FOLHA DE SP - 09/10
Saúde do presidente ainda dá margem a perguntas sobre por quanto tempo poderá "soprar o vento"
Hugo Chávez avisou durante a campanha eleitoral: "Não se enganem com este velho. O vento também é velho, mais ainda sopra".
O vento Chávez soprou de novo na Venezuela, ainda que com menos intensidade do que em presidenciais anteriores. Os motivos foram expostos aqui, no dia 30 (http://folha.com/no1161633).
Restam agora as perguntas que o triunfo do presidente não respondeu. A maior delas: por quanto tempo ainda soprará o vento, depois de três operações de câncer que o debilitaram, a ponto de reduzir o ritmo de sua atividade eleitoral?
Substituir um caudilho é operação complexa em qualquer circunstância, até porque não me lembro de "ismo" que tenha sobrevivido a seu criador. Será diferente com o "chavismo"?
No caso dele, a substituição é ainda mais complexa porque a legislação obriga a convocar novas eleições (em 30 dias), se o presidente morrer ou ficar inabilitado nos quatro primeiros anos de seus seis de mandato.
Em uma nova eleição, sem Chávez, o "chavismo" tende a ser batido por uma oposição que capturou 45% dos votos, o que não é pouco.
Afinal, como escreveu Shannon O'Neil (Council on Foreign Relations), no caso da morte de Chávez, "é improvável que qualquer outra pessoa possa preencher o vazio de liderança". À pergunta principal, segue-se outra, com certo parentesco: Chávez já disse que aguenta o tranco até 2019 (já não citou 2030, seu prazo anterior de validade), o que dá a entender que intui que vai cumprir seu último mandato, devido às condições de saúde.
Se é assim mesmo, qual será o foco do novo mandato: colocar uma tranca sólida no seu modelo, de forma a que seja irreversível, como já disse, ou corrigir os erros que reconheceu na reta final da campanha?
O vice-presidente Elias Jaua prefere a primeira hipótese, conforme declarou à Reuters: anunciou a intenção de "fortalecer o controle [pelo Estado] de elementos estratégicos da economia, como a energia, a alimentação popular e os insumos de construção".
Mais estatizações à vista, pois, o que seria acompanhado, na área política, por "um regime mais intolerante com a dissidência", como afirmou ao site "AméricaEconomia" o cientista político Javier Corrales, autor de livro sobre a era Chávez.
Há, porém, quem aposte numa eventual moderação, como o ex-embaixador dos EUA em Caracas Patrick Duddy.
Sugeriu que, se a eleição fosse julgada "aceitavelmente livre e justa", os EUA "deveriam resetar as relações bilaterais, com vistas a uma eventual renovação de comunicações de alto nível em áreas de mútuo interesse".
Como a oposição aceitou os resultados, está dada a situação para Washington apertar o "reset".
Meu palpite: parece ilógico supor que Chávez não esteja sendo atualizado pelos líderes cubanos, nos quais tem plena confiança, sobre os problemas que enfrenta na ilha o socialismo do século 20, de tal forma a evitar aprofundar rumo idêntico no seu socialismo do século 21. A ver.
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