sexta-feira, fevereiro 19, 2010

NAS ENTRELINHAS

Cuide de si ou seja tutelado

Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 19/02/2010

A palavra-chave é “confiança”. A senha para a normalização política do GDF é a restauração desse quesito. Qualquer outro caminho tenderá a ser ilusório, temporário


Há uma maneira de evitar a intervenção federal na capital do país: é o sistema político local ser capaz de produzir uma solução institucional aceitável. E o que seria “aceitável”? Uma alternativa de poder que consiga a confiança das sociedades brasileira e brasiliense para bem gerir o orçamento do DF. É disso que se trata.

Está evidente que a saída política da crise não pode se limitar ao “mais do mesmo”. Como tem sido afirmado e reafirmado aqui desde a eclosão das revelações da Caixa de Pandora, não haverá solução sem remover do tecido político todo traço de suspeita. A Justiça e a política têm mesmo ritmos diferentes. Na primeira, a passagem do tempo ajuda a reduzir a influência das paixões. O que é bom. Na segunda, a velocidade do juízo é determinada unicamente pela força dos antagonistas, dada a regra do jogo. O que é um fato.

Há ainda certa diferença entre os julgamentos políticos no Executivo e no Legislativo. E, neste, entre situações que envolvam parlamentares com poder para ordenar grandes despesas, ou não. A mesma acusação contra um deputado qualquer e contra o presidente da Câmara ganha dinâmicas bastante diferentes, se se tratar de mau uso do dinheiro público. É razoável. Todos são inocentes até prova em contrário, mas a remoção do ordenador de despesas funciona como uma “liminar” da comunidade para impedir danos irreversíveis ao interesse geral.

E quanto maior o poder de quem está no alvo mais rapidamente a sociedade procura livrar-se dele.

Alguns enxergam a possível intervenção federal no DF como inaceitável regressão política, a volta a um estágio de minoridade. E não deixaria de ser. Mas convenhamos que o argumento não é suficiente para sensibilizar. Quem não sabe cuidar de si mesmo acabará, um dia, sendo tutelado. É ótimo que haja eleições marcadas para outubro, que está logo aí. Será a oportunidade para uma renovação nascida das urnas, o único caminho democrático para soluções definitivas.

Mas e até lá? Quem vai deter a caneta do milionário orçamento do GDF? Quem vai tocar as providências práticas para o sucesso desta sede da Copa do Mundo de 2014? Sem falar no aniversário de meio século da fundação, a esta altura já bastante comprometido.

A palavra-chave aqui, como está no primeiro parágrafo desta coluna, é “confiança”. A senha para a normalização política do GDF é a restauração desse quesito. Qualquer outro caminho tenderá a ser ilusório, temporário. Poderá oferecer alívio imediato, apenas para o problema reaparecer mais adiante. Multiplicado, potencializado.

Segundo turno
Defendi aqui que o único número realmente importante nas pesquisas eleitorais a esta altura é o de um eventual segundo turno entre os candidatos do PT e do PSDB.

Claro que subestimar Marina Silva (PV) seria um erro, mas o realismo indica hoje a polarização entre tucanos e petistas no primeiro e no possível segundo turnos. Daí que as atenções voltem-se para a diferença entre os dois nesse cenário.

Em eleição majoritária não basta ter muito voto, é preciso ter mais do que o adversário. A ascensão de Dilma Rousseff vem sendo festejada no PT, mas, nas conversas sinceras, petistas manifestam algum desconforto com o fato de o nome do PSDB estar, até agora, e sempre segundo eles, administrando a vantagem na polarização.

O PT acompanhará as próximas pesquisas com lupa. O partido quer Dilma Rousseff como o Luiz Inácio Lula da Silva de 2002 e 2006, não como o das três tentativas anteriores. Duas providências práticas já se desenham no petismo: cuidar para que a candidatura não abandone o centro e zelar para que o PSDB resolva mal, ou não resolva, a tensão entre São Paulo e Minas Gerais.

Bolsa-esmola
A propósito da coluna de ontem, Eduardo Graeff, assessor do então presidente Fernando Henrique Cardoso, escreve para negar que o PSDB seja autor da expressão “bolsa-esmola”. E afirma que “o primeiro a falar em `esmola` foi o PT, rimando com a bolsa-escola de FHC”. Graeff manda um link para comprovar sua afirmação: www.eagora.org.br/arquivo/quem-inventou-bolsa-esmola/.
Está registrado.

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