REVISTA ÉPOCA
Enquanto o mensalão continua em cartaz como um filme de época, com exclamações indignadas sobre aqueles tempos terríveis, os herdeiros do esquema vão muito bem, obrigado. A plateia do julgamento ainda está se perguntando: será que Lula sabia? Então o PT comprou mesmo apoio político? Ora, vamos apressar esse filme velho. O final é o seguinte: deu tudo certo, e os mensaleiros da novíssima geração governam o Brasil.
Nem é preciso escutar horas de Joaquim Barbosa, depois horas de Lewandowski dizendo que não foi bem assim, para entender o esquema que tomou de assalto (com duplo sentido) o Estado brasileiro. Vale mais, neste momento, prestar atenção a um ex-ministro do Supremo. O que aconteceu afinal com Sepúlveda Pertence?
É simples: ele acaba de abandonar a Comissão de Ética da Presidência da República, por causa de um novíssimo escândalo. Ou seria mais correto dizer, um novo capítulo do velho escândalo.
A sucessora boazinha de Lula, que não tem nada a ver com os aloprados do padrinho e ainda faz faxina duas vezes por semana, cassou na mão grande dois membros da Comissão de Ética.
Enquanto a plateia se distraía com o faroeste do mensalão, Dilma Rousseff sacou mais rápido e executou a sangue-frio os conselheiros Marília Muricy e Fábio Coutinho. Qual teria sido o pecado da dupla fuzilada?
Um pecado mortal: levantar o tapete e mostrar a sujeira guardada pela faxineira. Marília foi quem propôs a demissão do ministro bufão Carlos Lupi, que Dilma tentava manter a todo custo, com sua grande família de ONGs companheiras. O esquema de Lupi no Ministério do Trabalho, de que Dilma era madrinha, nada mais era do que um dos muitos filhotes gordos do mensalão. O DNA do valerioduto estava lá: fabricação de contratos e convênios fantasmas para sugar dinheiro público para o partido que sustenta o governo. A mesmíssima compra e venda de apoio político que arrepia o país na oratória de Joaquim Barbosa.
Como se sabe, o voto de Marília Muricy foi o empurrão que faltava para a demissão de Carlos Lupi, para Dilma não ter mais como segurá-lo. E, como também se sabe, na ocasião a presidente jurou de morte a Comissão de Ética da Presidência. Só esperou o momento certo para cortar a cabeça da conselheira sem chamar a atenção.
Fábio Coutinho, o outro decapitado, cometeu pecado ainda mais grave: mexeu com o companheiro de fé Fernando Pimentel, amigo e irmão camarada da presidente, atual ministro vegetativo do Desenvolvimento. Fábio não entende nada de ética companheira. Achou que as milionárias consultorias fantasmas de Pimentel à Federação das Indústrias de Minas Gerais não eram corretas. O desavisado conselheiro não sabia que, conforme a tecnologia mensaleira, incorreto é não aproveitar o poder para encher o caixa da revolução.
Às vésperas das eleições municipais, Dilma mandou o pecador para a vala. Preservou, assim, a ficha mais ou menos limpa do guerrilheiro consultor, que é cacique petista nas urnas de Belo Horizonte e precisa estar livre para a missão de todo maquinista companheiro: catar votos e preservar cabides.
A operação cala-boca que revoltou Sepúlveda Pertence e o levou a pedir demissão foi muito bem feita. Dilma deixou por algum tempo os dois conselheiros marcados para morrer na geladeira. Retardou a dupla substituição já decidida, para melar as reuniões da Comissão de 27 de agosto e 3 de setembro - período chato para tratar de ética, com eleição a caminho e mensalão em cartaz. Sepúlveda renunciou à presidência da Comissão, e a plateia não deu a menor bola para ele. Gol dos companheiros. Como disse Lula sobre o mensalão, o que importa agora é a eleição. É o momento de os 4 quadros” petistas que engordaram em cargos de nomeação irem à luta dos cargos eletivos. O professor Márcio Pochmann, especialista em adestramento progressista de dados, interventor da revolução popular no Ipea, concorre a prefeito de Campinas. A grande aposta, até o fechamento desta edição, era o príncipe do Enem Fernando Haddad, que prometia fazer com São Paulo o que fez com os vestibulandos de todo o Brasil.
Como se vê, o esquema vai de vento em popa. Os condenados no STF não precisam se preocupar. Seus herdeiros poderosos haverão de saber recompensá-los.
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