quarta-feira, abril 25, 2012

Cacareco francês - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 25/04/12



SÃO PAULO - Ver alguém de sobrenome Le Pen conquistar a preferência de quase 20% do eleitorado francês é sempre um pouco assustador, mas seria precipitado classificar esse resultado como uma vitória das ideias da extrema direita.

Assim como nem todos os brasileiros que votaram em Marina Silva no último pleito são verdes, nem todos os que sufragaram Marine Le Pen são ultraconservadores xenófobos.

Um crescente corpo de pesquisas sobre como pensa e age o eleitor sugere que as opiniões e propostas de um candidato importam menos do que se imagina na decisão do voto.

Drew Westen, da Universidade Emory, mostrou que, com base em questionários rápidos sobre como uma pessoa se sente em relação a certos temas (quase um teste de personalidade), pode-se prever com 80% de precisão não só como ela votará mas também como responderá a perguntas bem específicas, como "a medida X é inconstitucional?".

Enriquecer esse modelo com conteúdos mais racionais, como informações sobre a medida a ser tomada, tem impacto negligenciável nas previsões, que ganham apenas entre 0,5 e 3 pontos percentuais de precisão. Ou seja, a realidade é só um detalhe para o eleitor, que raramente muda de opinião em virtude de fatos que lhe sejam apresentados.

A crer nesses achados da neurociência, o voto é, na maioria dos casos, decidido com base nas emoções positivas ou negativas que cada um dos postulantes, seus partidos e, às vezes, também suas ideias despertam em nós. É só a posteriori que arranjamos uma argumentação vagamente racional para justificar a escolha.

De volta à França, fustigada pelo fantasma da recessão e pelo medo do futuro, a candidatura de Marine Le Pen tem algo de Cacareco. Mais do que uma adesão ao ideário neofascista, ela reflete a indignação de milhares de franceses com os partidos do establishment, que veem como responsáveis pela crise.

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