sexta-feira, fevereiro 19, 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Esquerda festiva

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/02/10



BRASÍLIA - Bem ao lado da entrada principal do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde se realiza o 4º Congresso Nacional do PT, há um imenso banner, em que se lê: "Por um verdadeiro governo do PT: 1. 40 horas e estabilidade no emprego; 2. petróleo 100% estatal; 3. fim do superavit primário; 4. retirada das tropas do Haiti; 5. candidatos próprios a governador".
Parece coisa para assustar criancinha. E é. Quem assina o cartaz é a corrente "O Trabalho", residual no partido. Seu candidato obteve 1% na eleição interna em 2009. Basta cruzar a porta para constatar que o "verdadeiro PT" está em outra.
O ambiente dessa esquerda que chegou ao poder parece, mais do que nunca, festivo. A começar pela decoração: o carpete vermelho (menos socialista do que hollywoodiano) contrasta com painéis, flâmulas feitas de retalhos penduradas pelo teto, bonecos de pano coloridos, representando em tamanho real tipos brasileiros.
Na área das "mulheres do PT", criou-se um espaço recreativo em torno de uma mesa redonda, onde as pessoas eram convidadas a pintar e bordar -literalmente.
Visualmente, o congresso do PT parece evocar as festas juninas, o São João de raízes nordestinas, o Brasil do interior, em contraponto à folia litorânea do Carnaval. A estética nacional-popular soa como homenagem involuntária a Lula.
Afora os bonecos de pano, José Dirceu, bastante magro, era a figura mais disponível no primeiro dia do congresso. Onde havia um bolinho de gente, lá estava ele, concedendo mais uma entrevista "da planície".
Para aliviar a tensão de 1.350 delegados, o PT contratou a empresa "Novo Ser: Massagem Terapêutica", que espalhou cadeiras pelo ambiente, prometendo à clientela "uma vida mais suave". Como ainda não existe bolsa-massagem, os preços variam de R$ 10 a R$ 30.
O PT que aclamará amanhã Dilma Rousseff busca sobreviver ao lulismo. Mas, mesmo a contragosto, sabe que ainda depende quase exclusivamente de Lula para ser feliz.

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