terça-feira, setembro 29, 2009

ARI CUNHA

Cerrado e deserto

CORREIO BRAZILIENSE - 29/09/09


Quando Brasília começou, as fazendas de cerrado eram alugadas aos carvoeiros. Todos os dias, no caminho das metalúrgicas de Sete Lagoas, os caminhões faziam fila. Cargas de carvão atingiam alturas enormes. O tempo passa. Essas fazendas já não produzem carvão. São alugadas aos plantadores de soja. Não mais existe cerrado nelas. Plantações infindas expulsam os passarinhos com os venenos que fazem a planta crescer. Não se ouve mais o cantar dos pássaros. Progresso danado, esse. O subsolo é aquoso. Cacimbas fornecem água para desenvolver as plantas. Natureza não aguenta desaforo. Sobre o assunto, hoje, pela manhã, no Interlegis do Senado, pesquisadores serão recebidos para o seminário O cerrado é a nossa casa.


A frase que não foi pronunciada

“O céu que nos cobre é o mesmo. A diferença está no horizonte.”
- Fernando Henrique Cardoso, pensando nos partidos.


Desobediência civil

» A Embaixada do Brasil em Tegucigalpa perde a razão. Zelaya não é refugiado. Com 63 patrícios, sugere que hondurenhos adotem desobediência civil. Governo de Honduras reage e o Brasil cruza os braços. Leva o assunto à ONU, a quem não cabe decidir. Já não temos o poder de extraterritorialidade, e Celso Amorim dá as costas para o problema.

Invasão

» Limeira foi diretor de posto de gasolina. Pioneiro, resolve invadir áreas na região das mansões do Lago. Do trecho 8 ao 9, cerca ilegal. Até endereço novo foi criado, “Sming”, onde fica a chácara Asas de Águia. Ali, criam-se cavalos, puxa-se água e se destroem matas. O córrego que passa ao lado do que foram as mansões de Juscelino vai desaparecer com a destruição das matas.

Centro de Atividades

» Região próxima aos shoppings centers do Lago Norte vai virar burburinho. Inauguração prevista para o final do ano. Não se conhecem providências em favor dos moradores. Fazem falta pontes ligando à Universidade e à DF-5, do outro lado. Em caso de acidente, o que é fácil, sufoco total.

Caixa Econômica

» Publicidade bem feita. Música popular bem explorada. “Você não vale nada”, mas o resultado é de popularidade a todo custo. O banco entra na publicidade em favor dos contribuintes, que aumentam em número e em vantagens de financiamento.

Dengue

» O ministro José Gomes Temporão passa dia e noite olhando a saúde do Brasil. As vacinas contra dengue estão em pesquisas no Instituto Oswaldo Cruz. Os resultados demorarão
pelo menos cinco anos.

Acidentes

» Estradas de Minas vivem drama com o aumento do número de vítimas em acidentes. Morre mais gente do que na guerra. E muitos ficam inutilizados por conta do governo. Caminhões velhos, ônibus impróprios. Motoristas com obrigação de horário para entrega da carga tomam coca-cola com arrebites e perdem o juízo. Outro dia, às 10h, um com lanterna verificava pneus.

MST

» O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras ocupam pequenas propriedades do Rio Grande do Sul. Dizimam produções em nome da revolução da reforma agrária. Roubam, destroem e saqueiam. O governo sustenta esses movimentos, que confiscam áreas produtivas pelo prazer de ser a favor da reforma agrária à sua moda. Não usam enxadas. Usam canetas. Não plantam um pé de couve. Compram tudo.

Tradição

» Faz muitos anos que presidentes norte-americanos se reúnem com judeus e árabes tentando união. Todos se cumprimentam. Voltando às suas terras, árabes insultam judeus e prometem destruição do Estado de Israel. Anos atrás, Abi Eban disse a grupo de jornalistas brasileiros que o Brasil não é a terra dos milagres. Em Israel as crianças aprendem a ler e a escrever em documentos com mais 5 mil anos.

Pré-sal

» O Brasil avança no pré-sal. Outros países ficam observando. Despesas são altas, e os resultados podem ser desfavoráveis a um país que invista nessas pesquisas. É que, à margem, se desenvolvem outros caminhos para o combustível. O consumo aumenta a cada instante e polui o universo.


História de Brasília

Quatro anos depois de criada a Cidade Livre, pela primeira vez aparecem os garis fazendo a limpeza. O pessoal ali residente, dr. Paulo de Tarso, ficou tão alegre que ninguém acredita, mesmo vendo, no que está acontecendo. (Publicado em 10/2/1961)

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