terça-feira, outubro 30, 2012

Lições petistas - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 30\10


A entrevista do presidente do PT, Rui Falcão, ontem deixou claro que o partido acolheu todas as lições das urnas. As boas e as más. A boa é a de que o eleitor não identifica o partido com o mensalão e que o julgamento político já foi feito lá atrás. A ruim é que, quando a briga interna é grande, o castigo vem a cavalo.

Para quem não assistiu à entrevista, vale aqui lembrar que Falcão afirmou com todas as letras que proporá ao PT uma nova mudança nas normas internas. “Minha proposta é a de que onde tivermos prefeito com direito à reeleição não se façam prévias (para escolha do candidato).” A frase de Falcão é um sinal de que o caso de Recife ficou marcado. Lá, uma disputa interna na legenda tirou do prefeito João da Costa o direito de ser candidato à reeleição. O desfecho foi uma vitória retumbante do socialista Geraldo Júlio, carregado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que, desde então, aparece em todos os jornais e até no exterior, como uma aposta para 2014.

Essa não foi a primeira vez em que um nome do PT perdeu uma eleição porque o partido não colocou como candidato aquele que já estava no cargo. Em 2002, Olívio Dutra era governador do Rio Grande do Sul e uma prévia no PT terminou por tirá-lo da disputa. Resultado: o PT perdeu a eleição. Diante desses dois casos, Rui Falcão não tem mais dúvidas: não dá para montar um discurso eleitoral capaz de convencer o eleitor a votar num outro nome do mesmo partido.
Resta saber se o PT adotará essa regra já em 2014, garantindo a Agnelo Queiroz (DF), Tarso Genro (Rio Grande do Sul) e Tião Vianna (Acre) o direito de concorrer à reeleição sem passar por prévias internas.

Enquanto isso, em São Paulo…

A outra lição que o PT tirou é a de que, onde não se tem o governo, não adianta ficar repetindo o mesmo candidato por muitas vezes para ver se ele emplaca. O novo e o técnico parecem empolgar mais. A curto prazo, Fernando Haddad chega para montar a sua equipe com ares de quem não vai deixar os petistas e aliados lotearem os cargos a seu bel prazer. Para a pasta da Saúde, por exemplo, não está descartada a nomeação de Mariani Pinotti, não ser por ser apenas peemedebista, mas pelo fato de ter conhecimento da área de saúde.

A médio prazo, a aposta é que virá uma “novidade” para ser candidato a governador contra Geraldo Alckmin, onde a palavra de Lula terá peso 10. Por isso, daqui para frente, todos vão olhar com muito cuidado para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e para o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, os preferidos de Lula.

Aloizio Mercadante, que está muito bem no papel de ministro da Educação, dizem os petistas, não é hoje o nome preferido de Lula, embora seja um dos ministros mais próximos da presidente Dilma Rousseff. Assim, a tendência, dizem alguns, é a de que continue mesmo no governo, seja montando uma marca na área da educação que possa servir de alavanca para o futuro, ou na concepção geral do governo em outro cargo. Afinal, avisam os assessores de Dilma, competência ele tem. Padilha, por sua vez, ainda precisa montar uma marca na saúde.

E no gabinete presidencial…

O que se ouve pela Esplanada e fora dela é que a reforma ministerial será pontual, ou seja, sem remoção de muitas peças. Àqueles que tentaram balançar o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, os mais próximos de Dilma lembram que o “Aguinaldinho” está muito bem e que é preciso manter o PP por perto para não deixar que o habilidoso Aécio Neves, primo do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), termine levando os pepistas para outro caminho daqui a dois anos.

Esse raciocínio nos leva a crer que, daqui para frente, tudo será feito de olho no calendário eleitoral. E nesse sentido, uma das poucas apostas que Dilma ainda pretende fazer em termos de “ousadia administrativa” em 2013 é buscar alguma mudança nos impostos, com uma mexida no ICMS. Para este ano, a ordem é seguir trabalhando as concessões de portos, aeroportos e hidrovias. Quanto à desoneração de alguns setores, não há mais nada previsto para este ano. Se houver, será no que vem, quando a presidente quer trabalhar mais essa questão tributária. Ela considera que, do jeito que está, não dá para continuar. E avisa aos empresários que eles podem ficar tranquilos porque tudo será avisado com antecedência. Afinal, se tem outra lição que o PT tirou — não da campanha, mas ao longo desses quase 10 anos de governo — foi a de que, na economia, quanto menos surpresas melhor.

Por falar em surpresa…

Hoje, os petistas continuam comemorando a vitória de Haddad em Brasília com uma festa na Câmara, às 17h, para marcar o lançamento da edição número 5 mil do jornal interno do PT, informativo que serve de guia aos deputados da bancada.

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