O Globo - 06/12/2011
Para não dizerem que a gente só fala mal do governo: a presidente Dilma reagiu corretamente à notícia de que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, embolsara R$2 milhões em serviços de consultoria nos dois anos anteriores à posse no ministério.
Ela mandou que o ministro fosse para Brasília ainda no fim de semana - o que costuma ser castigo cruel para o pessoal do primeiro escalão - para explicar a origem desse dinheirão.
"Você não tem nada a esconder", disse ela a ele. Pois, imaginem só: pelo visto e provado, estava certa. Pimentel mostrou ao GLOBO cópias de seus contratos com a Federação das Indústrias de Minas Gerais e com uma firma particular. E provou que, descontando impostos e os custos de sua empresa, ganhara mesmo R$1,2 milhão. Ficou bem claro que Pimentel não é nenhum Palocci. Se há desmemoriados na plateia, lembremos que Antonio Palocci chefiou a Casa Civil de Dilma até que a imprensa botou a boca no trombone a propósito da veloz multiplicação de seu patrimônio pessoal. Pois vamos guardar na memória também que não há só Paloccis nos gabinetes de Brasília. Em qualquer governo.
O jornal e a opinião pública têm direito ao álibi de que, em tempos paloccianos, a gente tende mesmo a mais desconfiar do que confiar na lisura do comportamento da turma do primeiro escalão. E do segundo e do terceiro também.
Mas é preciso reconhecer que se trata de álibi frágil e injusto: a existência de um Palocci - de cuja desonestidade, também é preciso lembrar, ninguém no Palácio do Planalto parecia desconfiar - não autoriza a mídia e a opinião pública a acreditarem que o primeiro escalão do governo, o atual ou qualquer outro, está infestado por Paloccis.
A reação da presidente e de seu ministro foi correta: uma simples explicação costuma valer bem mais do que uma tonelada de indignação. Note-se que a informação publicada não era errada - mas é preciso reconhecer que o tom era de denúncia. Afinal de contas, quando a gente publica com destaque que alguém ganhou um dinheirão, e não foi apostando na sena, a sugestão implícita é a de que alguma coisa está cheirando mal.
Pois, no caso de Pimentel, não estava. Ficou a lição de que existem cidadãos endinheirados na vida pública - e que se endinheiraram antes de entrar nela.
Um comentário:
Como Prefeito de BH, e/ou coordenador da campanha da Presidente, ele não era político então?
Concordo com o teor do artigo, mas o final me pareceu fora do contexto, uma vez que Fernando Pimentel foi prefeito de Belo Horizonte em 2005/2008, antes sendo vice de Celio de Castro.
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