Blindagem de US$ 300 bi
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 05/02/11
As reservas externas já devem ter ultrapassado os US$ 300 bilhões. E ainda há mais moeda estrangeira nos encanamentos para desaguar por aqui, porque agora o Banco Central não compra apenas nas operações à vista, compra por mais dois canais: por meio de contratos de swap reverso (em que o Banco Central fica comprado em dólares e a outra parte fica comprada em juros) e por meio de contratos futuros.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem argumentado que essas aquisições de moeda estrangeira mais a imposição de IOF de 6% na entrada de recursos externos para aplicações em renda fixa têm evitado uma valorização ainda maior do real.
A lógica do ministro pode estar quebrada num ponto. Quanto maior for a blindagem da economia em moeda estrangeira, mais aumenta a percepção de redução de risco e mais dólares são atraídos para o Brasil. Ou, o que dá no mesmo, menos moeda estrangeira está disposta a sair daqui. Um dos fatores que concorreram para que as agências de classificação de risco passassem certificado de grau de investimento foi o bom tamanho das reservas.
Se reservas opulentas já atraíam capitais quando estavam a US$ 200 bilhões, mais atraem quando estão a US$ 300 bilhões e ainda mais atrairão quando chegarem aos US$ 400 bilhões - o que, nesse ritmo, não levará muito tempo.
O rápido crescimento do déficit em Conta Corrente (contas externas) ainda poderia atemorizar os capitais mais covardes em consequência da maior necessidade de financiamentos externos que se destinariam a cobrir o rombo. No entanto, a montanha refulgente de recursos externos parece fator suficiente para desarmar esses impulsos.
E não está nem um pouco evidente que a imposição do IOF de 6% esteja evitando o chamado carry trade (operações que trocam os juros internos pelos externos). Nada impede, por exemplo, que os capitais continuem chegando usando outras portas, como os Investimentos Estrangeiros Diretos ou, então, os empréstimos em bônus no exterior pelas empresas sediadas no Brasil.
Apesar das maciças compras de moeda estrangeira pelo Banco Central, nada vem conseguindo reverter a tendência ao real valorizado. A ascensão da qualificação dos títulos do País nas tabelas de risco, conjugada com a enorme disponibilidade de recursos lá fora, deverá acentuar ainda mais essa situação.
O problema vai ser como compensar a perda crescente de competitividade do produto brasileiro frente à concorrência externa. Até agora, ano após ano, sempre que isso acontecia, o governo dava um jeito de compensar com mais câmbio: ou seja, desvalorizava o real com o objetivo de encarecer o produto estrangeiro e baratear o nacional em dólares. Como esse truque não é mais possível, a saída é aumentar a competitividade por meio da redução do custo Brasil: diminuição da carga tributária e dos juros, eliminação do excesso de encargos sociais, melhoria e barateamento da infraestrutura. E convém bater no mesmo tambor: esses passos só se tornam possíveis por meio da redução das despesas correntes do setor público.
CONFIRA
Desemprego nos EUA
O desemprego nos Estados Unidos cedeu uns pontinhos. O gráfico acima mostra como vem se comportando. Mas o número de vagas continua crescendo pouco. Foram abertas em janeiro apenas 36 mil, em vez das 136 mil esperadas.
O céu é o limite
Em apenas 12 meses terminados em 31 de janeiro, as cotações do trigo subiram 50%; as do milho, 64%; as da soja, 55%; as do café, 80%; e as do açúcar, 54%. É um rombo no orçamento das famílias mais pobres e uma chocadeira de descontentamentos e revoltas.
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