FOLHA DE SP - 30/11
À medida que os dias passam, o escândalo que veio à tona com a operação Porto Seguro, da Polícia Federal, ganha novas camadas de bizarrice. O fulcro da investigação é o escritório da Presidência em São Paulo e a inexplicável influência de sua chefe, mas os tentáculos da rede em Brasília revelam outros personagens estranhos -e negócios mais estranhos ainda.
O que de início parecia um esquema de favores, vantagens e falcatruas de pequeno porte -descritos como "chinelagem" por policiais- logo subiu de categoria. Engolfa já ilhas inteiras, a concessão de uma empresa de contêineres, a falsificação de diplomas e registros de faculdades... Pequenas corrupções e grandes negócios.
A excentricidade maior é encontrar na base do esquema e no comando do escritório presidencial -do qual foi agora exonerada- Rosemary Novoa de Noronha, conhecida como Rose. Sua única qualificação conhecida é o histórico de colaboração com o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente Lula, que ali a instalou e manteve.
Não menos esquisito é Rose ter conseguido plantar na diretoria da Agência Nacional de Águas um representante periférico da militância petista, Paulo Rodrigues Vieira. Este seria o verdadeiro coordenador do que a PF investiga como um esquema de venda de pareceres do governo federal para favorecer interesses empresariais.
Entre eles está a regularização da ilha de Bagres, em Santos, onde o ex-senador Gilberto Miranda pretendia operar instalações portuárias. Mas Vieira também se ocupava de miudezas, como facilitar verbas para uma faculdade da família e conseguir um diploma para um ex-marido de Rose obter emprego.
Outro personagem inverossímil do escândalo é o delator, Cyonil Borges, um ex-auditor do Tribunal de Contas da União. Ele recebeu propina de R$ 100 mil e guardou, mas afirma não ser corrupção porque não tocou no dinheiro. No Supremo Tribunal Federal, pelo menos, essa tese não é bem-vista.
O enredo todo pode ser estrambótico, mas nele entraram estrelas de primeira grandeza no PT, como o ex-presidente Lula e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. E fatos ainda mais bizarros podem emergir dessas águas turvas.
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