quinta-feira, fevereiro 25, 2010

KENNETH MAXWELL

Os chiliques de Gordon Brown


FOLHA DE SÃO PAULO - 25/02/2010


Pelas normas parlamentares britânicas, a próxima eleição geral do Reino Unido precisa ser realizada no máximo até 3 de junho. A data exata é escolhida pelo primeiro-ministro. Agora só restam cem dias de prazo.
E após um longo declínio, as perspectivas de Gordon Brown pareciam estar melhorando. Depois de meses de grande desvantagem em relação ao Partido Conservador, os trabalhistas, de acordo com a pesquisa desta semana do "YouGov", tinham menos de seis pontos percentuais de desvantagem. Tentando aproveitar a virada favorável ao seu partido, o primeiro-ministro procurou projetar uma imagem mais suave ao discutir as alegrias e tragédias de sua vida e verteu lágrimas abertamente em uma entrevista na TV ao falar da morte de sua filha, ainda bebê, em 2002.
Mas as boas notícias duraram pouco. No domingo, o jornal londrino "Observer" publicou um excerto longo e devastador de um novo livro sobre o mandato de Brown como primeiro-ministro, desde que ele substituiu Tony Blair, em junho de 2007. Escrito pelo principal comentarista político da publicação, Andrew Rawnsley, "The End of the Party" retrata um Gordon Brown "instável, sofrido e sob cerco em seu esforço por se adaptar ao posto de primeiro-ministro".
Seus colegas de gabinete se apressaram em defendê-lo e descartaram como "malévolas" e "infundadas" as alegações do livro.
Mas Christine Pratt, que criou o "National Bullying Helpline", um serviço de assistência telefônica a vítimas de intimidação, confirmou ter recebido queixas de funcionários da equipe do primeiro-ministro. Ela foi imediatamente atacada por partidários de Brown por sua violação de confidencialidade.
Rawnsley oferece numerosos detalhes sobre os momentos sombrios, os acessos de ira e as exibições de rudeza, e até de brutalidade, de Brown para com seus assessores. E também faz muito ao explicar o papel crucial assumido por lorde Mandelson, secretário da Indústria e Comércio -no passado, um dos mais perigosos e ferozes críticos de Brown, mas hoje seu principal defensor.
Que o primeiro-ministro britânico tem um problema de relações públicas não é novidade. "O temperamento ocasionalmente vulcânico de Gordon Brown dificilmente poderia ser considerado como um segredo de Estado" é a formulação oferecida por um correspondente da rede de TV BBC. Mas as novas críticas abriram linhas de ataque aos seus oponentes políticos.
O líder conservador, David Cameron, exigiu um inquérito; Nick Clegg, líder dos liberais democratas, fez o mesmo. Ambos tentarão aproveitar as revelações no período que antecede a eleição geral britânica.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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