Há custos e muitos riscos na obsessão de fazer o PIB crescer pelo menos 4% no ano que vem
AS IDEIAS do governo a respeito do crescimento brasileiro em 2012 lembram um pouco a pessoa obesa que, duas semanas antes do verão, decide perder peso a fim de aparecer elegante na praia. Tende a dar errado.
A pessoa para de comer, altera seu metabolismo. Faz exercício demais, machuca músculos, ossos e tendões. Fica estressada. Entre o Carnaval e a Semana Santa, já volta a se empanturrar, fechando o ciclo da sanfona. Enfim, a gente conhece o caso.
O governo quer fazer o país crescer pelo menos 4% no ano que vem. Talvez 5%. Não é lá muito difícil dar uma inflada no crescimento no curto prazo -por um ano, quiçá dois. A depender da sorte, pode ser que os efeitos colaterais da sanfona do PIB nem sejam tão ruins.
No nosso presente caso, porém, vale a pena? Neste mundo que será de economia tumultuada até pelo menos o fim de 2012, para nem mencionar os nossos problemas domésticos?
O risco mais evidente, um tedioso porém inevitável lugar-comum, é a inflação. No curto prazo, bem curto, é até possível tolerar um pouco de inflação, a depender dos custos para reduzi-la de imediato e do que se faz nesse ínterim para sanar problemas de fundo -a inflação é sintoma.
Mas inflação mais alta causa justamente alguns danos colaterais que tanto tentamos evitar por outras vias. Exemplos.
Falamos tanto do câmbio, do real forte que prejudica vendas da indústria e a rentabilidade dos exportadores. A inflação, porém, claro, também encarece os produtos nacionais. Como dizem os economistas, piora a taxa de câmbio real.
Reclamamos tanto do custo da dívida pública, os pagamentos de juros. Mas mais e mais a dívida pública é indexada pela inflação (o governo vende mais títulos que pagam juros e que são corrigidos pelo IPCA). Os juros até caem, mas a inflação mais alta anula parte do efeito positivo.
Além disso, há o problema da incerteza. Vamos tomar logo medidas para turbinar o crescimento sem conhecer o tamanho da confusão no resto do mundo, Europa e China em particular? Pode-se causar danos à economia por excesso de esforço, sem colher benefícios.
Não, a receita não é a passividade, mas escolher o exercício certo. Baixar juros, sim. Esquentar a economia com mais gasto público, mais crédito de banco estatal e mais dívida pode não ser um bom regime.
O que pode dar errado? Inflação, como já se disse, piora nas contas externas (vamos consumir demais sem ter como vender mais), aumento da dívida pública, da inadimplência privada e, assim, dificuldades para retomar o crescimento no pós-crise. Pior, podemos ficar com os ônus sem os bônus, pois o tumulto mundial tende a tornar inócuo o esforço de crescimento adicional (digamos de 3% para 4,5%).
Em 2008 o governo se mexeu muito e deu certo? É. Mas não se pode repetir a dose como se as reações a 2008 não tivessem ocorrido, como se a intervenção agressiva do governo não tivesse resultado em alguns problemas também.
Uma dieta moderada em 2012 seria melhor. Um ano ruim não aumenta muito o risco de tumulto e dano social. Melhor se preparar para 2013. E pensar grande, a longo prazo. Em 2020.
A pessoa para de comer, altera seu metabolismo. Faz exercício demais, machuca músculos, ossos e tendões. Fica estressada. Entre o Carnaval e a Semana Santa, já volta a se empanturrar, fechando o ciclo da sanfona. Enfim, a gente conhece o caso.
O governo quer fazer o país crescer pelo menos 4% no ano que vem. Talvez 5%. Não é lá muito difícil dar uma inflada no crescimento no curto prazo -por um ano, quiçá dois. A depender da sorte, pode ser que os efeitos colaterais da sanfona do PIB nem sejam tão ruins.
No nosso presente caso, porém, vale a pena? Neste mundo que será de economia tumultuada até pelo menos o fim de 2012, para nem mencionar os nossos problemas domésticos?
O risco mais evidente, um tedioso porém inevitável lugar-comum, é a inflação. No curto prazo, bem curto, é até possível tolerar um pouco de inflação, a depender dos custos para reduzi-la de imediato e do que se faz nesse ínterim para sanar problemas de fundo -a inflação é sintoma.
Mas inflação mais alta causa justamente alguns danos colaterais que tanto tentamos evitar por outras vias. Exemplos.
Falamos tanto do câmbio, do real forte que prejudica vendas da indústria e a rentabilidade dos exportadores. A inflação, porém, claro, também encarece os produtos nacionais. Como dizem os economistas, piora a taxa de câmbio real.
Reclamamos tanto do custo da dívida pública, os pagamentos de juros. Mas mais e mais a dívida pública é indexada pela inflação (o governo vende mais títulos que pagam juros e que são corrigidos pelo IPCA). Os juros até caem, mas a inflação mais alta anula parte do efeito positivo.
Além disso, há o problema da incerteza. Vamos tomar logo medidas para turbinar o crescimento sem conhecer o tamanho da confusão no resto do mundo, Europa e China em particular? Pode-se causar danos à economia por excesso de esforço, sem colher benefícios.
Não, a receita não é a passividade, mas escolher o exercício certo. Baixar juros, sim. Esquentar a economia com mais gasto público, mais crédito de banco estatal e mais dívida pode não ser um bom regime.
O que pode dar errado? Inflação, como já se disse, piora nas contas externas (vamos consumir demais sem ter como vender mais), aumento da dívida pública, da inadimplência privada e, assim, dificuldades para retomar o crescimento no pós-crise. Pior, podemos ficar com os ônus sem os bônus, pois o tumulto mundial tende a tornar inócuo o esforço de crescimento adicional (digamos de 3% para 4,5%).
Em 2008 o governo se mexeu muito e deu certo? É. Mas não se pode repetir a dose como se as reações a 2008 não tivessem ocorrido, como se a intervenção agressiva do governo não tivesse resultado em alguns problemas também.
Uma dieta moderada em 2012 seria melhor. Um ano ruim não aumenta muito o risco de tumulto e dano social. Melhor se preparar para 2013. E pensar grande, a longo prazo. Em 2020.
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