quinta-feira, janeiro 06, 2011

ALON FEUERWERKER

Íntimos e desconfortáveis
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 06/01/11


Talvez os ex-profissionais do PMDB tenham acreditado em algum momento que seriam tratados como iguais na coalizão. Pela aritmética, até deveriam ser
Se havia dúvida sobre aptidões político-midiáticas da nova presidente, as nuvens começam a dissipar-se. É um estilo algo diferente, mais silencioso. Nem por isso menos eficaz. A ocupação maciça de espaços pelo PT de Dilma Rousseff aparece ao público como sacrossanta missão destinada a impedir que a máquina estatal seja tomada pela "fisiologia". Dos outros, naturalmente.
E não só. O assunto agora vem acoplado a um também caríssimo à elite, essa pobrezinha tão maltratada nas campanhas eleitorais: a necessidade imperiosa de evitar o aumento "irresponsável" do salário mínimo. E tem também a privatização dos aeroportos. 
Quem é a vítima da vez? O PMDB, colhido na armadilha como um animal indefeso. 
Talvez os ex-profissionais do PMDB tenham acreditado em algum momento que seriam tratados como iguais na coalizão. Pela aritmética, até deveriam ser. Têm mais ou menos o mesmo tanto, tudo somado, de deputados, senadores, governadores. Têm o vice. 
Há porém outra variável. Diante de uma oposição em dificuldades no plano federal, sobrou para o PMDB o papel de principal ameaça potencial ao poder. Desde a campanha, passando pela transição e montagem do governo, nota-se o trabalho metódico para desossar o que seria aliado em situação de ameaça externa, mas que toma cores de rival na ausência de uma. 
Há algo de replay nisso. Na largada do governo anterior o PMDB foi escanteado pelo então recém-presidente, pessoalmente. 
A legenda estivera coligada com o PSDB em 2002, a cotovelada até fazia algum sentido na política, apesar da aritmética. Com o andar da carruagem e a eclosão de seguidos constrangimentos e necessidades aritméticas, o tempo acabaria recolocando a realpolitik no merecido lugar. 
Mais ou menos como ocorrera nos governos do PSDB na década anterior. 
A lógica da operação política de Dilma parece ser provocar a primeira batalha da guerra de movimentos agora, quando está num ápice de poder. "Nunca teremos outra chance como esta para enquadrar o PMDB", diz um articulador do governo no Congresso. 
Meio atordoado, o PMDB reage algo estabanadamente, sem saber se morde ou assopra. O mais sensato seria assoprar (talvez dando umas mordidinhas no bastidor), para evitar maiores perdas materiais. 
Recuar para não ser sangrado em excesso. Mas, como escrevi outro dia, o bom senso é muito útil em quase todas a situações. Só não ajuda muito nas mais importantes. Vai que o PMDB peita e se dá bem? Sei lá. Mas os sinais vão no sentido contrário. 
De triste, apenas a infelicidade de o salário mínimo ter sido colhido pelo fogo cruzado da luta interna na Esplanada. Talvez a coisa mude de figura quando as centrais sindicais voltarem das férias e receberem a informação sobre o aumento mixuruca, casadinho com o congelamento da tabela das deduções do imposto de renda. 
Vai saber...

Político-partidáriaO governador reeleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT), sugere que a reforma política mude de nome, para reforma político-partidária. 
Um motivo é a necessidade de a lei prever mecanismos de democracia interna nas legendas. Elas recebem dinheiro estatal e todos são obrigados a entrar num partido se quiserem disputar eleição. Então será natural que uma eventual reforma cuide de garantir vida mais democrática dentro das siglas. 
O governador defende que o debate não fuja de assuntos delicados. Um deles: exigir que para concorrer à eleição o partido esteja definitivamente organizado no nível específico, com convenção feita. 
Hoje em dia o cacique nomeia uma comissão provisória e sai com a pastinha embaixo do braço negociando o tempo de televisão. 
Boas ideias há. O novo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), defende o fim das coligações nas proporcionais (deputado, vereador) e a perda do tempo de televisão (e rádio) se o partido não lançar candidato próprio. 
O partido poderia coligar-se, mas não carregaria com ele os minutos (ou segundos) na telinha. 
Se o governo quiser um debate para avançar, e não para piorar, tem por onde seguir. 

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