domingo, novembro 10, 2013

A juventude da maturidade - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 10/11


Feliz aniversário!

Foi só ela ouvir o cumprimento e virou o rosto como se estivesse sendo agredida. “Não repita isso de novo. Não sei o que há de feliz em ficar mais velha”.

Respondi: “Você diz isso porque está fazendo 34 anos. Quando fizer 52, vai sentir vontade de pendurar balões pela casa”.

Ela desvirou o rosto e voltou a me encarar como se eu estivesse tendo algum surto de insanidade. Exatamente como aquelas expressões que ilustram a coluna da Mariana Kalil aqui no Donna, com um baloon escrito “HÃ?”.

Só quem atravessa ao menos cinco décadas de vida pode entender a bênção que é entrar na segunda juventude.

Claro que antes é preciso passar pelo purgatório. Poucos chegam aos 50 anos sem fazer uma profunda reflexão sobre a finitude, e dá um frio na barriga, claro. Amedronta principalmente quem ainda não fez nem metade do que gostaria de já ter feito a essa altura. Será que vai dar tempo?

Passado o susto, a resposta: vai. E se não der, não tem problema. Você não precisa morrer colecionando vontades não realizadas. Troque de vontades e siga em frente sem ruminar arrependimentos. Você finalmente atingiu o apogeu da sua juventude: é livre como nunca foi antes.

Sendo assim, não passe mais nem um dia ao lado de alguém que lhe esnoba, lhe provoca ou que não se importa com seus sentimentos. Pare de inventar razões para manter seus infortúnios, você já fez sacrifícios suficientes, agora se permita um caminho mais fácil. Se ainda dá trela a fantasmas, se ainda pensa em vingançazinhas ordinárias, se ainda não perdoou seus pais e seu passado, se ainda perde tempo com vaidades e ambições desmedidas, se ainda está preocupado com o que os outros pensam sobre você, está pedindo: logo, logo vai virar um caco.

Para alcançar e merecer a segunda juventude, é preciso se desapegar de todas aquelas preocupações que existiam na primeira. Quando essa Juventude Parte 2 terminar, não virá a Juventude Parte 3, mas o fim. Então, esta é a última e deliciosa oportunidade de abandonar os rancores, não perder mais tempo com besteiras e dar adeus à arrogância, à petulância, à agressividade, ou seja, adeus às armas, aquelas que você usava para se defender contra inimigos imaginários. Agora ninguém mais lhe ataca, só o tempo – em vez de brigar contra ele, alie-se a ele, tome o tempo todo para si.

Eu sei que você teve problemas, e talvez ainda tenha – muitos. Eu também tive, talvez não tão graves, depende da perspectiva que se olha. Mas isso não pode nos impedir a graça de sermos joviais como nunca fomos antes. Lembra quando você dizia que só gostaria de voltar à adolescência se pudesse ter a cabeça que tem hoje? Praticamente está acontecendo.

Essa é a diferença que tem que ser comemorada. Na primeira juventude, tudo vai acontecer. Na segunda, está acontecendo.

Viajar é preciso - FÁBIO PORCHAT

O Estado de S.Paulo - 10/11

A coisa que eu mais gosto de fazer na vida é viajar. Tá bom, talvez primeiro seja trabalhar e depois viajar. Talvez eu só trabalhe pra poder pagar minhas viagens. É isso! E uma das coisas mais legais de viajar é planejar a viagem. Investigar aquele país, quais são as atrações principais, quais são aquelas mais alternativas, coletar dicas com quem já foi, vasculhar as novidades... Eu começo a pesquisa uns oito meses antes. Você praticamente viaja antes de viajar. Com a internet, então, você não precisa nem mais viajar. Tá tudo ali. Todas as fotos na melhor resolução possível, relatos descritos nos mínimos detalhes de tudo que está por vir. Por isso mesmo, por conta desse monte de informação, viajar, hoje em dia, pode correr o risco de ficar chato. Ou, menos legal.

De tanto olhar praquela paisagem nas fotos, de tanto saber sobre tudo o que acontece por lá, quando chega no ao vivo, o impacto diminui muito. Eu já fui pra lugares de todos os tipos. Desde os clássicos Paris e Nova York até pruns mais malucos como o Marrocos, Vietnã e Croácia, e tenho cada vez mais planejado menos. Claro que é uma maravilha poder viajar com tudo já definido, hotel, passeios, alimentação, você pode fugir de muitas roubadas, mas... As roubadas também fazem parte da viagem. Não ser enganado pelo taxista em Roma é quase que não ter ido à Itália.

Viajar consiste em você ser turista. E você ser turista consiste em você ser perdido e otário. Não adianta fingir que você tem o controle da situação porque você não tem. Você não mora lá, você não conhece lá. Mesmo que você já tenha ido pra lá, não se engane, você conhece 10% de lá. Eu fico imaginando como seria viajar pro Egito em 1980. Sem internet, sem celular, sem informação nenhuma, sem saber o que encontrar. Isso sim devia ser uma aventura. Imagina chegar na Índia em 91! Tudo devia ser assustador e, ao mesmo tempo, impressionante. Tudo era novo, diferente, nunca antes visto. Hoje você já sabe até qual o cheiro da Pirâmide porque o Discovery já esmiuçou a história de todas as formas.

É claro que, por conta do acesso à informação, viajar ficou muito mais fácil e prático, e é muito melhor saber, ainda no Brasil, que o hotel em que você planejava ficar no Nepal é na verdade uma casa de açoite de prostitutas menores de idade vindas do leste europeu, mas o Taj Mahal com certeza não causará em mim o impacto que causou na minha avó. Mas tudo isso, não é nostalgia de um tempo que eu não vivi e nem estou querendo dizer que aqueles tempos sim é que eram bons tempos. Até porque, aqueles tempos não podiam ser bons tempos porque não tinha ar condicionado em lugar nenhum. Mas, pensando em tudo isso, agora quero chegar lá e ver qual é a do lugar. Eu quero tentar deixar a Muralha da China me surpreender. Vai que eu chego lá e descubro que é tudo feito de papel crepom.

E se você tiver alguma dica sobre Quênia, Tanzânia ou Ruanda, to querendo!

GOSTOSA


Máscaras - TONY BELLOTTO

O GLOBO - 10/11

Em termos de criatividade ninguém supera os políticos. Eles conseguiram criar a máscara de carne e osso, ou a máscara sem máscara, a máscara de pau

Máscara negra

Antes que os black blocs a desprestigiassem, a máscara negra era para nós a expressão da alegria descompromissada e sensual do carnaval, quando, entre os mais de mil palhaços no salão, entoávamos romanticamente, com os braços erguidos a Dionísio: “na mesma máscara negra, que esconde teu rosto, eu quero matar a saudade…”, para, em seguida, num bote digno de um predador, mudarmos repentinamente de atitude, enquanto a marcha acelera o ritmo e anunciamos à mascarada (ou ao mascarado) ao lado: “vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval…”.

Máscara grega

O carnaval remonta às antigas festividades gregas em homenagem a Dionísio, o deus do vinho, quando todos bebiam, cantavam e dançavam mascarados com folhas de parreira, por acreditar que a divindade estava presente entre os convivas. O teatro nasceu como uma derivação dessas festas, e nele as máscaras tiveram papel fundamental, pois no teatro grego os personagens e suas personalidades eram definidos pelas máscaras que os atores usavam. No teatro clássico japonês as máscaras também são frequentes, assim como em rituais de tribos africanas. Foram as máscaras africanas, aliás, que inspiraram Pablo Picasso a pintar “Les demoiselles d’Avignon”, obra inaugural do cubismo.

Máscara cirúrgica

A palavra máscara tem origem provável no latim, mascus, que significa “fantasma”, ou no árabe maskharah, “palhaço” ou “homem disfarçado”. Sociedades primitivas sempre usaram máscaras em rituais fúnebres ou de celebração. As máscaras estão disseminadas por nossa cultura e são usadas de inúmeras formas. Desde disfarces até como proteção para médicos e pacientes, como é o caso das máscaras cirúrgicas.

Máscara do Batman

Esconder a identidade é talvez a função mais popular das máscaras. Bandidos sempre se mascararam usando meias, lenços ou o que estivesse à mão. Estranhamente, nas histórias em quadrinhos, os justiceiros e combatentes do crime também se mascaram, como se houvesse algo de reprovável em perseguir bandidos e malfeitores. O mais provável é que os super-heróis se mascarem apenas para proteger suas privacidades. Não se pode negar que o fazem com bastante imaginação. Basta que se analisem as máscaras do Batman, do Homem-Aranha e do Homem de Ferro, por exemplo. Zorro, Fantasma e o Super-Homem, ao contrário, não primam pela originalidade, preferindo optar por modelos básicos.

Máscara de pau

Em termos de criatividade ninguém supera, porém, os políticos. Eles conseguiram criar a máscara de carne e osso, ou a máscara sem máscara, popularmente conhecida como a másCara de pau. Para estes mestres do mascaramento, não é necessário nenhum acessório para que escondam suas identidades e verdadeiras intenções. Aplausos.

Subcomandante Marcos

O homem conhecido como subcomandante Marcos é um revolucionário mexicano, porta-voz do grupo indígena Exército Zapatista de Libertação Nacional. Professor de filosofia que deixou o magistrado pela luta armada, com o tempo o subcomandante abandonou as armas em prol da luta política não violenta e do diálogo. Um de seus livros se intitula “A nossa arma é a nossa palavra”. Sempre mascarado, o ativista justifica o uso da máscara com um texto publicado em 1994, do qual extraio alguns trechos: “Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, anarquista na Espanha, palestino em Israel, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, pacifista na Bósnia, dona de casa num sábado à tarde, camponês sem terra, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, Zapatista no sudoeste do México.”

Hidra

Ao contrário dos antigos gregos, que se mascaravam para dançar e beber, ou dos brasileiros comuns, que se mascaram para pular o carnaval, os black blocs se mascaram basicamente para dar porrada em postes, vidraças e caixas eletrônicos. Às vezes, para variar, descem a porrada também em policiais indefesos ou não. Não sei exatamente o significado que dão às máscaras os ativistas dos black blocs, e qual estratégia se esconde por trás de seu mascaramento. Se é que estão preocupados com significados e estratégias. Usam a máscara no sentido do subcomandante Marcos, que preconiza uma espécie de potencialização da individualidade por meio de sua dissolução? Ou usam-na só para se esconderem, como arruaceiros banais? Apesar de discordar de seus métodos, não reputo aos black blocs o primado da violência no país, como querem fazer crer alguns. Eles são apenas uma cabeça a mais nessa grande hidra que é a violência brasileira.

Frases de efeito - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 10/11

Quando digo que a arte existe porque a vida não basta, estou dizendo que a arte torna a vida mais rica


Muitos anos atrás --e bota anos nisso-- escrevi uma série de aforismos sobre a crase e os publiquei no suplemento literário do extinto "Diário de Notícias", do Rio de Janeiro.

Um deles se tornou muito conhecido, a ponto de estudantes em greve, em Curitiba, o terem escolhido como lema de seu movimento. Estenderam uma faixa no refeitório da faculdade: "A crase não foi feita para humilhar ninguém".

Não demorou muito, apareceu alguém para dizer que aquela frase era de Machado de Assis. Logo surgiu outro que a atribuiu a Carlos Drummond de Andrade. Até a atribuíram a Rubem Braga, que, numa de suas crônicas, desfez o equívoco: a frase não é minha nem de Machado nem de Drummond; é do poeta Ferreira Gullar.

Não sou um frasista, muito embora algumas frases minhas tenham se tornado conhecidas. É o caso da que diz assim: "Não quero ter razão, quero ser feliz". Até agora ainda não apareceu ninguém para atribuí-la a algum escritor ou pensador famosos.

É verdade, porém, que já não sou o dono dela. Foi pelo menos o que pensei quando Cláudia, minha companheira, me trouxe de presente, no dia de meu aniversário, um copo que comprara numa loja de Ipanema: nela estava escrita a tal frase.

Eu a formulara, pela primeira vez, numa palestra que fiz na Flip. Falando sobre o conflito entre palestinos e israelenses, observei que ambos os lados alegam estarem com a razão e, enquanto isso, vêm se matando há mais de 50 anos. Acho que eles deviam parar de ter razão --disse eu então-- e fazer um acordo de paz. E contei também como, certo dia, minha namorada veio me encontrar para irmos ao cinema, mas começou uma discussão entre nós, cujo desfecho foi ela pegar a bolsa e ir embora. Eu fiquei ali, cheio de razão, mas triste para cacete. Então disse a mim mesmo: o que importa não é ter razão, mas ser feliz.

Veja bem, quando digo que não sou um frasista é porque não vivo de fato preocupado em fazer frases de efeito. De fato, o que procuro é formular de maneira mais sintética e clara possível, o que se aprende com a vida. De modo geral, as frases de efeito, quase sempre expressam, quase sempre, uma verdade aparente ou parcial, porque o que o frasista procura, menos que a verdade, é o efeito. Modéstia à parte, não é o meu caso.

Por exemplo, outra frase minha que ganhou certa popularidade diz assim: "A arte existe porque a vida não basta". Não se trata de uma sacação de feito e, sim, conforme creio, de um modo meu de ver a arte como algo que acrescenta à vida o que gostaríamos que ela tivesse.

E não é que descobriram que essa frase já tinha sido formulada por Fernando Pessoa? Confesso que não sabia disso, mas é natural que não soubesse porque o que li do grande poeta português foram os poemas.

De sua prosa, lia muito pouco, mesmo porque, se admiro ilimitadamente o poeta que ele é, não concordo com sua visão de mundo, seja espiritual, seja política. Mas fui para a internet e terminei encontrando a frase do poeta, que diz assim: "A literatura, como arte, é uma confissão de que a vida não basta". É, sem dúvida, muito parecida com a minha, mas não diz a mesma coisa.

A diferença decorre precisamente de que a minha visão de mundo não coincide com a de Pessoa: ele era espiritualista e eu, materialista.

Quando ele diz que a arte é "uma confissão de que a vida não basta", o que está afirmando é que o significado da vida não se limita à realidade material do mundo; essa realidade não lhe basta, ela só se completa com a dimensão espiritual. A arte e a literatura --particularmente a dele, Pessoa-- são uma confissão de que a vida só se completa no plano espiritual. A realidade material não basta.

Minha visão é outra e, portanto, outro o significado de minha frase. Quando digo que a arte existe porque a vida não basta, estou na verdade dizendo que a arte torna a vida mais rica, mais fascinante, mais encantadora. Mas essa frase não surgiu do nada.

Na verdade, acredito que o objetivo de arte não é, como se diz, revelar a realidade mas, sim, reinventá-la. Quando Van Gogh pinta o quadro "Noite Estrelada", está acrescentando aos milhões de noites reais, mais uma que só existe em sua tela. E reinventa, assim, a noite real.

Por que não fiz fortuna - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 10/11

Não terei direito a reclamar se um dia meu saldo bancário, de tão esbelto, não me servir mais que a sopa dos pobres; em outras palavras: se por uma rarefação pecuniária eu vier a perder não apenas o pré-sal, como se passou com aquele multiempresário, mas o próprio sal. O culpado serei eu. Não que estivesse fadado a ter fortuna, derretível ou não, como a do referido Sr. X-Tudo. Mas reconheço: joguei fora algumas oportunidades de fazer com que a minha conta fosse, a exemplo de minha pessoa física, acumulando gordurinhas.
A primeira delas foi na juventude belo-horizontina, quando Bueno de Rivera - poeta que sabia como poucos tanger a lira, aí incluída a moeda italiana de então - me propôs criarmos uma produtora de documentários de curta-metragem. Ainda posso vê-lo, olhos semicerrados, corpanzil arreado no sofá da redação do Suplemento Literário, onde eu trabalhava, a me explicar como seria a coisa: filmetes (estávamos longe do hoje antediluviano videocassete) para animar festinhas de aniversário de crianças de famílias abastadas.

Entre rodadas de brigadeiro, os amiguinhos seriam submetidos a uma catadupa de imagens do cotidiano de quem soprava as velas: Flavinha e suas bonecas, Flavinha e as coleguinhas, Flavinha na escola, Flavinha no clube, Flavinha cavalgando na cinematográfica fazenda do vovô. Em pouco tempo, antevia o poeta, não haveria em Belo Horizonte criança rica que não atormentasse o pai para arrancar dele seu próprio filme de aniversário. Mina de ouro! - e o ladino Bueno de Rivera agora arregalava os olhos como em presença de um saco de moedas ou de um decassílabo perfeito.

Vagamente repugnado, desconversei. Como podia um poeta conceber semelhante expediente para cavar dinheiro? Não fiquei em Belo Horizonte para ver se, com sócio mais flexível, o projeto foi adiante. Vai ver que sim, pois o autor de Mundo Submerso já emplacara bolações rentáveis como o onipresente Guia Rivera, GPS de papel que nenhum motorista de táxi podia dispensar. Foi também ele quem editou um aparatoso volume com perfis de figurões da vida mineira, viabilizado porque as famílias dos homenageados toparam comprar antecipadamente três exemplares da obra - publicada sem ônus para Bueno de Rivera, pois o governo de Minas a considerou de interesse público.

Minha segunda chance de ganhar uns cobres veio anos mais tarde, em São Paulo, no momento em que me preparava para ir viver em Paris. Quando fui devolver o quarto e sala onde morava, o proprietário, Rubens Caporal, dono também da Casa Prata, importadora de comidas e bebidas finas, me fez uma proposta: ser na França o seu comprador de vinho, o que lhe pouparia cansativas viagens a trabalho.

Por pouco não reagi ofendido, tão inflado estava por minha condição de jornalista, atividade, julgava eu, incomparavelmente mais nobre que o vulgar comércio. Caído na real, já não pensava assim quando, um ano mais tarde, de passagem por Paris, o boa praça Rubens Caporal teve a generosidade de renovar o convite. Fiquei tentado - quando menos, pelas descidas que faria a caves de sonho, para cafungantes & bochechantes degustações -, mas um persistente orgulho de jovem não me deixou berrar "sim!"

Foi também naquela época que minha amiga e colega Bia Bansen me apareceu com a perspectiva de um dinheirinho, nem tão diminutivo assim. Tendo aberto um parêntese na sua vida de jornalista, ela estava providenciando o lazer de brasileiros que tinham ido ver a Copa do Mundo na Alemanha e que, entre dois compromissos da nossa seleção, estavam ávidos por programas extrafutebolísticos. Você topa administrar o pessoal em Paris? - perguntou a Bia.

Com essa amiga eu não precisaria fazer cerimônia, mas me abstive de explicar o quanto me caíra mal a possibilidade de macular meu currículo de trabalhador intelectual (tomado pela vertigem de sobreloja, eu já me sentia nas culminâncias) com um capítulo como guia turístico. Nem preciso dizer o quanto me arrependi, também naquele episódio - ainda mais ao ver a bem-sucedida carreira que a querida e competente Bia Bansen veio a construir no ramo da comunicação.

Posso pedir mais uma chance?

GOSTOSA


Degenerados - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 10/11

Ainda existem milhares de obras de arte desaparecidas na guerra das quais não se tem notícia. Mas aos poucos elas reaparecem. Arte é difícil de matar



Descobriram num apartamento da cidade de Augsburg, perto de Munique, Alemanha, mais de 1.400 quadros desaparecidos durante a Segunda Guerra Mundial. Os quadros incluem pinturas e desenhos de expressionistas alemães como Georg Grosz e Max Beckmann mas também de artistas como Matisse, Chagal, Renoir, Toulouse-Lautrec, Picasso e outros mestres europeus. A descoberta,, segundo o “New York Times”, foi há algum tempo, mas as autoridades alemãs só a noticiaram agora porque temiam que a revelação aumentasse a grossa confusão sobre a propriedade das obras encontradas.

Elas são, obviamente, produto da pilhagem de museus e coleções privadas dos territórios invadidos pelos nazistas na guerra. Mas estavam no apartamento de um descendente de Hildebrand Gurlitt, que, apesar de ser judeu, foi o escolhido por Goebbels para avaliar e ajudar a vender os quadros e era, legalmente, o dono do tesouro.

As obras incluem o que Hitler chamava de arte “degenerada” — os expressionistas alemães, principalmente — que pela sua vontade deveria ser destruída, e as de grande valor comercial, cuja venda reforçaria os cofres do Terceiro Reich. Mas na promiscuidade do achado não se distingue umas das outras, e não deixa de haver uma triste ironia no fato de os mestres do impressionismo francês, por exemplo, estarem de novo na companhia de “degenerados”, como no famoso Salão dos Rejeitados em Paris, que reuniu os enjeitados pelos acadêmicos da época, e de onde saiu a grande arte do século XIX.

Ainda existem milhares de obras de arte desaparecidas na guerra, das quais não se tem notícia. Mas aos poucos elas reaparecem. Arte é difícil de matar. Inclusive a “degenerada” . Há pouco estive num museu em Munique em que havia uma exposição dos expressionistas alemães. Todos mortos, e todos vivíssimos.

O craque é o coletivo - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 10/11

Não foi necessário um fora de série no Cruzeiro; todos os jogadores evoluíram, em especial Éverton Ribeiro


Se o Cruzeiro não for campeão hoje, será nas próximas rodadas. Outros grandes clubes, com elencos mais caros e considerados favoritos no início da competição, decepcionaram. Apenas o Atlético-MG tem uma boa justificativa, a conquista da Libertadores. Méritos para outras equipes, de quem se esperava pouco, como Goiás, Vitória e, principalmente, Atlético-PR. Cruzeiro e Atlético-MG são os grandes times brasileiros do ano.

No início do Brasileirão, achava que faltava ao Cruzeiro um fora de série, como foi Alex em 2003. Não foi necessário. O time atual possui também um craque, o coletivo. Com isso, todos os jogadores evoluíram, principalmente Éverton Ribeiro, o melhor do campeonato. Outros destaques foram Fábio, Dedé, Nilton e Ricardo Goulart. Os outros também atuaram bem.

Pensava que Éverton Ribeiro era apenas um meia habilidoso. Ele é muito mais que isso. Tem muita mobilidade e criatividade, além de participar da marcação. Deu passes decisivos e fez muitos gols, alguns belíssimos.

Outra grande virtude do Cruzeiro é a diversidade. O time, sem esquecer da marcação, faz gols de todos os jeitos, pela direita, pela esquerda e pelo centro, pelo alto e pelo chão, de tabelas, de triangulações e de lançamentos longos, de finalizações de dentro e de fora da área. O time não depende de um único artilheiro.

Em vez de os laterais correrem e cruzarem para a área, como faz o Grêmio, para contar com a sorte de a bola chegar a um companheiro, o Cruzeiro forma duplas pelos lados, que trocam passes e envolvem o marcador. Aí, a bola é passada para alguém finalizar.

Marcelo e a diretoria contrataram bem. O Cruzeiro tem dois bons times, quase do mesmo nível. Apenas Fábio e Éverton Ribeiro fazem falta. Marcelo usou muito bem o elenco. Substituiu e poupou jogadores na hora certa. Mesmo quando a troca era por motivos técnicos, ele passava aos jogadores e à imprensa a mensagem de que a substituição era para poupar o atleta. Não soube de nenhum jogador descontente.

Não vou dizer que o tranquilo e equilibrado Marcelo usou de uma sabedoria mineira, pela mesma razão que detesto o chavão de rotular as pessoas que têm dúvidas de mineiros, de ficarem em cima do muro. Mineiro não pode ter bom senso nem dúvida. Só os ignorantes, os extremistas e os prepotentes, que se acham os donos da verdade, têm certeza de tudo. Há pessoas de todos os tipos em Minas Gerais, nos outros Estados e em todo o mundo.

Marcelo, atento durante as partidas, ajuda a desmistificar os absurdos conceitos de que técnico bom é o que grita e fica agitado na lateral do campo, que pressiona árbitros e auxiliares, que é mal-educado nas entrevistas e que nunca dá explicações técnicas e táticas por achar que ninguém entende de futebol.

Um outro lado do crack - JAIRO BOUER

O Estado de S.Paulo - 10/11

Você votaria em um prefeito que já usou crack? Na semana passada, Rob Ford, de 44 anos, governante de Toronto, a maior cidade do Canadá, admitiu, após meses de pressão, ter fumado a droga no passado, quando, segundo ele mesmo, estava sob efeito de doses elevadas de álcool. Desde maio se sabia da existência de um vídeo, agora sob o poder da polícia, em que o prefeito aparecia fumando.

Enquanto vários setores pedem sua renúncia, o prefeito disse que não vai abandonar o cargo e que pretende disputar a reeleição em 2014. Embora em política, tanto aqui como no Canadá, as intenções de voto da população possam dar guinadas radicais, mesmo após a revelação de Ford, sua popularidade subiu 5 pontos e alcançou 44%. Na quinta-feira, após a veiculação pelo jornal Toronto Star de um outro vídeo, em que o prefeito aparece visivelmente alterado, em um provável estado de embriaguez, proferindo palavrões e ameaçando alguém de morte, sua situação pode se complicar. A polícia também investiga a ligação do prefeito com traficantes conhecidos da região.

O caso de Ford mostra um outro lado do crack. Diferentemente da imagem clássica que se tem do dependente que perambula pelas ruas sem rumo, em situação de miséria, vivendo de bicos ou de esmolas, com envolvimento frequente em delitos para financiar o uso, existe uma parcela dos usuários que vive outra realidade.

Aqui no Brasil, a pesquisa Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, divulgada em setembro pelo Ministério da Justiça em parceria com o Ministério da Saúde, revela que, apesar de quase 48% dos usuários viverem nas ruas, 65% se engajarem apenas em trabalhos eventuais e a maioria não ter completado o ciclo básico de educação, outros 5% têm nível superior completo ou incompleto e muitos trabalham de forma mais regular.

Como qualquer tipo de droga, mesmo o crack, apesar de seu alto poder de adição, pode ser usado de maneira única ou até eventual. O levantamento brasileiro mostra que 0,81% da população nas capitais usou o crack em 2012 de forma regular. Mas é provável que uma parcela maior tenha experimentado ou usado a droga de forma esporádica. Com o poder de criar dependência rapidamente, existe o risco de usuários eventuais migrarem para um padrão de consumo mais permanente.

Recentemente, um prestador de serviço com quem trabalho me informou que havia se separado da mulher e que lutava para se livrar do crack. Apesar de estar usando a droga há alguns anos, teve uma piora recente e foi buscar ajuda. Mesmo usando crack, ele manteve seu negócio e conseguiu, apesar das oscilações e das ausências, fazer a empresa prosperar. É claro que havia criado uma estrutura que dava suporte a sua eventual falta de assiduidade.

De fato, com a maior parte das drogas (e até com o crack em alguns casos), há quem consiga seguir o tratamento sem abandonar o trabalho e sem se afastar da rotina do dia a dia. Essa é, em geral, a escolha. Os afastamentos e internações ficariam reservados, então, para situações mais complicadas.

No caso de Ford, talvez mais grave do que a questão do crack seja a sua relação com o álcool e os descontroles que podem surgir em situações de abuso de bebida, até mesmo com o maior risco de exposição a outras drogas. Em uma posição de tanta visibilidade como a vida de um prefeito, o resultado pode ser dramático. É lógico que alguém que enfrenta uma dependência pode se recuperar e voltar a ter um padrão adequado de trabalho e de relações sociais. Mas, sem abordar a questão de frente e, muitas vezes, no limite, sem se retirar temporariamente de cena, para poder focar em um árduo trabalho de reabilitação, o futuro pessoal e político pode ser duramente prejudicado.

GOSTOSA


Normal ou patológico? - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 10/11

SÃO PAULO - Vai ganhando corpo a corrente dos profissionais de saúde mental que, como o americano Dale Archer, denuncia a patologização de comportamentos normais. Pressões da indústria de drogas seriam um dos motivos para essa verdadeira epidemia de diagnósticos.

É fato que o aumento das doenças mentais ocorre num ritmo suspeito e que isso interessa aos laboratórios. Penso, porém, que ao menos parte do fenômeno está relacionado a uma questão de filosofia da medicina que é pouco explicitada. Quando se torna legítimo atuar? Na visão mais clássica, o médico só pode intervir para restaurar a saúde. A prescrição de drogas para qualquer outro fim que não curar uma doença bem definida seria antiética.

A questão é que, sem muito alarde, esse paradigma está mudando. Hoje, as pessoas procuram médicos não só para recuperar a saúde mas também para melhorar sua performance numa área ou apenas para sentir-se melhor. Não vejo muito como condenar em termos morais essa ampliação do escopo da medicina. É evidente, porém, que ela cobra seu preço. A patologização de estilos de ser que poucas décadas atrás seriam classificados como meras variações de personalidade é parte da fatura.

Paradoxalmente, a supermedicalização convive com seu reverso, que é o subdiagnóstico, já que parcela significativa da população brasileira não tem acesso ao sistema de saúde e fica sem tratamento. E, se queremos atender a todos, que me perdoem os psicoterapeutas, não há caminho que não o dos remédios.

Imaginemos, num cálculo conservador, que 10% da população sofre de algum transtorno e poderia beneficiar-se de tratamento. Se fôssemos ministrar duas horas de terapia por semana a 20 milhões de pacientes, precisaríamos de um exército de 1,1 milhão de profissionais executando jornadas fordistas (sem intervalo) de 35 horas semanais. É muita areia para o caminhãozinho do SUS.

Os caras - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 10/11

O sorriso de Lou Reed é um tesouro que guardo comigo. Mesmo que Roberto Carlos nunca mais queira me ver, continuarei amando quem fez “Fera ferida” e “Esse cara sou eu”.


Só entrei em contato com a música do Velvet Underground em Londres. Talvez já em 1970. Embora seja possível que Artur e Maria Helena Guimarães já me tivessem mostrado o disco com Nico, de 1967, que depois Ezequiel Neves vivia pondo pra tocar em nossas vitrolas. Eu gostei imediatamente do tom sombrio e violentamente urbano das canções e dos sons, a voz e a figura de Nico, que eu já conhecia de “La dolce vita”, somando-lhes mistério e encanto. A cara dessa loura de Fellini em meio aos filmes underground de Andy Warhol compunha um ambiente estético fascinante, o que tingia a música da banda de uma qualidade diferente de tudo o que a gente já gostava no mundo do rock de língua inglesa. Lou Reed apareceu para mim ali, no centro dessa aventura criativa tão estranha ao mundo meio rural, meio onírico do rock pós-Beatles.

Lou Reed morreu. Quando penso em quão longe eu estava de poder captar a beleza de sua arte em 1970 (capacidade que se desenvolveu lentamente e exigiu que eu entrasse em contato físico com a cidade de Nova York, o que só veio a acontecer nos anos 1980), fico assombrado com o fato de eu ter vindo a conhecê-lo pessoalmente e de ter havido uma troca de percepções artísticas entre nós. É perdoável que ele viesse a conhecer tão tardiamente um cantor latino-americano, mas é muito menos perdoável que esse mesmo cantor tenha tomado contato com a arte dele com atraso, ainda que muitíssimo menor. Que os dois tenham se encontrado tem algo de maravilhoso. Laurie Anderson veio ao Brasil com um filme, “Home of the brave”, e fui apresentado a ela. Laurie foi assistir ao primeiro show que fiz em Nova York depois disso. Era o “Totalmente demais”, eu só com o violão e falando muito entre as músicas, tão stand-up comedy quanto os antigos shows de Juca Chaves ou Ary Toledo. Muitas pessoas adoravam as canções suaves às cordas de náilon — e, tanto lá quanto aqui, não falta quem diga preferir aquilo a qualquer formação cello-e-percussão ou qualquer banda indie. Laurie me disse que gostou das falas, não deu muita bola para a aparente bossa nova. Quando fui com Jaques Morelenbaum mais Márcio Vítor e cia., ela levou seu marido para assistir. Ao final, Lou e ela chegaram ao apê em que jantaríamos e ele veio me falar do show. Lou é uma figura tão importante na história das pessoas do mundo contemporâneo, tem tal estatura histórica que não ouso contar o que ele me disse. Felizmente Laurie estava ali para rir um pouco e para dizer com gestos que a maluquice era dele, que ela era minha camarada mas que nada além de ter achado graça em minhas falas do show visto anos antes. Mas quando voltamos com formação semelhante, eles estavam lá. E quando fui com a banda Cê, idem. Sendo que neste último caso, já que fazíamos, em “Não me arrependo”, uma menção à linha de baixo de “Walk on the wild side”, a reação feliz dele saiu até no “New York Times”. Uma tarde, o interfone do meu apê em Nova York tocou. Eram Laurie e Lou, que estavam passeando o cachorrinho e passaram para bater papo. Lou contou uma piada, da qual eu não ri muito porque entendo mal inglês falado (minhas falas no “Totalmente demais” davam a impressão de que entendo tudo o que se diga em inglês, mas não): Laurie riu dele e disse que ele estava sempre contando piadas sem graça. Um casal sereno, muito americano, com um cãozinho. Em todas essas ocasiões, conheci o sorriso de Lou, algo que muita gente pensa que nem existe. E num show dele em Valência — em que ele tinha uma cellista e declamava Poe — fui cumprimentá-lo no backstage, e ele estava com um riso escancarado, feliz com a recepção do público. O sorriso de Lou Reed é um tesouro que guardo comigo. Quando Laurie veio com uma grande exposição no CCBB, mandou me chamar e conversamos. Lou não estava muito bem de saúde, ela me disse. Ou foi Arto Lindsay, amigo de ambos, quem interpretou, completando alguma frase vaga dita por ela em tom levemente triste.

No tempo em que eu nada sabia de Lou, Roberto Carlos tinha virado minha cabeça. Antes dos Beatles, aconselhado por Bethânia, dei atenção ao cara. Dali para a frente tudo foi diferente. Mesmo que ele nunca mais queira me ver, continuarei amando quem fez “Fera ferida” e “Esse cara sou eu”. Minhas trombadas nascem de querer quebrar algum esquema cristalizado que me impacienta. Não tenho o direito, acho. Não sou terapeuta dele nem palmatória do mundo. Zuenir estava certo quanto às diferenças de temperamento. Paulinha não gostou do que escrevi sobre o Rei. Mas acho que não tomo jeito, não vou mudar, esse caso não tem solução. Eu tinha feito muito esforço para defender a parte que acho defensável de uma causa que me estranha. Peço perdão.

De volta aos trilhos - CRISTINA GRILLO

FOLHA DE SP - 10/11

RIO DE JANEIRO - Santa Teresa, bairro encarapitado no alto de montanhas no centro do Rio, é uma das regiões mais charmosas da cidade. Ao longo das décadas, conseguiu manter sua unidade urbanística, com casarões e sobrados do início do século passado e alguns prédios de poucos andares.

Lá não se veem edifícios com vidros fumê, esquadrias de alumínio e outras modernidades que tornaram iguais quase todos os bairros da cidade, principalmente os ocupados pelas classes média e alta --a diferença entre eles, pode-se dizer, é que alguns têm praia, outros não.

Mas além dessas características, o que tornava Santa Teresa um lugar único era o bondinho que circulava por suas ruas e servia não só para o passeio relaxado de turistas, mas como meio de transporte para os milhares de moradores do bairro.

Há pouco mais de dois anos, um acidente interrompeu a circulação dos veículos. Seis pessoas morreram e 48 ficaram feridas por causa de uma falha no sistema de freios.

O desastre foi a gota d'água para que os bondinhos, velhos e mal conservados depois de anos de descaso, saíssem dos trilhos. E o bairro perdeu parte de seu charme. Imagine o Corcovado sem a estátua do Cristo Redentor. É quase isso.

Na sexta-feira, o governo estadual anunciou a volta do meio de transporte. A previsão é que esteja funcionando em junho de 2014, a tempo de ser mais uma opção de passeio para os turistas que virão para a Copa do Mundo. Até lá, Santa Teresa será mais um dos muitos canteiros de obras cariocas.

Não vai ser fácil a vida de quem mora em suas ladeiras. Mas, com certeza, o esforço vai valer a pena. É mais uma oportunidade de se revitalizar um bairro com grande vocação turística e de tornar mais fácil a mobilidade de seus moradores. O que não dá para entender é a demora para que o bairro voltasse aos trilhos.

Ciúmes - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O Estado de S.Paulo - 10/11

Lilian desconfiou que Artur iria deixá-la. Que seu amor por ela estava acabando. O Artur nem a chamava mais de Lili! Lilian decidiu que a solução era provocar ciúmes em Artur. Como?

Comprou um buquê de flores, escreveu num cartãozinho "Lilian: me diga quando...", assinou - depois de pensar muito num bom nome para amante - "Renê" e mandou entregarem o buquê com o cartãozinho no seu próprio endereço.

Deu certo. Foi o Arthur quem recebeu as flores na porta. Disse:

- Flores para você.

Lilian, fingindo surpresa:

- Flores? Para mim?

- E um cartãozinho.

- Um cartãozinho?

- Posso abrir?

- Não! Deixa que eu...

Mas Artur já estava lendo o cartãozinho.

- Muito bem. Quem é Renê?

- René?

- "Lilian, diga quando". Assinado, Renê.

- Eu não tenho a menor...

- "Diga quando" o quê? Hein? Hein? E quem é esse Renê?

- Eu...

O tapa foi tão forte que Lilian caiu de costas no sofá. Quando se ergueu, estava sorrindo. O Artur sentia ciúmes. O Artur ainda a amava, afinal. O Artur ainda a amava! Paft. Novo tapa.

Do sofá, eufórica, Lilian gritou:

- É uma brincadeira! Fui eu que mandei as flores. Fui eu que escrevi o...

Não pode terminar porque o Artur começou a sufocá-la com uma almofada do sofá.

***

É preciso explicar que Lilian não só vivia com Artur há apenas seis meses, tempo insuficiente para se conhecer uma pessoa, como não entendia a raça dos homens. Homem não tem ciúmes porque ama. Ciúmes não é uma questão entre o homem e a pessoa que ama. Ou é, mas a pessoa que ele ama é ele mesmo. Ciúmes é sempre entre o homem e ele mesmo.

- Quem é esse Renê? Hein? Hein?

Súbito, o Artur parou de sufocá-la com a almofada. Levantou-se.

Tinha se dado conta de uma coisa. Disse:

- Eu sei quem é esse Renê. Eu conheço esse Renê!

A Lilian ainda tentou chamá-lo de volta.

- Não existe nenhum Renê! Fui eu que inventei!

Mas o Artur já tinha saído de casa, depois de passar no quarto e pegar o revólver da gaveta da mesinha de cabeceira.

***

Lilian passou o resto do dia rondando pela casa, nervosíssima. Quando ouviu o ruído da chave na fechadura, correu para a porta. O Artur entrou sem olhar para ela.

- Onde você estava? O que aconteceu?

- Artur não respondeu. Foi para o quarto trocar de roupa. Lilian foi atrás. Havia respingo de sangue na camisa do Artur. O tiro fora de perto. Ele não trouxera o revolver de volta. Provavelmente, o jogara em algum matagal. Lilian:

- O Renê do cartãozinho...

Artur tapou a sua boca com a mão. Disse:

- Não se fala mais nesse nome nesta casa. Nunca mais. Está ouvindo?

E depois:

- Esse aprendeu a não se meter com a mulher dos outros.

***

Naquela noite, nenhum dos dois dormiu. Lilian pensando "Renê, Renê... Quem é que eu conheço com esse nome? Quem é esse Renê, meu Deus? Ou quem era".

De madrugada, amaram-se loucamente. O Artur dizendo:

- Viu o que eu faço por você? Viu?

Era a primeira vez que se amavam assim em pelo menos três meses. Ele até a chamou outra vez de Lili.

***

Durante dias, Lilian procurou nos jornais uma notícia sobre a morte de Renê. Nada no noticiário policial. Nenhum registro de desaparecimento. Nada nos avisos fúnebres. Quem seria aquele Renê? No fim de mais seis meses, Artur anunciou que iria deixar Lilian.

- Não vai não - disse Lilian.

E acrescentou que, no momento em que ele saísse pela porta, ela telefonaria para a polícia. A polícia gostaria de saber do fim de um certo Renê...

- Você faria isso, Lili?

- Experimenta.

Artur ficou.

Ueba! O Eikex tá fudidex! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 10/11

E o Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Os predestinados! Nome do médico que batia ponto e saía voando: Jetson! Jetson Franceschi! Nome de fiscal das propinas: Almir Cançado! Receber propina "cança" mesmo! E o homem mais rico do Brasil deve ser o Pina. Tudo vai pro Pina! E o nome do novo conselheiro da OGX do Eike: Adriano Salvo Salvate! Vai salvatex o Eikex, que tá fudidex!

E a nova empresa do Eike: Calotex! E acaba de sair a nova biografia não autorizada do Eike: "Da Luma à lama". Rarará. A lama foi praga da Luma!

E o Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram! E diz que o Bieber é blackbunda. Só transgride cercado de seguranças!

E atenção! Minas sempre na vanguarda: "Prostitutas de BH inovam, fazem convênio com a Caixa e recebem com cartão de débito e crédito". É o Xotacard! Ou Trepcard!

Mais uma categoria pra atormentar: Débito ou crédito? CPF na nota? Luz acesa ou apagada? Comum ou aditivada? Gelo e limão? Serve Pepsi? Rarará!

Desvantagem do Xotacard: beijo na boca, só no débito! E o duro vai ser explicar a fatura pra patroa. Mas essas faturas vêm sempre com nomes diferentes e esquisitos: "Hortifruti São Petersburgo". "Funilaria do Baitola".

Mas um amigo foi numa casa de massagem e a fatura veio no nome da empresa: Coma Bem! Rarará. E um leitor tem uma dúvida cruel e shakespeariana: "Se brochar, estorna?". Rarará!

E o Maluf tá com a esfirra suja! "Paulo Maluf condenado e com ficha suja". E ele: "É mentira! Eu lavei a ficha junto com o dinheiro". Ficha lavada! O Maluf tem ficha lavada!

E adoro quando ele diz: "Eu tirei os bandidos da rua". E botou todos na prefeitura! Rarará. E ainda faz uma ameaça nuclear: "Vou viver 200 anos". Vamos comemorar o bicentenário do Maluf. Quando ele será condenado pela zilionésima vez. E o Ceni ainda será o goleiro do São Paulo.

E um leitor me disse que o Maluf não vai morrer: vai transitar em julgado! Rarará! E outra coisa: não quero o Maluf inelegível! Protesto! Eleição sem o Maluf não tem graça!

Tem um amigo que ainda vota no Maluf por três motivos: rouba, mas faz; mente, mas não convence, e é culpado, mas ninguém prova! E pra cada viaduto, o Maluf constrói dez desviadutos. Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A nova classe média - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 10/11

A questão das classes sociais, sempre controvertida em toda parte, é particularmente difícil de abordar em Itaparica. Meu saudoso amigo Zé de Honorina, em momentos de indignação cívica, costumava dizer que não havia classes sociais na ilha. “Aqui é tudo igual”, dizia ele. “Tudo a mesma desgraça.” Uma vez eu tentei contrapor alguns argumentos discordantes.

— Inclusive nós dois! — interrompeu ele, encerrando a discussão.

Além de visões radicais deste tipo, a análise sociológica esbarra em confusões de toda ordem, como quando Ary de Maninha, em conferência proferida durante as comemorações do Sete de Janeiro, afirmou que a estratificação social na ilha estava adquirindo um perfil prenhe de incertezas. A maioria dos presentes cumprimentou Ary por mais uma vez brindá-los com belas palavras que ninguém entendeu, mas Piroca Vieira, que desconhecia qualquer um, quando se tratava de defender a ilha, não gostou, porque achou que se tratava de uma alusão pejorativa às reconhecidas virtudes da mulher itaparicana. Exigiu cadeia para o orador, e discursou várias vezes na porta da quitanda de Bambano, lamentando que já estivesse em desuso a antiga e veneranda prática de enfiar um ovo quente na boca dos difamadores.

— E não venha me dizer que “prenhe” não é “prenha”, que eu sei que “prenhe” é “prenha” em francês! — bradou Piroca. — Se não fosse o respeito que eu tenho por dona Maninha e dona Maroca, você agora ia ouvir quem é que está aqui prenha por causa da estripificação social! Eu não sou analfabeto, eu entendi tudo o que você disse com seu francesório metido a merda!

Não bastassem esses mal-entendidos, ainda há ações inesperadas, de consequências imprevisíveis. Zecamunista andou mais uma vez ausente por uma temporada, desta feita na região de Vitória da Conquista, como convidado especial de um torneio de pôquer para milionários e profissionais, onde as finíssimas garçonetes, atendentes, recepcionistas e outras auxiliares eram todas moças mundanas do mais alto quilate, contratadas no Sul do país. Tinha convidado quatro para passar uns dias com ele, uma delas era aquela mesma lourona de um metro e oitenta, que, quando atravessou de biquíni o Largo da Quitanda, Jacob Preto desmaiou. Sorridente e pagando uma rodada atrás da outra, no Bar de Espanha, Zeca comentou que os profissionais, principalmente ele, se deram bem, mas, quanto aos milionários, ele se orgulhava em dizer que promovera uma bela redistribuição de renda, naquela excursão.

Deve ter sido nesse instante que se manifestou o diabinho que frequenta o juízo dos agitadores contumazes e lhe sopra ideias inusitadas. À menção de distribuição de renda, o impenitente bolchevique, num salto surpreendente mesmo para quem, como ele, faz ginástica todo dia ouvindo as ondas curtas da Rádio de Moscou, levantou-se, batendo na testa. Era isso mesmo! Como não tinha pensado nisso antes? A revolução ao alcance da mão! A um custo irrisório, toda a estrutura de classes do município da Denodada Vila de Itaparica seria definitivamente alterada, a ilha ia dormir uma coisa e acordar outra coisa, nem Napoleão podia gabar-se de proeza semelhante.

Depois de uma ausência de algumas horas, trancado em casa, durante a qual as moças que hospedava e seus biquínis rebolaram pela Rua Direita abaixo e Jacob passou mal outra vez, Zeca finalmente ressurgiu no Bar de Espanha. Tinha consultado fontes, já tinha mandado acertar tudo, buscar notas de dois reais no banco, preparar postos de pagamento, contratar gente, fazer um cadastrozinho. Tudo somado, trabalho para não mais que uma semana, por aí. Vamos dizer, duas semanas para o pleno funcionamento do esquema, que era muito simples. Bastava pagar dois reais a cada cadastrado de classe média, o resultado estava garantido.

— O raciocínio é simples — disse Zeca. — Eu li que, para o governo, a classe média, começando pela baixa classe média, vai de 291 a 441 reais de renda familiar. Aí eu dou dois reais a cada família nessas condições. Quem está com 290 sai da pobreza e entra logo na classe média. Quem está com 441 pega os dois reais, passa para 443 e entra na classe média média. E quem está com 641, que é o limite da classe média média, pega os dois reais e entra na classe média alta. Acho que ainda preciso acertar uns ajustes na passagem da pobreza para a média baixa, mas, quando em boas mãos, as estatísticas fazem qualquer coisa, está aí o governo mesmo, que não me deixa mentir. Itaparica, o município com a maior porcentagem da população na classe média! Curva-te, São Paulo! Ajoelha-te, Rio! Aprende, Europa! O brasileiro é um ingrato e o nordestino um injustiçado, do contrário eu entraria para a História como o homem que revolucionou a mobilidade social, o primeiro a aparecer com uma novidade nessa área, desde Lenine.

— Você me desculpe, mas em que que isto muda alguma coisa?

— Você é um cego político. É o que dá se vender ao jornalismo capitalista. Isto é o mapa da vitória nas urnas, melhor que isto só no tempo em que o coronel seu avô pagava cem mil réis por um saveiro cheio de eleitores. Pense no programa de tevê do partido que adotar minha ideia: “Você hoje não é mais pobre, é classe média. E, agora que já se instalou nela, não vai querer sair, vai? Filie-se e vote no Nosso Partido, o NOP! Somente o NOP garante dois reais por família, para você permanecer ou subir mais na classe média! É o nosso compromisso! Votou, ganhou! Na escada para o topo, conte com o NOP!”

— Claro que essa maluquice não ia dar certo. Ia ser preciso um partido muito cínico, um Congresso muito irresponsável e um povo muito avacalhado.

— Justamente — disse ele.

A raça das bananas - DORRIT HARAZIM

O GLOBO - 10/11

Durante a campanha presidencial do ano passado, o candidato socialista François Hollande prometeu que, se eleito, excluiria a palavra “raça” da Constituição francesa. Explicava que só existe uma raça, a família humana.

A coisa andou. Seis meses atrás, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que suprime as 59 referências a “raça” ou “racial” em algum texto legislativo. Justificativa: “A Republica Francesa não reconhece a existência de nenhuma presumida raça... [...] Convém suprimir o termo, que não tem nenhum valor científico e sobre o qual as ideologias racistas baseiam suas convicções [...]”.

O projeto de lei ainda precisará passar pelo Senado, ser promulgado e se adequar aos vários acordos internacionais dos quais a França é signatária. Quanto a banir a palavra do Artigo I da Constituição, ninguém mais fala no assunto diante da montanha de problemas mais visíveis enfrentados pelo país.

Um deles é a cena ocorrida duas semanas atrás, durante a passagem pela cidade de Angers de uma autoridade de peso, a ministra da Justiça. Na República Francesa, quem ocupa esse cargo ainda é referido pelo título monárquico de Garde des Sceaux. Christine Taubira, franzina na aparência, nasceu em Caiena 61 anos atrás. Foi tenaz o suficiente para fazer a suada travessia da Guiana Francesa ao centro do poder político em Paris.

Desde que assumiu o cargo, no entanto, ela polariza a sociedade e suscita ódios intensos devido ao decisivo empurrão que deu para a aprovação do casamento homossexual. Mas não só por isso. Christiane Taubira é negra.

Na tarde de 25 de outubro, ela foi recepcionada por uma passeata contra a união gay. Já está acostumada. O protesto de Angers era tão “família” que sequer exigiu grande aparato policial: os manifestantes não chegavam a uma centena, a maioria pais e mães acompanhados de filhos em idade escolar.

À aproximação da ministra, palavras de ordem brotaram com naturalidade e empolgaram a criançada: “Macaca, vá comer tua banana”, “Taubira, você fede”. Em determinado momento, incentivada pelos adultos, uma pré-adolescente de 12 anos, mochila nas costas, conseguiu pegar uma casca de banana das mãos de um menino de sua idade e se pôs a balançá-la na direção da Garde des Sceaux. De algum ponto saiu a pergunta: “E para quem é a banana?” A resposta veio em coro, na ponta da língua: “Para a macaca.”

Christine Taubira é cidadã do mesmo país daquelas famílias — a Guiana onde nasceu não é colônia nem terra estrangeira, constitucionalmente faz parte da França.

Na semana anterior, outra passeata a esperava, desta vez no 5º arrondissement de Paris. À porta da Igreja de São Nicolau-du-Chardonnet, o padre fundamentalista Xavier Beauveais entoava para os fiéis, megafone em punho, o popular refrão de uma marca de chocolate em pó (Banania), proibido há anos por seu subtexto racista. Para o ramo mais retrógrado da Igreja, entrincheirado na luta contra o aborto, no ódio aos homossexuais e na defesa de uma França eternamente cristã, madame Taubira é o demônio que veio das Antilhas.

Houve mais. Uma candidata da Frente Nacional às eleições municipais de 2014 havia postado no Facebook a imagem de um símio ao lado da ministra da Justiça. Entrevistada pela emissora France 2, a candidata admitiu preferir ver a ministra “no galho de alguma árvore do que no governo”. Foi suspensa pelo partido, mas não expulsa.

Imagine-se o terremoto que uma sequência dessa natureza provocaria no Brasil se o alvo fosse o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Passaram-se vários dias sem que a mídia, os partidos políticos, as grandes figuras da República e a França pensante se insurgissem. François Hollande até hoje não fez nenhum pronunciamento à nação. Solidariedade houve, mas à pessoa de Taubira. A questão, no entanto, tinha outra dimensão.

Desta vez, até mesmo para ela, a soma dos fatores parece ter alterado o produto. E por isso resolveu soar o alerta ela mesma, através de longa entrevista ao diário “Libération”. “Na nossa sociedade as coisas estão descarrilhando. As inibições estão desaparecendo”, advertiu. “É a coesão social que está sendo destruída [...] Quando me chamam de macaca milhões de pessoas são afetadas. Milhões de meninas sabem que podem ser tratadas como macacas durante o recreio. [...] Construiu-se um inimigo interior. Aqueles que são incapazes de traçar um horizonte passam o tempo todo dizendo ao povo francês que ele está sendo invadido, que o perigo ronda. Espalham a doutrina do declínio. [...] A resposta judiciaria a tudo isso é indispensável: é preciso deixar claro que racismo não é uma opinião, é um delito. Mas isso não basta. A Justiça não pode reparar as patologias profundas que minam a democracia. A questão é mais ética do que moral: não se trata de saber se é certo ou errado ser racista, trata-se de determinar qual a ética da nossa sociedade[...].”

A ministra deixou para o fim a estocada mais dura: “O que mais me surpreende é que nenhuma voz forte e poderosa se levantou para alertar a nação de que a sociedade francesa está à deriva.”

Touchés. No dia seguinte, na Assembleia Nacional, deputados discursavam que a República estava sendo assassinada e o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault convidava todos a se levantar para dizer não ao racismo. Hollande conseguiu divulgar um comunicado conclamando os franceses a serem mais vigilantes diante da “extrema gravidade” dos insultos racistas.

Para o historiador Pascal Blanchard, autor de “La République coloniale”, Christiane Taubira tornou-se a inimiga de franceses que veem nela a usurpadora de um lugar que não lhe pertence. “É um racismo puro e duro, um racismo de pele que lembra o dos Estados Unidos dos anos 30 ou da França colonial.”

Melhor tentar trocar a realidade antes de decretar a troca de palavras da Constituição.

Quem traiu Arafat? - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 10/11

Israel é sempre acusado pelo suposto crime, mas, se é culpado, houve uma colaboração palestina


Se correta a conclusão de peritos suíços de que Yasser Arafat foi envenenado, a pergunta seguinte e óbvia é esta: quem o matou?

Israel seria a resposta óbvia, e já foi dada pela Autoridade Palestina, na voz de Tawfiq Tirawi, que era o chefe de inteligência quando Arafat morreu: "Consideramos Israel o primeiro, fundamental e único suspeito do assassinato de Arafat".

Concorda com ele até um judeu, ativista do "Paz Agora", Uri Avnery, que disse à Al Jazeera:

"Ariel Sharon [primeiro-ministro israelense na época da morte de Arafat] não escondia seu desejo e sua intenção de ver-se livre do presidente palestino".

A Sharon supostamente interessava o crime porque com Mahmoud Abbas, o atual presidente da Autoridade Palestina e que era então o segundo na hierarquia palestina, seria mais fácil fazer um acordo favorável aos interesses de Israel.

Não sei se essa interpretação é ou não correta. Mas que ela é disseminada, tanto em Israel como nos territórios palestinos, lá isso é.

Há entretanto outra versão para o crime, se crime de fato houve (os peritos suíços dão 83% de certeza de envenenamento, mas não 100%, o que, aí sim, seria definitivo).

No início do ano, os jornalistas Matt Rees e Matthew Kalman, veteranos correspondentes em Israel, já haviam escrito um livro, sintomaticamente chamado de "O Assassinato de Yasser Arafat", no qual até chegavam a mencionar o polônio agora descoberto como eventual arma do crime.

Rees e Kalman apontavam o dedo não para Israel, mas para o círculo íntimo de Arafat.

Agora que peritos suíços reforçam substancialmente a hipótese de assassinato, Rees volta à carga, em entrevista ao sítio "The Times of Israel": "Essa história do polônio gira em torno de diferentes facções querendo o dinheiro da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e o legado de Arafat como símbolo político".

À falta de provas de que a atual liderança palestina possa ter responsabilidade no caso, fica, de todo modo, uma observação irrebatível, feita por Mouin Rabbani, analista independente e editor-contribuinte do "Middle East Report":

"É amplamente assumido que, embora a proveniência da toxina fatal seja de Israel, só pode ter sido administrada por mãos palestinas".

Logo, prossegue Mouin Rabbani, "a nova evidência de que ele foi morto levanta questões adicionais sobre o cúmplice palestino que ainda tem que ser apanhado e identificado".

O dedo acusador dos jornalistas Ress e Kalman já é incômodo para as autoridades palestinas, mas pode ser descartado como "mero rumor", como diz o ex-chefe de inteligência Tawfiq Tirawi.

Já o fato de que alguém no entorno de Arafat participou do envenenamento, tenha ele sido concebido ou não por Israel, não pode ser desmentido.

A segurança em torno do então líder palestino era rígida e não havia como algum agente israelense ter acesso a ele sem ser notado.

Logo, a lógica manda dizer que houve um traidor --e ele ainda está solto.

London,London - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/11

O Itamaraty monitorava Caetano Veloso, Gilberto Gil e Guilherme Araújo, exilados em Londres na época da ditadura.
O embaixador e acadêmico Sérgio Corrêa da Costa (1919-2005) relatou discurso de Caetano durante um show em que ele se dizia vítima da ditadura. 

Só que...
O público não entendeu o cantor porque, segundo o embaixador, “o inglês dele era muito ruim”.
Lei Roberto Carlos Alberto Venâncio, que além de acadêmico é advogado, vai elaborar a petição da ABL junto ao STF para ingressar como “amicus curiae”, ao lado da Anel, contra os artigos que proíbem biografias não autorizadas.

Lobby pesado...
O que se diz na Rádio MPB é que Roberto Carlos vai gastar uns R$ 2 milhões, incluindo advogados, nesta operação para evitar a liberdade das biografias. A conferir.

Mauro é polivalente
Mauro Ricardo Machado Costa, que hoje é secretário de Finanças de ACM Neto em Salvador, mantém um bico no governo tucano de Alckmin. Ganha R$ 4.937 mensais como conselheiro da Companhia de Seguros de São Paulo.
Mauro, na gestão Kassab, foi titular da Secretaria de Finanças da prefeitura, onde atuava a tal máfia.

Caos do Maranhão
“O exercício do caos”, de Frederico Machado, primeiro longa do Maranhão, é o centésimo filme brasileiro a estrear em 2013.
Pelas contas de Manoel Rangel, diretor da Ancine, o país deve produzir este ano 115 filmes, um recorde desde a chamada retomada do nosso cinema.

Na terra do Messi
Os argentinos estão revoltados. A Argentina foi o segundo país com mais pedidos de ingresso para a Copa de 2014 (atrás dos EUA). Mas, na lista dos que vão receber as entradas, eles são o 10º.
O “rebaixamento” aplicado pela Fifa teria sido causado pelo fato de os argentinos terem concentrado seus pedidos nos jogos da Região Sul do Brasil. Manaus nem pensar.

Talento brasileiro
A campanha da TV Globo de fim de ano, aquela da música “Hoje é um novo dia...”, ganhou um novo arranjo.
O filme vai passear por várias cidades mostrando artistas locais cantando a música com percussões pelo corpo, até chegar aos estúdios contagiando artistas e jornalistas da emissora. Vai ao ar dia 24.

A força do digital
Os e-books caíram no gosto do brasileiro. A Record superou os cem mil e-books vendidos desde o início da venda de livros digitais, em abril de 2011.
O campeão de vendas é “Eu não consigo emagrecer”, de Pierre Dukan, depois “A queda”, de Diogo Mainardi, e “O cemitério de Praga”, de Umberto Eco.


 ‘Codice Arundel’
Alô, bibliófilos! Um exemplar do ' “Codice Arundel”, fac-símile de 'manuscritos de
Leonardo da Vinci, da British Library, é uma das preciosidades que estarão nos 800 lotes do primeiro
leilão da Livraria Leonardo da Vinci, quarta e quinta. Os lances podem ser feitos pela internet ou na livraria, no Centro do Rio.

Nova fábrica no Rio
A Mizu Cimentos acaba de anunciar a Sérgio Cabral a decisão de investir R$ 600 milhões na construção de uma fábrica em Itaocara.

Quem usa Tigre
A 4ª Câmara Cível do Rio determinou que o Grupo Tigre pague indenização por danos morais a Gabriela Duarte e a Bruno Gagliasso.

É que durante a exibição da novela “Passione”, de 2010 a 2011, na qual os atores faziam um casal, a empresa usou a imagem deles, sem autorização, numa propaganda veiculada na internet.

Dos hermanos
O Corrientes 348, restaurante de carne 100% argentina com sede em São Paulo, vai abrir filial no Rio.
Será no Rio Design Barra, no início de 2014.

Luz, câmera, ação
A turma da Lei Seca montou, quinta, uma blitz em frente ao Condomínio Santa Mônica, na Barra. Mas, como ela não foi anunciada no Twitter da Lei Seca, pegou vários motoristas de surpresa.
Foi um bafafá danado. Eram carros voltando pela pista na contramão, motoristas suando frio. Mas, para a surpresa de todos, a blitz não passava de uma gravação da TV Globo.

LAMPIÃO NÃO ERA BAITOLA
A recente polêmica sobre biografias reavivou na memória a proibição judicial do livro “Lampião, o Mata Sete”, do sergipano Pedro de Morais. O recolhimento da obra foi determinado em dezembro de 2011 a pedido da família do cangaceiro (aqui retratado ao lado de Maria Bonita, num quadro de Portinari). O livro sustenta que Lampião era gay e sua mulher, adúltera.

De lá pra cá, o autor enfrentou não só a ira dos herdeiros do cabra-macho, sim, senhor. Morais foi contestado por dezenas de estudiosos do cangaço, e um deles, Archimedes Marques, também sergipano, escreveu um livro de 552 páginas (“Lampião contra o Mata Sete”) para desmontar a tese do seu conterrâneo.

Além disso, uma das fontes citadas pelo livro, o antropólogo baiano Luiz Mott, grande defensor da causa gay, avisa que não foi ele quem tirou Lampião do armário:

— Apenas reproduzi suspeitas de outras pessoas sobre certos hábitos dele: seu exagero com o uso de perfume, quantidades de medalhas nos chapéus, tantos anéis nos dedos, fato de costurar e bordar. Tudo isso o afasta do estereótipo do macho nordestino.

Já o historiador pernambucano Frederico Pernambucano de Mello, talvez o maior estudioso do cangaço, afasta qualquer possibilidade de Lampião ter sido gay e Maria Bonita, adúltera. Ele é autor, entre outros, do livro “Estrelas de couro, a estética do cangaço”.

Revela na obra que Lampião tinha um “senso estético à flor da pele” e que costurava e bordava muito bem.

— Talvez até eu possa ser um pouco responsabilizado por alguma interpretação errada sobre Lampião, por ter revelado que ele costurava e bordava. Mas isso era muito comum no sertão. Pernambucano de Mello considera um erro julgar o passado tendo como base características e categorias do presente.
— Ainda antes de ser cangaceiro, Lampião foi tropeiro. Ele conduzia tropas de burro. Se sua braguilha soltasse no meio do sertão, ou ele mesmo pregava o botão ou ia ficar com a bilola de fora. No passado, costurar era uma necessidade na ausência de quem o fizesse.

Aliás, tem uma lenda que São Paulo, o santo padroeiro de Frei Paulo, nunca permitiu que o cangaceiro entrasse na cidade sergipana. Toda vez que Lampião tentava era acometido de forte, desculpe a palavra, caganeira.

Mas aí é outra história...

Cansei de ser sexy - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/11


Com uma autobiografia no prelo, Luiza Brunet, a babá que queria ser cabeleireira, chega aos 51 apaixonada, disposta a tirar o silicone dos seios e a diminuir o estresse para conter o vitiligo

A foto foi feita por Bruce Weber, badalado fotógrafo de moda, no Copacabana Palace, em 1986. Hoje, a imagem da morena de seios à mostra repousa emoldurada em um apartamento em Nova York.

É um dos retratos mais famosos de Luiza Brunet, colocado à venda em 2008 na Christie's, tradicional casa de leilões. O então marido da modelo, Armando Fernandez, via os lances pela internet, mas não entrou no páreo. Havia um "gringo" disposto a pagar muito pelo clique alçado à condição de obra de arte.

O dono do lance de US$ 50 mil (cerca de R$ 110 mil) era o empresário gaúcho Lirio Parisotto, 60, dono da Videolar, com faturamento de US$ 1,4 bilhão. Três anos depois do leilão, ele arremataria também o coração da modelo.

"Comprei várias fotos históricas. Escolhi a da Luiza pela beleza brejeira de um ícone brasileiro", relata ele à repórter Eliane Trindade. "Nem imaginava que um dia iria namorar a moça."

Na sala do apartamento dele nos Jardins, em SP --famoso pela adega de 30 m² com mais de 10 mil garrafas de vinho--, ela fala dos prazeres de uma relação madura. "Era pouco provável, na minha idade, conhecer alguém de quem gostasse realmente e que fosse disponível. É maravilhoso estar apaixonada e viver um amor na maturidade."

O namoro se firmou na ponte área --ela mora no Rio com o filho caçula, Antônio, 16. O casal se conheceu em um jantar no Copacabana Palace, cenário da foto icônica.

Aos 51 anos, uma das mulheres mais desejadas do país diz ter ficado cerca de dois anos sem sexo, após se divorciar em 2008. "Quando falei isso, foi uma loucura. Fizeram reportagens de comportamento, ouviram especialista", conta, rindo.

"A questão não é conseguir sexo. Por que a fila tem que andar rapidinho?" A dificuldade não era parceiro, diz, mas virar a página após 24 anos ao lado de Armando, pai de seus dois filhos. "Foi doloroso aprender a estar só. Sentia falta até das discussões."

Precisou se reestruturar. Cortou o cabelo curto, fez regime. "Estava largada", admite. Não mais. Ela se mantém nos 64 kg em 1,76 m. Já pesou 58 kg. "Não preciso mais estar tão magra."

É empresária de si mesma. O perfume que leva seu nome vendeu 3 milhões de unidades. Aposentou-se como rainha de bateria no Carnaval, mas continua na ativa como modelo em um mercado que cobra juventude. Relata comentários agressivos na internet em fotos nas quais aparecem as marcas inevitáveis do tempo. "Alguns são agressivos, me chamam de velha."

Não esconde idade. "Olho fotos minhas com 20, 30 anos, e gosto mais de mim hoje. Não tenho nenhum problema com envelhecimento. Já a morte me assusta. Perder a lucidez me apavora."

Luiza quer se despir da pele de "sex symbol". "Já transcendi a essa história de símbolo sexual." Vai retirar as próteses de silicone dos seios (170 ml cada uma). "Estou em busca de outras coisas e quero uma estética mais natural, menos sensualidade."

Posou nua pela última vez em 1986 para a revista masculina "Playboy".

"Eu me sentia super à vontade", diz. "Mas o nu era mais discreto. Eu não posaria hoje de jeito nenhum. É muita exposição. As fotos estão na internet na mesma hora."

O empresário Humberto Saade, dono da grife Dijon, a descobriu quando fazia um ensaio sensual para a revista "Ele & Ela". Nascia La Brunet (sobrenome do engenheiro com quem foi casada dos 16 aos 22 anos). Nas imagens publicitárias dos anos 1980, ela aparece sempre sem blusa, ao lado do patrão.

Ela nasceu Luiza Botelho da Silva, no Mato Grosso do Sul, e foi criada em um subúrbio do Rio. Queria ser cabeleireira. "Era o meu horizonte." É a segunda de oito irmãos (dois morreram pequenos). Aos 12 anos, virou babá. "Cuidava de duas meninas, de 4 e 6 anos. Éramos três crianças, mas eu me comportava como uma senhora. Me sentia importante por ajudar em casa."

Sentia-se preparada para as ciladas da futura carreira. "Sobrevivi como modelo porque nunca vivi dentro do mundo da moda. Trabalhava e voltava para minha família."

Prostituição e drogas estavam no cardápio. "É difícil fazer as coisas funcionarem e não se corromper", diz Luiza. "Existe todo tipo de assédio. Propostas indecorosas e decorosas. Nem sempre de dinheiro. Mas nunca passou pela minha cabeça, em nenhuma fase, ter vida boa em troca de favores sexuais."

Passou a cartilha à filha Yasmin, 25, também modelo. "A cobrança era terrível. Falavam: Sua mãe é maravilhosa, se você chegar aos pés dela...'. É como se ela tivesse obrigação de ser melhor do que eu." A garota decidiu morar em Nova York. "Foi uma forma de sair da sombra e resgatar a autoestima."

Luiza Brunet leva gravado no corpo o nome das duas crias. Fez a primeira tatuagem no braço, aos 39 anos. A princípio, os desenhos (fez outros no quadril e no tornozelo) serviram para disfarçar manchas de vitiligo. "É uma doença autoimune que aflorou por conta de passagens da minha vida." Evita entrar em detalhes. "Momentos difíceis todos enfrentam."

Os primeiros sinais de despigmentação da pele apareceram na infância. Chegou a tentar um tratamento famoso em Cuba, mas não deu certo. Aprendeu a conviver com a doença e a controlá-la. "O estresse é sempre um gatilho. Se estou menos estressada e me cuido, não se desenvolve." As marcas não a impediram de fechar importantes contratos com empresas de cosméticos.

No dia a dia e nas fotos, usa creme autobronzeante para camuflar as manchas. Segue a linha natural na hora de apelar para métodos de rejuvenescimento. Fez plástica no rosto aos 47 anos. "Um minilifiting. Nem perceberam."

Dá risada das histórias da vida. Conta, às gargalhadas, episódios como o dia em que foi apresentada ao ex-presidente José Sarney, em Búzios. "Estava fazendo faxina. Meu vizinho apareceu. Abri a porta e dei de cara com o Sarney." Detalhe: estava só com a parte de baixo do biquíni. E foi de topless que cumprimentou as visitas. "Era como ficava em casa na praia."

Foi apresentada a Pelé junto com Xuxa, quando o trio posou para uma revista. "Nos conhecemos no mesmo dia. Ele sempre xavecando todo mundo. Acabou saindo com a loura", brinca Luiza.

As duas eram amigas, mas se distanciaram quando Xuxa virou um fenômeno na TV. Luiza agora também está na Globo, na série "Correio Feminino", do "Fantástico". Foi escolhida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho para encarnar uma das mulheres que dão vida às crônicas de Clarice Lispector. "Viver o universo de uma mulher madura me deixou segura."

Após duas novelas e participações especiais, ela é crítica quanto à própria atuação. "Eu era totalmente despreparada para fazer novela." Trauma das resenhas impiedosas ao seu papel em "Os Trapalhões no Reino do Futebol" (1986). "Me destruíram", diverte-se. "Morro de vergonha. Estava muito ruim mesmo."

Agora finaliza a autobiografia, que lançará em breve. "Foi difícil me abrir, mas nunca escondi minha origem, meus defeitos, minhas ansiedades. Acho legal compartilhar. Descobri faz tempo que a gente só aprende na dor, na porrada, na crítica", diz a Luiza na versão 5.0.

Um vice 'pop star' - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/11

O candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, avisou aos seus aliados, do núcleo duro do DEM, que está procurando um vice da sociedade. O tucano quer repetir, na chapa ao Planalto, a fórmula Bernardinho, seu candidato ao governo no Rio. Um dos líderes que o ouviu, traduz: "Aécio trabalha com o elemento surpresa. Ele quer um nome fora do radar e das cogitações tradicionais".

Previsão do tempo: black blocs
A Fundação Milton Campos, do PP, realizou pesquisas qualitativas em 10 estados. Todos os 40 grupos de debate têm a expectativa de que as manifestações, que explodiram em junho deste ano, voltarão a tomar as ruas do país na Copa do Mundo. Estas, provavelmente, serão mais intensas nas capitais onde serão realizados os jogos. O preço dos ingressos e a maratona para adquiri-los fomenta um sentimento de exclusão da festa. O contraste entre a ostentação do evento e a realidade do país são fermentos. As dúvidas sobre investimentos e financiamentos públicos, além do atraso na entrega de obras e serviços do PAC da Copa, são ingredientes para a explosão.

“Fiz graduação com a deputada Luiza Erundina (SP) e pós-graduação com o Romário (RJ). Estou pronto para o doutorado com Marina Silva"

De um parlamentar socialista sobre a relação com Marina Silva e sua trupe

Bomba armada
Os líderes da base na Câmara avisaram aos ministros Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Guido Mantega (Fazenda) que não há como impedir a votação do piso salarial de R$ 850,00 para os agentes comunitários de saúde.

Fora do ar
Desconforto no Planalto. Os programas "Sem Censura", "Observatório da Imprensa" e "Arte do Artista", estão sendo reprisados na TV Brasil. Os apresentadores não estão de férias. A direção da empresa pública “esqueceu” de renovar os contratos de Leda Nagle, Alberto Dines e Aderbal Freire Filho. Há suspeitas de limpeza política.

Convidados para a festa do senhor
Como em 2010, o ex-presidente Lula elegeu como sua meta eleger, na marra, quatro novos senadores do PT no pleito de 2014. Os escolhidos são: José Guimarães (CE), Fátima Bezerra (RN), João Paulo Lima (PE) e Marcelo Déda (SE).

Barrados no baile
Já se passaram dez dias, mas a festa pelos “10 Anos do Bolsa Família” continua atravessada na garganta do PMDB. O vice Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Alves, não se conformam com a exclusão. No púlpito, e na tela da TV, só deu PT. Brilharam apenas a presidente Dilma, a ministra Teresa Campelo e o ex-presidente Lula da Silva.

Mudando de lado
O PSB entregará os cargos no governo da Bahia em dezembro. É o único dos grandes estados em que os socialistas permanecem em gestões petistas. A senadora Lídice da Mata vai concorrer ao governo e avisou Jaques Wagner da saída.

Aprendiz de feiticeiro
Seguindo modelo do ex-presidente Lula, que fez presidente a então ministra, Dilma Rousseff, o governador Jaques Wagner elegeu o secretário Rui Costa (Casa Civil) seu candidato. Rui percorre a Bahia entregando carros pipas e tratores.

Pesquisa Ibope na Bahia, encomendada pelo PMDB local: “Dilma 45%, Aécio 13%, Eduardo 9%, brancos e nulos 17%, não sabe/não respondeu 16%.

Afrouxando o nó - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 10/11

Diante de um cenário de deterioração nas contas do governo, o Planalto retomou a articulação para aprovar no Congresso projeto de lei que facilita o cumprimento do superavit primário em 2013. Se a proposta for aprovada, a União não terá de cobrir o valor que Estados e municípios deixarem de economizar para pagar juros da dívida, o que daria um alívio aos cofres do governo central. A meta de superavit para governos estaduais e prefeituras neste ano é de R$ 47,8 bilhões.

Semântica Pela lei atual, a União é obrigada a cobrir o que os Estados e municípios não conseguirem economizar, mas o novo projeto torna a compensação facultativa. O projeto entrou na lista de prioridades do Planalto.

Passivo No ano passado, a dificuldade dos governos regionais em fazer economia para pagar juros da dívida foi um dos motivos que levaram o governo a fazer manobras contábeis para fechar as contas e considerar como cumprida a meta de superavit.

Guinada O secretário do Tesouro, Arno Augustin, disse em junho que o governo cobriria eventual rombo: "Se houver dificuldade de Estados e municípios em atingir a meta nós iremos cobrir. Essa é a definição do governo."

Vaivém O projeto foi aprovado na Comissão de Orçamento em 28 de maio, mas ficou parado por mais de quatro meses. Em 15 de outubro, a proposta chegou a ser incluída na pauta do plenário e, depois, a votação foi transferida para 19 de novembro.

Antispam Será lançado em dezembro o sistema seguro de e-mails do Palácio do Planalto, criado após denúncias de espionagem dos EUA no Brasil. Serão os primeiros e-mails do governo operados pelo Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), e não pela Microsoft.

Minha casa... Depois da saga pela instalação de água quente, a residência oficial do chanceler Luiz Alberto Figueiredo receberá um novo fogão, uma vez que o atual "já esgotou sua vida útil", segundo edital de licitação.

... melhor A compra inclui ainda outros dois fornos elétricos e dois aparelhos desumidificadores. A despesa estimada é de R$ 5,6 mil.

Agora Dilma Rousseff vai a Fortaleza na sexta-feira anunciar parte dos R$ 50 bilhões prometidos para mobilidade urbana. O governador Cid Gomes (Pros) é ponta de lança da estratégia de reeleição da presidente no Nordeste, após ter deixado o PSB.

Depois Das oito capitais previstas no pacote de investimentos, faltarão apenas Recife e Belo Horizonte, governadas por prefeitos do partido de Eduardo Campos.

Climão 1 Aliados do governador de Pernambuco acreditam que ele não vai comparecer ao congresso do PC do B, que começa na quinta-feira e terá presença confirmada de Lula e Dilma.

Climão 2 Após longa discussão sobre a conveniência de chamar o virtual adversário de Dilma, o PC do B enviou o convite, mas o QG de Campos acha que sua presença seria "constrangedora".

Vai que é sua A interlocutores, Geraldo Alckmin afirmou que acha que Aécio Neves não deve se importar com as movimentações de José Serra e precisa se portar desde já como candidato do partido à Presidência.

Calendas Entre os erros que atribuem a Fernando Haddad, dirigentes petistas listam a exigência de que São Paulo e Palmeiras devolvam os terrenos de seus centros de treinamento. Dizem o anúncio é impopular e inócuo, já que o CT do Palmeiras só será devolvido em 2078.

tiroteio
"Após Simão Pedro esquecer de encontros com o presidente do Cade, Tatto não lembra que sua mulher foi sócia de auditor investigado."
DE MILTON FLÁVIO, presidente municipal do PSDB-SP, sobre secretário de Haddad ter se dito "surpreso" com acusação contra sócio de sua mulher.

contraponto


Muy amigos
Conhecidos por militar em lados opostos no debate sobre a regulamentação da mídia, o presidente do PT, deputado Rui Falcão, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, deixaram uma cerimônia abraçados.
O primeiro é ferrenho defensor da matéria, enquanto Bernardo é criticado internamente por não brigar no governo federal pelos interesses petistas.
Ao avistar um grupo de jornalistas, Falcão disse:
--Estão vendo? Somos amigos!
Bernardo arrematou.
--Sim, mas ele está me dizendo o que tenho de fazer.