quarta-feira, outubro 03, 2012

Azul e vermelho - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 03/10

Azul. Azul. Azul. A indústria brasileira cresceu pelo terceiro mês consecutivo, em agosto, o que não acontecia há muito tempo. Os dados reforçam que a economia ficou mais forte no terceiro trimestre. Mesmo assim, a indústria fechará o ano no vermelho. A queda no primeiro semestre foi muito intensa e por isso não há tempo de mudar a cor do balanço final de 2012 para o setor.

Os investimentos cresceram nos últimos três meses, mas perderam força em agosto. Nesse mês, a produção industrial subiu 1,5% na comparação com julho; a produção de bens duráveis subiu 2,6%; mas a alta dos bens de capital - sinônimos de investimento porque são máquinas para produzir outros bens - foi de 0,3%. Comparado a agosto de 2011, a indústria cai 2%; os bens de capital despencam 13%.

Uma luz amarela surgiu, mas que deve ser apenas conjuntural: a queda na venda de veículos em setembro, o que pode levar à redução da produção de automóveis nos próximos meses.

Os sinais são mistos, mas uma coisa é certa: a economia está em recuperação neste final de ano, confirmando as previsões do governo e do próprio mercado. A alta da indústria foi mais intensa que a dos dois meses anteriores. Depois de 0,3% em junho e 0,5% em julho, deu 1,5% em agosto. Nesses três meses, a produção cresceu 2,3%.

Ainda assim, no acumulado dois oito primeiros meses do ano a indústria cai 3,4%. Em 12 meses, a queda é de 2,9%. O bom dado de agosto não esconde a enorme queda anual. De qualquer forma, o número positivo reforça os sinais de recuperação da atividade. Depois da alta do PIB de 0,4% no segundo trimestre, as projeções mostram que a economia brasileira pode ter crescido mais de 1% no terceiro tri.

Os bens de capital haviam subido acima da média da indústria no mês passado. Em agosto, aconteceu o contrário, foram eles que ficaram para trás. Quando se olha para o acumulado do ano, os investimentos estão derrubando a produção. Eles caem 12,2% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período de 2011.

Com a crise na Europa e as perspectivas de baixo crescimento nos Estados Unidos e na China, os empresários compraram menos máquinas e equipamentos. Medidas de proteção à indústria, ao contrário do que pensa o governo, também podem ter efeito adverso porque diminuem a competição e desestimulam os investimentos.

Apesar da liberação do recolhimento compulsório pelo Banco Central para estimular o financiamento de veículos, a produção automobilística cai 16,3% no ano. O que mais tem pesado são os caminhões. Desde janeiro, os caminhões passaram a vir de fábrica preparados para o novo diesel, o euro 5, que polui menos. O problema é que o diesel antigo continua sendo vendido nos postos e a um preço mais barato. Em todos os países, o euro 5 entrou substituindo o mais poluente. Por isso não há estímulo de comprar o novo modelo por aqui: mais caro e de combustível mais caro.

As vendas de automóveis em setembro caíram 35%, informou a Fenabrave na segunda-feira. Quem precisava comprar, o fez logo em agosto, com medo de acabar a redução do IPI. As compras foram antecipadas. O problema é que agora as lojas com estoques comprarão menos da indústria, o que reduzirá a produção.

O dado de ontem foi bom, mas o fato é que no final de 2010 a indústria brasileira vinha num ritmo de crescimento de 12% ao ano. Agora, está em baixa de 2,9% no dado anualizado, na 22ª queda seguida nessa base de comparação. Não há mais tempo de reverter esse resultado até o fim do ano. Em agosto, foi azul, mas sobre muito vermelho.

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