FOLHA DE SP - 18/01/12
RIO DE JANEIRO - Com o Brasil passando por esse turbilhão de transformações sociais e milhões de famílias subindo de classe da noite para o dia, novos padrões de consumo e comportamento se impõem. Graças ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, fica-se sabendo, por exemplo, que o brasileiro está trocando a sardinha pelo salmão.
A sardinha deve lembrar-lhe o puxadinho de alvenaria, a meia com buraco no dedão, o caçula com disenteria, a prestação vencendo, o mês no fim do dinheiro. Já o salmão representa a ida dominical ao shopping, os móveis do quarto da criança, a TV de 40 polegadas, o carro em 72 meses e, quem sabe, a casa própria. O ser humano gosta de símbolos de status, donde, neste momento, a sardinha esteja por baixo, e o peixe usado no cálculo da inflação seja o salmão.
Não importa que a sardinha, tirada artesanalmente do mar, a mãos e músculos, seja muito mais fresca e saborosa, como lembrou outro dia o mestre da gastronomia brasileira José Hugo Celidonio, na coluna "Gente Boa" do "Globo". Ao passo que o salmão servido aqui é "quase todo de cativeiro e alimentado com ração", diz Celidonio.
Só resta torcer para que, passado o deslumbramento, o brasileiro desperte e destroque esse salmão desenxabido pela fiel, autêntica e sempre excitante sardinha, sem medo de ser chamado de pobre. Mesmo porque não estão faltando símbolos para demonstrar sua nova riqueza.
Segundo o IPCA, o brasileiro está também comendo menos chuchu e chupando mais balas. Como uma coisa substitui a outra, não sei. Mas a queda do chuchu arrastará também o orgulhoso camarão para a segunda divisão, enquanto o excesso de balas provocará uma explosão de cáries per capita e tornará ainda mais prósperos os nossos dentistas. E assim vai o Brasil rumo ao seu glorioso destino.
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