O castigo vem a camelo
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/10
BRASÍLIA - Lula vai ter uma surpresa em Doha, no Catar, na próxima sexta, ao se encontrar com o xeque Hamad Bin Kalifa Al Thani e sua mulher, Mozah: ao lado deles estará um brasileiro que é prestigiado assessor de cultura no país.
Sabe quem é? O engenheiro Márcio Barbosa, ex-presidente do Inpe (Pesquisas Especiais), ex-vice da Unesco e candidato à direção-geral da entidade com apoio do então diretor, o japonês Koichiro Matsuura, e de vários países. Mas Lula e o Itamaraty lhe puxaram o tapete, e a candidatura se esborrachou.
O pior é que o governo trocou Márcio Barbosa (além do senador e ex-ministro Cristovam Buarque) para apoiar um egípcio acusado de racista, o ex-ministro Farouk Hosny, que, em sendo da área de cultura, era capaz de queimar livros contrários às suas crenças.
Como o chanceler Celso Amorim explicou? O apoio ao egípcio convinha justamente "à forte política de aproximação com o mundo árabe".
Equivalente a jogar fora a vaga na Unesco por uns votinhos a mais para a cadeira permanente do Conselho de Segurança da ONU.
O desfecho? Barbosa desistiu, o egípcio esquisitão perdeu e a direção-geral da Unesco, que cuida de educação, ciência, cultura e tem um baita de um charme, ficou com uma diplomata búlgara, Irina Bokova.
Que seja feliz.
Sacou qual a grande ironia? O governo passou duplo vexame (contra um brasileiro e a favor de um racista) em nome da aproximação com o mundo árabe, mas não é que Barbosa era tão simpático à região, ou a parte dela, que acabou virando assessor do xeque do Catar?
Lula vai ter de engoli-lo duas vezes neste seu último ano de governo. Uma na ida a Doha, coincidindo com a provavelmente apoteótica visita a Mahmoud Ahmadinejad em Teerã. Outra em maio, quando o mesmo Barbosa virá ao Brasil com Mozah para o Fórum da Aliança das Civilizações. O castigo vem a cavalo.
Ou a camelo.
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