Maus costumes na montagem do ministério
Editorial
O GLOBO - 04/12/10
Lula e o PT marcharam para três derrotas consecutivas em eleições presidenciais refratários a alianças mais amplas. Aprenderam a lição e, em 2002, ganharam a primeira, com José Alencar, um empresário mineiro nada revolucionário, como vice-presidente. No entanto, o avanço — a abertura a outras forças políticas e ideológicas — não se deu assentado na formulação de um projeto comum, com objetivos e programas bem discutidos e definidos.
Esta constatação ficaria evidenciada, em toda a sua dimensão, quando veio à luz a arquitetura do esquema do mensalão, engendrada na cúpula do PT e na Casa Civil daquele início de primeiro mandato, com José Dirceu no comando.
A unidade da bancada parlamentar governista estava sendo cimentada à base de pagamentos com dinheiro sujo bombeado de empresas estatais.
À medida que transcorria o governo ficava também evidente que Lula fizera mais do que um loteamento de cargos do primeiro escalão. Permitiu a criação de capitanias hereditárias, como no Incra/Ministério do Desenvolvimento Agrário, área doada aos chamados movimentos sociais.
No final, tudo deu certo para o presidente, pela clarividência dele em manter pilares da política econômica da Era FH e pela sorte de conviver com um histórico ciclo de crescimento mundial.
Pois esta preocupação exclusiva com a conquista de espaços na máquina pública, em meio a uma grande barganha em que a cessão de cargos deve corresponder a determinado número de votos no Congresso, volta a se repetir.
E no toma lá dá cá destaca-se o choque entre a gula do PMDB, já bem situado na Brasília de Dilma Rousseff com o cargo de vice, e a resistência do PT a ceder espaço ao aliado preferencial.
Os demais partidos da aliança vencedora transitam em torno desse leilão atrás de sobras. Como das vezes anteriores, nenhuma negociação em torno de um projeto estratégico para o país.
Assim, a presidente eleita procura se garantir com pessoas de confiança em cargos-chave ---- a chamada “cota pessoal” ----, e fica o resto para ser decidido no pano verde deste jogo. Assim, haverá um governo da cota pessoal, outro do PMDB, outro do PT, dos chamados movimentos sociais, e assim por diante.
Este é um método eficaz de tornar a máquina pública mais ineficiente do que já é. E custosa, pela maior permissividade com a corrupção, inerente ao modelo fisiológico de montagem de governo. Há fartas provas destas distorções na Era Lula. Os Correios são uma das mais reluzentes delas. Estatal considerada exemplar durante muito tempo, foi virada pelo avesso: passou a ser símbolo de corrupção, e a qualidade de seus serviços desabou. Consta que Dilma quer revitalizar a empresa. Prestará um serviço ao país.
O setor elétrico é outro exemplo. Nele, há o PMDB — e dentro do partido, o grupo de Sarney — e o PT. Resultado: o PT da Eletrobrás não se entende com o PMDB de Furnas, e há pelo menos uma concorrência para construção de hidrelétrica atrasada devido à briga.
É óbvio que os partidos vitoriosos na eleição devem estar representados em cargos executivos. Mas o preenchimento de vagas na máquina administrativa não pode apenas obedecer a critérios políticos e ideológicos.
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