FOLHA DE SP - 09/12/11
Numa crise econômica, a xenofobia floresce lado a lado com conflitos políticos, protecionismo e racismo
Algumas semanas atrás, Detlev Hagler, alemão de 46 anos, fez uma visita a Tuscaloosa, no Alabama. Durante sua estadia, dirigiu um carro alugado Kia ao qual faltava uma placa. Esse fato chamou a atenção de um policial, que o fez parar e, como é de praxe, pediu sua carteira de habilitação.
O único documento que Hagler tinha com ele era sua identidade de cidadão alemão. Ele acabou na cadeia. Um pequeno detalhe: Hagler é executivo da Mercedes-Benz, uma das maiores empregadoras e investidoras estrangeiras no Alabama.
Desde 1º de outubro de 2011, a lei do Alabama prevê que qualquer pessoa que não esteja com documentos de identidade que comprovem seu status legal no país seja posta na cadeia imediatamente. Felizmente para o executivo, seus colegas foram buscar no hotel seu passaporte com o visto apropriado, além de sua carteira de habilitação alemã, e ele foi posto em liberdade.
O objetivo da nova legislação é tornar a vida dos imigrantes ilegais tão difícil que eles optem por ir a outro lugar. Outro pequeno detalhe: os autores da lei não previram que ela também faria a vida menos agradável para gente como "herr" Hagler.
Ou para cidadãos americanos perfeitamente legais: desde que a nova lei entrou em vigor, 66 cidadãos já foram encarcerados por não portar os documentos que comprovem que são residentes em seu próprio país. Metade deles é negra.
Uma grande ironia é que empresas estrangeiras que estão sendo incomodadas pela nova lei vieram ao Alabama devido aos enormes incentivos fiscais oferecidos pelo governo (a Mercedes recebeu US$ 253 milhões para construir sua fábrica no Estado). Obviamente, os incentivos que visam atrair estrangeiros ricos que comandam fábricas entram em choque com o desejo de expulsar estrangeiros pobres que imigram ilegalmente a procura de trabalho.
Nada ameaça a civilidade tanto quanto a escassez. Generosidade, altruísmo e tolerância ficam em falta quando faltam empregos e dinheiro. Em tempos de crise econômica, a xenofobia floresce lado a lado com conflitos políticos, protecionismo e, em alguns lugares, racismo.
E sabemos dos perigos engendrados pela reação a recessões. No passado, exemplos deles foram guerras ou a ascensão de movimentos políticos que defendem ideias repugnantes ou decisões governamentais más, que perduram. Esperemos que a crise atual não provoque reações que mereçam ser incluídas entre os capítulos mais negros da história.
Felizmente, a competição nos EUA às vezes trabalha no sentido de limitar o impacto de más ideias. Não apenas empresas, mas também Estados competem entre si. O Missouri, que é muito mais tolerante a imigrantes que o Alabama e também quer atrair novos investidores, vem sendo promovido ativamente como um lugar onde estrangeiros podem trabalhar sem serem molestados.
"Aqui no Missouri temos muitas vantagens em relação ao Alabama", diz o jornal "St. Louis Post-Dispatch" em editorial. "Somos o Estado 'mostre-me-o-que-você-sabe-fazer', não o Estado 'mostre-me-seus-documentos'." Aposto que, no longo prazo, o Missouri vai superar o Alabama na corrida por bons trabalhadores e investidores estrangeiros.
O único documento que Hagler tinha com ele era sua identidade de cidadão alemão. Ele acabou na cadeia. Um pequeno detalhe: Hagler é executivo da Mercedes-Benz, uma das maiores empregadoras e investidoras estrangeiras no Alabama.
Desde 1º de outubro de 2011, a lei do Alabama prevê que qualquer pessoa que não esteja com documentos de identidade que comprovem seu status legal no país seja posta na cadeia imediatamente. Felizmente para o executivo, seus colegas foram buscar no hotel seu passaporte com o visto apropriado, além de sua carteira de habilitação alemã, e ele foi posto em liberdade.
O objetivo da nova legislação é tornar a vida dos imigrantes ilegais tão difícil que eles optem por ir a outro lugar. Outro pequeno detalhe: os autores da lei não previram que ela também faria a vida menos agradável para gente como "herr" Hagler.
Ou para cidadãos americanos perfeitamente legais: desde que a nova lei entrou em vigor, 66 cidadãos já foram encarcerados por não portar os documentos que comprovem que são residentes em seu próprio país. Metade deles é negra.
Uma grande ironia é que empresas estrangeiras que estão sendo incomodadas pela nova lei vieram ao Alabama devido aos enormes incentivos fiscais oferecidos pelo governo (a Mercedes recebeu US$ 253 milhões para construir sua fábrica no Estado). Obviamente, os incentivos que visam atrair estrangeiros ricos que comandam fábricas entram em choque com o desejo de expulsar estrangeiros pobres que imigram ilegalmente a procura de trabalho.
Nada ameaça a civilidade tanto quanto a escassez. Generosidade, altruísmo e tolerância ficam em falta quando faltam empregos e dinheiro. Em tempos de crise econômica, a xenofobia floresce lado a lado com conflitos políticos, protecionismo e, em alguns lugares, racismo.
E sabemos dos perigos engendrados pela reação a recessões. No passado, exemplos deles foram guerras ou a ascensão de movimentos políticos que defendem ideias repugnantes ou decisões governamentais más, que perduram. Esperemos que a crise atual não provoque reações que mereçam ser incluídas entre os capítulos mais negros da história.
Felizmente, a competição nos EUA às vezes trabalha no sentido de limitar o impacto de más ideias. Não apenas empresas, mas também Estados competem entre si. O Missouri, que é muito mais tolerante a imigrantes que o Alabama e também quer atrair novos investidores, vem sendo promovido ativamente como um lugar onde estrangeiros podem trabalhar sem serem molestados.
"Aqui no Missouri temos muitas vantagens em relação ao Alabama", diz o jornal "St. Louis Post-Dispatch" em editorial. "Somos o Estado 'mostre-me-o-que-você-sabe-fazer', não o Estado 'mostre-me-seus-documentos'." Aposto que, no longo prazo, o Missouri vai superar o Alabama na corrida por bons trabalhadores e investidores estrangeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário