sábado, novembro 12, 2011

MIRIAM LEITÃO - Direção do vento



Direção do vento
MIRIAM LEITÃO 
O GLOBO - 12/11/11


O governo Dilma atravessa o seu décimo primeiro mês com o sexto ministro atingido por acusação de corrupção, com as previsões de crescimento do ano tendo caído de 5% para em torno de 3% em 2011 e com a situação internacional em crise muito maior do que o previsto. O Brasil ainda sustenta o crescimento, mas o mundo navega tempos de imprevisibilidade.
China e Brasil sustentam o Brasil. A China divulgou esta semana um número de queda da inflação, mostrando que há chance de manter o crescimento com inflação baixa. No Brasil, parte da alta do PIB se deve ao mercado de trabalho, que tem a menor taxa de desemprego em nove anos. A renda cresce menos e o crédito desacelera, mas tanto um quanto o outro estão em níveis bem mais altos do que no ano passado.
Há quem veja boas notícias até na área externa, onde a crise é maior, como o economista José Roberto Mendonça de Barros.
- A Grécia é um caso perdido, a Itália é grande demais, mas não está confirmado o cenário de duplo mergulho que tanto se temia. Os Estados Unidos não estão em recessão, apenas com um crescimento fraco de 2%, o Japão voltou a crescer se recuperando da grande queda após o terremoto e a China continua bem - lembrou.
Outra boa notícia, segundo ele, pode vir da agricultura brasileira:
- O clima foi bom, o plantio está indo bem, pode haver boa safra.
Os preços das commodities agrícolas caíram um pouco e isso reduzirá o total do superávit comercial brasileiro em 2012. Por outro lado, reduz um pouco a pressão inflacionária aqui e na China.
O cenário econômico não é como o do ano passado, de forte crescimento, mas o país evitou a recessão.
- O Natal não será o do 7,5% de crescimento do PIB como no ano passado, mas será bem razoável, as encomendas foram altas. Nos últimos trinta dias, no entanto, os números pioraram muito mais do que se previa. Agora, há muitas empresas pisando no acelerador, principalmente na indústria, que terá um crescimento pífio de 2% este ano. O pior da queda da produção industrial de setembro é ver o encolhimento do investimento: a queda nos bens de capital foi de 5% no último dado, o de setembro - diz Mendonça de Barros.
Há alguma chance de que a inflação fique no teto da meta este ano, na opinião do economista. Já se sabia que ela cairia no acumulado de 12 meses neste fim de ano, mas o governo teve que fazer algumas mágicas para aumentar a chance de ficar na meta, como adiar o aumento do IPI do cigarro e tirar a Cide da Petrobras para reduzir o aumento da gasolina:
- Uma parte é gol de mão, mas há alguma chance de se chegar aos 6,5%.
A conjuntura econômica se mantém, apesar da incerteza externa, mas quem tenta olhar para frente não consegue ver mudança estrutural nem na economia nem na política. A presidente permanece prisioneira do mesmo enredo. Teve que montar seu governo com partidos da base. Loteou a Esplanada. E a cada dia surgem denúncias contra um ministro. Ela demite o dono do "malfeito", como prefere chamar os casos de corrupção, desvio, promiscuidade, uso da máquina pública em que têm sido apanhados seus ministros. Até agora já caíram ministros do PT, PMDB, PR, e balança um do PDT. O mesmo padrão de "malfeito" se repete nos estados e municípios. O enredo está sendo encenado em cada recanto do país. A corrupção apodrece o que toca, se espalha, cria padrões de comportamento viciados. Desvia recursos públicos, tira eficiência da economia, mina a confiança na democracia.
Outro problema, que em parte está vinculado a este, é a falta de uma agenda de reformas. O governo Dilma não tem projeto claro e vive a reboque do Congresso e das crises. Ele não tem projeto de reforma tributária, apenas aceita ser emparedado pela maioria que tira receita dos royalties de petróleo dos dois estados produtores; não faz reforma orçamentária, luta apenas por mais sobrevida a uma ferramenta que veio para ser provisória há 17 anos, a DRU; não tem qualquer plano ousado na educação, apenas se esforça para explicar a sucessão de erros no Enem.
Sem projeto o país vai se arrastando. Ainda cresce no mundo em crise, mas dependente da demanda chinesa. O consumo interno é em parte formado por elevação da renda e do emprego, mas outra parte é por endividamento. São insistentes os alertas de analistas externos de que o país pode estar entrando em uma bolha de crédito. As obras de logística para a Copa, as Olimpíadas, mas principalmente para o próprio país, estão indo a passos lentos. O ajuste fiscal se faz com aumento de arrecadação e adiamento de investimentos. A inflação está ainda acima do teto da meta e terá no ano que vem o choque da elevação do salário mínimo. O superávit comercial depende fundamentalmente dos preços das commodities, mas o déficit em transações correntes permanece grande, apesar de não ser explicado por novos investimentos, mas por gastos na conta turismo.
É preciso cautela nas comemorações. Como alguns países pioraram demais, o Brasil parece navegar em mares tranquilos. Mas o fundamental não está respondido: em que direção vai esta caravela?

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