FOLHA DE SP - 04/07
Não fosse pelo surgimento de uma conexão petista em Palmas (TO), a situação do caso Cachoeira estaria bem caracterizada pela cena absurda de um senador-Demóstenes Torres (ex-DEM), pivô do escândalo- a apresentar defesa veemente contra sua provável cassação diante do plenário vazio.
Veemência e ociosidade tampouco têm faltado na CPI mista criada no Congresso para investigar as relações do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos (alcunhado Carlinhos Cachoeira) e da construtora Delta com uma chusma suprapartidária de políticos.
A diferença está em que, nesse outro plenário, não faltam senadores e deputados. O que lhe falta é empenho e consequência na investigação. Muito se fala e esbraveja, ali, mas pouco se apura e revela.
Houve quem saísse da sala sob aplausos, como o governador Agnelo Queiroz (PT-DF), cuja administração não teve ainda inteiramente esclarecidas tratativas com a Delta e alegações de influência de Cachoeira. Outro governador colhido no turbilhão de pagamentos sob exame, Marconi Perillo (PSDB-GO), enfrenta escrutínio mais perseverante do relator Odair Cunha (PT-MG), mas todo o barulho se dá por conta de uma enrolada compra e venda de casa.
Diante de tanta inatividade, que tende a aumentar com as férias escolares de julho e a aproximação das campanhas eleitorais, o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), não parece ter muito a temer.
Vídeos de conversas suas -sobre lixo, tema mais que metaforicamente apropriado- com Cachoeira em 2004, revelados pelo programa de TV "Fantástico", soam bem comprometedores. Mas nada que uma versão fantasiosa não possa abafar sob toneladas de cinismo parlamentar.
Raul Filho reconhece o apoio de Cachoeira à sua campanha eleitoral vitoriosa de 2004. Nega, porém, que haja relação entre a ajuda e a obtenção, pela onipresente Delta, de pelo menos um contrato milionário, no seu primeiro mandato, para coleta de lixo -que mais?
Não é a primeira vez nem será a última que uma administração municipal -petista ou não- mistura falcatruas com detritos. Tampouco é por acaso que empreiteiras oportunistas criaram subsidiárias especializadas em recolher lixo urbano e distribuir propinas.
Convocar Raul Filho para depor é uma das tantas obrigações que a CPI do Cachoeira teria de cumprir para não atulhar a vala cheia das comissões que não dão em nada.
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