neves dentro do colégio eleitoral em 1984, integrante do grupo dos autênticos do MDB, com passagens posteriores pelo PDT e pelo PSB, tinha a boa política no sangue. Fará falta neste momento em que a política parece cada vez mais desacreditada. A coluna deixa aqui as condolências à família e espera que seu exemplo inspire nossos jovens. Afinal, o tempo de Fernando Lyra se foi, e se os bons como ele não gostarem da política, outros ocuparão o lugar.

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