sábado, janeiro 05, 2013

Ameaça à responsabilidade fiscal - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 05/01


Ao incluí-la no projeto de lei complementar que altera o indexador da dívida dos Estados e dos municípios com a União, o governo do PT tentou encobrir a proposta de uma modificação na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que, se aprovada, extingue grande parte de sua eficácia. Inserida num projeto que resultou de longas negociações com os governadores e, por isso, deve obter o apoio da maioria do Congresso, a proposta configura uma esperta manobra político-legislativa.

Mais do que polêmica, a alteração pretendida pelo Executivo coloca em risco os avanços registrados na administração financeira dos três níveis de governo desde 2000, quando a lei entrou em vigor, e abre espaço para o retorno das farras com o dinheiro do contribuinte que marcaram muitas gestões públicas até o fim do século passado. Por isso, a mudança não tem nem pode ter o apoio dos contribuintes conscientes e tampouco dos congressistas preocupados com a gestão pública responsável - infelizmente uma minoria.

O governo do PT, que vem concedendo benefícios fiscais a setores escolhidos da economia sob a justificativa ainda não comprovada de estimular a atividade econômica, quer fazer ainda mais bondades com o dinheiro do contribuinte - e sem se submeter aos rigores da LRF.

Para atingir seu objetivo, o governo quer mudar o artigo 14 da LRF, que estabelece com clareza os limites para a concessão ou ampliação de benefício ou isenção tributária. Qualquer benefício que resulte em renúncia de receita deve estar acompanhado da estimativa do impacto orçamentário no ano em que ele vigorar e também nos dois anos seguintes. Além disso, a validade do benefício está condicionada à demonstração de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita na lei orçamentária e não afetará as metas fiscais previstas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ou, então, à demonstração de que a perda de receita será compensada pelo aumento da receita proveniente da elevação da alíquota ou ampliação da base de cálculo de outro tributo, ou até pela criação de novos tributos.

O governo Dilma quer substituir essas exigências - que têm evitado exageros de governantes, entre os quais os atuais ocupantes do Palácio do Planalto, ávidos por oferecer vantagens para determinados tipos de contribuintes - por outra muito mais simples de ser cumprida, porque pode ser estabelecida artificialmente.

Aprovada a mudança, o governo poderá abrir mão de receitas tributárias para beneficiar algum setor da economia sempre que comprovar "a existência de excesso de arrecadação tributária, conforme estimativa constante de decreto de programação financeira". Ou seja, basta um decreto, que não passa pelo exame do Congresso e cujas bases técnicas não precisam ser explicitadas.

Está mais do que comprovado que, se a responsabilidade fiscal não estivesse em vigor, o Brasil teria tido muito mais dificuldades para enfrentar as turbulências provocadas pela crise internacional. No momento em que o País acaba de assistir à posse dos prefeitos eleitos no ano passado, é oportuno lembrar que, embora persistam problemas, a transição administrativa nos municípios não é mais marcada, como foi no passado recente, por decisões de fim de mandato tomadas irresponsavelmente por gestores que, ao transmitir o cargo para um adversário político, procuravam transmitir-lhe também imensos encargos financeiros.

No caso do governo Dilma, a tentativa de mudança da LRF é mais um artifício de sua política fiscal cada vez mais nebulosa. Nos últimos dias úteis de 2012, diversos decretos passaram a fazer parte dessa política, destinada basicamente a apresentar resultados contábeis menos ruins do que os reais. Esses decretos permitiram, por exemplo, o pagamento de mais dividendos para o Tesouro pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e facilitaram o resgate de recursos do Fundo Soberano do Brasil. São apenas manobras triangulares, de transferência de recursos entre as instituições financeiras do governo e o Tesouro, que nada têm a ver com o controle de gastos. Para um governo que vai se acostumando a usar essa contabilidade criativa, mudar a LRF parece pouca coisa.

Busto 48 em sutiã 42 - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 05/01


O governo Dilma acaba de fazer manobras nunca vistas para enfiar as contas públicas estouradas de 2012 num manequim que aparenta austeridade fiscal.

Tirou da conta investimentos, que normalmente seriam considerados despesas; usou finanças do BNDES e da Caixa Econômica Federal; e esvaziou o patrimônio do Fundo Soberano para engordar receitas do Tesouro. Tudo, para fingir que fechou as contas públicas em olímpico equilíbrio.

As condições das finanças do setor público nacional em 2012 ainda dependem de relatório, mas já se sabe que os números estarão forçados.

O tratamento que o governo Dilma está dando para as contas públicas nacionais não é a mesma coisa, mas lembra o que tem sido dado pelo governo de Cristina Kirchner para a medição dos preços (inflação) na Argentina. Ele só não produz as mesmas consequências sobre a renda das pessoas porque os números da inflação são usados para reajustar salários, aluguéis e os próprios preços, enquanto os indicadores fiscais não são.

As autoridades da área fiscal dirão que, infelizmente, o fiasco do PIB derrubou a arrecadação esperada - o que é verdade. Dirão, também, que os tais R$ 45 bilhões em renúncias tributárias (reduções e isenções de impostos) destinados a reativar o setor produtivo geraram estragos nos resultados - o que é igualmente verdade. No entanto, nem a quebra de arrecadação nem as renúncias tributárias levaram o governo federal a reduzir despesas para compensar as perdas e para procurar o ajuste de outras maneiras, como qualquer chefe de família faz quando o salário acaba antes do fim do mês.

Aturdido com o baixo comportamento do PIB, o governo Dilma optou por correr riscos demais. Derrubou os juros na marra; acelerou a desvalorização cambial (alta do dólar) mesmo sabendo que depois teria de recuar, pelo menos em parte; e, agora, lança mão de manobras de contorcionismo fiscal para fazer caber um busto 48 em sutiã 42.

O governo seria mais sincero caso reconhecesse o rombo e anunciasse providências para correção de rumo. Quando faz o que fez e insiste em afirmar que as metas de austeridade fiscal foram cumpridas, expõe-se a perder mais credibilidade na condução da política econômica.

Mesmo após os reiterados desmentidos, o tripé original da política econômica (meta de inflação; câmbio flutuante; e meta fiscal) vai sendo corroído num momento especialmente delicado para a administração federal, que inicia a segunda metade do seu mandato sem ter sido capaz, até agora, de entregar o prometido.

Este é o momento em que o governo Dilma mais precisa do investimento privado para garantir a elevação da capacidade de produção. Quando falta confiança, o investimento empaca ou só flui aos trancos.

O intervencionismo excessivo na atividade econômica já vinha criando a percepção de que as regras estavam sendo alteradas demais no meio do jogo - fator que inibe investimentos. O maior risco agora é que se espraie a convicção de que, além da insuficiência de resultados (PIBs sucessivamente medíocres e inflação acima da meta), o governo Dilma está desarrumando a economia.

2013, o ano que já terminou - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


O ano de 2012 se encerrou de forma absolutamente normal no Congresso Nacional. Em sua última sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para os três poderes, com a criação de milhares de cargos numa só canetada. É normal porque a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma Rousseff, uma aliança que, todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos os que fizeram as amizades certas. Se você está de fora dessa, terá que cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais, esses infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que ainda fazem uma coisa primária que os companheiros revolucionários não precisam mais fazer: trabalhar.

Mas não se desespere. A vida dos excluídos (do banquete petista) tem lá suas compensações. É bem verdade que você nunca verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por ter arranjado uma boquinha na Anac ou no Senado. Nunca lhe convidarão, também, para uma reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco Maia”. Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo são espinhos: ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.

Para consolar os excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma única teta do Estado brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um país previsível, de rumo firme, o que torna possível antecipar o que vai acontecer em 2013. Isto jamais seria possível antes do Descobrimento (em 2003) – portanto, não reclame de barriga cheia.

Em março, Dilma Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e TV da série 2013. Fará um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional da Mulher. Falará com a voz embargada, sobre um fundo de violinos, e se a iluminação do estúdio estiver correta, parecerá ter os olhos molhados. Encherá os brasileiros de orgulho por serem governados por uma “presidenta” – palavra que seus assessores saberão encaixar no discurso – e anunciará algum programa social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil Sem Tristeza ou Brasil Fofo. Apresentará uma estatística impressionante, encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos Fernando Henrique lugar de mulher era na cozinha.

Em 2013 o Brasil sofrerá novos apagões, provocados por raios neoliberais e elitistas. A tarifa populista de energia será implantada, ajudando a sucatear as empresas do setor, que por isso investirão menos ainda em manutenção – mas os blecautes não terão nada a ver com isso. O ministro Edison Lobão explicará que nosso sistema é um dos melhores do mundo, e que essa mania de ter luz o tempo todo é coisa de burguesia consumista. Sarney ficará orgulhoso de seu afilhado – e pedirá a Roseana, com jeito, que deixe Lobão governar um pouquinho o Maranhão (“Filha, agora descansa e deixa o seu colega brincar também.”)

A inflação em 2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma também. Explica-se o paradoxo: a principal causa da subida dos preços será um novo aumento explosivo dos gastos públicos, incluindo a distribuição de mais dinheiro de graça para a população – através dos programas carinhosos, o Bolsa Tudo. É a chamada “destruição invisível” da economia nacional, que em 2013 será caprichada, porque em 2014 tem eleição. Os simpatizantes do governo popular ficarão felizes com a farta distribuição de bolsas, cargos, convênios a granel para os ministérios parasitários, e Dilma marchará tranquila para a reeleição. Aécio Neves assistirá a tudo escondido nas Alterosas e rezando que Eduardo Campos o ultrapasse na corrida para não chegar.

Joaquim Barbosa, o redentor, fará muitos comícios sociais na presidência do Supremo, deixando pela primeira vez os brasileiros na dúvida: talvez exista outro ser tão bonzinho quanto Lula da Silva. Barbosa evidentemente será mordido pela mosca azul, mas o eleitor acabará ficando mesmo com o pacote Lula/Dilma, para não arriscar a mesada (o mensalão popular).

Rosemary não entregará seu chefe. Terá um ano sofrido, sem passaporte diplomático, mas ficará firme. Afinal, Lula não sabia (Dona Marisa muito menos), e o amor sempre vence.

Como se vê, 2013 já foi. Se quiser uma passagem direta para 2014, passe no caixa da revolução, que o pessoal da Rose na Anac arranja para você.


Década petista - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 05/01


Coordenado pelo sociólogo Emir Sader, um livro sobre os dez anos do PT no poder (2003-2013) será lançado em abril pela editora Boitempo. Trará textos de 21 autores próximos ao governo como José Luis Fiori, Marilena Chaui, Luiz Gonzaga Belluzzo, Luiz Pinguelli, Marcio Pochmann, Marco Aurélio Garcia e Liszt Vieira.

Porcão Rio’s
Eduardo Paes resolveu licitar novamente aquele espaço nobre no Aterro do Flamengo onde funciona a Porcão Rio’s. A churrascaria é administrada hoje por um grupo de investidores financeiros.

Zeca de Xerém
Zeca Pagodinho viajou ontem para Miami, nos EUA. Antes de embarcar deixou a cargo de Eduardo, seu filho mais velho, a tarefa de coordenar o recebimento e a distribuição dos donativos às vítimas da chuva em Xerém, onde viveu boa parte de sua vida.

Delta vende
A juíza Maria da Penha Nobre Mauro, da 5ª Vara Empresarial do Rio, determinou a venda de maquinários, chassis de caminhões, carregadoras, contêineres e outros equipamentos da construtora Delta, a enferma e inidônea. A homologação do plano de recuperação judicial da empresa ainda depende do parecer do MP.

As balas da morte
O Rio de Paz vai às ruas hoje. Levará cartazes e três projéteis do tamanho de uma pessoa ao enterro da menina Adrielly, que morreu ontem, vítima de bala perdida, e que fora mal atendida no Hospital Salgado Filho. Foi a quinta vítima deste tipo de violência, em 11 dias, nos bairros em volta do Méier, na Zona Norte do Rio.

TÁ ASSIM DE GAVIÃO...
Porque hoje é sábado tem foto do leitor Laizer Fishenfeld, 82 anos, aposentado que transformou o Jardim Botânico num estúdio fotográfico a céu aberto. Esta belezura da natureza na foto é um gavião-carrapateiro (Milvago chimachima), que tem este nome por conta da fama de comer carrapatos de bovinos e de equinos. É, depois do urubu, a ave de rapina mais conhecida dos brasileiros. O Brasil, como diz o título de uma música de Fubá de Taperoá, “Tá assim de gavião”. Que Deus proteja seu Laizer, o gavião, e a nós não desampare jamais .

Famélicos no ar
Os quatro últimos passageiros servidos no jantar da classe executiva do voo 904, Rio-Miami, de 2 de janeiro, foram surpreendidos por um aviso do chefe dos comissários: os pratos de carne e frango tinham... acabado.

Diálogo que segue...
“Como assim? O que tem, então, como alternativa?”, perguntou um dos passageiros.
“Temos ainda sopa e salada”, respondeu, friamente, o comissário.

Não recomendo...
Irritado, o passageiro perguntou se ele não se envergonhava da situação.
Com franqueza inusitada, o comissário respondeu:
“Você quer a minha opinião pessoal? Eu recomendaria não voar pela American. Esta companhia está quebrando. Só voo pela American porque trabalho aqui.”
Pano rápido.

Caso médico
O ex-ministro Fernando Lyra, 74 anos, foi internado no Hospital Português, em Recife.

Monsieur Silvestre
Veja (ao lado) como será a capa da edição francesa do romance “Se eu fechar os olhos”, do coleguinha Edney Silvestre. O livro será lançado na terra de Piaf em março, pela Éditions Belfond. Em maio, sai a edição inglesa.

Diário da Justiça
A empresa Riana Táxi Aéreo terá que pagar R$ 250 mil de indenização para a família de Guilherme Thedim, que morreu num acidente aéreo em 1998, no Rio. Ele pilotava um helicóptero com o instrutor quando foi atingido por uma aeronave que fazia manobra arriscada. O valor foi aumentado por decisão da 18ª Câmara Cível do TJ do Rio.

A vez de Macalé
Jards Macalé, o compositor, cantor e ator, irá dia 23 agora ao MIS, no Rio. Vai registrar sua história no “Depoimentos para a posteridade”.

Trio e convidados
O Trio Preto + 1 começa 2013, quando completa dez anos de sua primeira formação, em grande estilo. Será a atração aos domingos do evento Rider Weekends, que começa sexta que vem, no Jockey do Rio. Vai receber, veja só, craques como Marcelo D2, Alcione, Caetano Veloso e Diogo Nogueira.

Caetano no circo
Aliás, Caetano Veloso vai estrear o “Abraçaço”, seu novo show, em março, no Circo Voador, no Rio.

Em tempo...
Caetano e Circo Voador têm tudo a ver. Vai ser um “reboliçaço”.

Ponto Final
Para quem vive correndo, investindo num incerto amanhã, vale esta frase de Henfil, cuja morte completou ontem 25 anos: “Viver é uma tarefa urgente, porque amanhã é uma coisa que não dá pra pensar, não dá pra fazer planos, hoje é urgente, amanhã é a morte, ontem, graças a Deus, teve ontem!”

O último a partir - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 05/01


RIO DE JANEIRO - Morreu Jack Klugman, coadjuvante do cinema americano nos anos 50 e 60, mais conhecido talvez por algum seriado de TV. Em seu melhor filme, o clássico "Doze Homens e uma Sentença" ("12 Angry Men"), 1957, de Sidney Lumet, Klugman vivia um dos 12 jurados julgando um jovem que matou o pai. Quando o filme começa, 11 querem mandar o rapaz para a cadeira elétrica, sem discussão. Somente um, interpretado por Henry Fonda, tem dúvidas. Aos poucos, um a um, Fonda dobra os colegas. Jack Klugman fazia o jurado nº 5.

Mas o que interessa é o seguinte. Klugman era o último vivo daquele extraordinário elenco de 12 atores -Lee J. Cobb, Ed Begley, Jack Warden, Martin Balsam eram alguns dos demais. Nenhum era famoso, embora seus rostos fossem muito familiares. O que me pergunto é como Klugman se sentia ao saber da morte de cada um. De repente, dos 12, só sobraram ele e Jack Warden. E, em 2006, Warden também morreu. Como terá sido para Klugman saber-se o seguinte?

É uma pergunta que nunca me atrevi a fazer a Fernando Sabino, depois que seus três amigos mineiros se foram (Helio Pellegrino, em 1988; Paulo Mendes Campos, em 1991; Otto Lara Resende, em 1992) e o deixaram para trás. Mas sei que, até morrer, em 2004, Fernando via o fantasma da morte em toda parte.

E o que terá acontecido a Juvenal, beque da seleção -Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico- que perdeu a Copa de 1950 para o Uruguai, ao ver seus companheiros partindo, um atrás do outro? Quando morreu o penúltimo, Friaça, em janeiro de 2009, Juvenal percebeu que agora era a sua vez. E, nove meses depois, foi mesmo.

Será que Paul McCartney e Ringo Starr, os Beatles restantes, acompanham a saúde um do outro? O penúltimo não pode morrer -para que o último não seja a bola da vez.

O saldo encolheu - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 05/01


Uma das notícias de destaque da semana foi a queda de 35% do saldo comercial: US$ 10 bilhões a menos do que no ano anterior. No passado seria preocupante, porque os dólares fariam falta nas nossas reservas. Agora, o relevante é que falhou todo o arsenal no qual o governo acredita: desvalorização do real, benefício a setores, elevação de alíquota de importação.

O governo estava convencido de que bastaria o dólar chegar a R$ 2 que tudo se resolveria. Não resolveu. Tem apostado em política setorial. Não tem funcionado nem para o crescimento, nem para o comércio exterior. Tentou o protecionismo. De uma tacada foram elevadas as barreiras de 100 produtos ao nível máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio.

O trio favorito - câmbio desvalorizado-benefícios setoriais-protecionismo - não evitou a queda das exportações e do volume de comércio brasileiro. Provavelmente teremos mais do mesmo em 2013. O governo tentará mudar o quadro usando o mesmo remédio.

A diminuição do saldo reduziu a entrada de dólares no Brasil no ano passado ao menor nível desde 2008, mas isso também não é o preocupante. Há outros canais de entrada de dólares, como os investimentos diretos, e o Brasil tem hoje uma situação folgada de reservas cambiais. O saldo de cada ano ou a entrada de capital não precisa mais ser olhado com os temores do passado.

O que realmente preocupa é o governo não ter um bom diagnóstico do comércio exterior e insistir nos equívocos. A decisão de elevar as barreiras ao comércio foi mais do que apenas um episódio. Representou um retrocesso no movimento iniciado em 1990 de tornar a economia brasileira mais aberta. Ela ainda é muito fechada, e o governo, ao distribuir elevações de alíquota, deu o sinal de que aceitaria outros pedidos setoriais de proteção. Foi um grande passo na direção errada.

O dólar muito baixo estava criando distorções na economia, mas o governo mostrou que acredita que a desvalorização do real seria uma panaceia. Mas a moeda do câmbio tem dois lados. A desvalorização produziu efeitos colaterais, no custo das empresas e na inflação. E não houve o resultado que se esperava no comércio exterior.

Recentemente, o vice-presidente do BNDES, em uma entrevista, disse que o banco não está trabalhando para criar "campeões nacionais", mas sim para criar "campeões internacionais". Este governo realmente acredita que se ele aspergir benefícios sobre um específico grupo, ou setor, ele fará uma economia forte. Para apostar nisso é preciso ignorar as lições da história recente do Brasil.

O mais eficiente seria investir em políticas que beneficiem a economia como um todo, permitindo aumento da competitividade. Um país exportador de commodities precisa de melhores estradas e portos mais eficientes do que temos. Isso é infinitamente mais importante do que a ação em favor dos supostos fazedores de campeões.

A previsão da AEB, entidade que reúne exportadores brasileiros, é de que o saldo cairá de novo em 2013. A queda para R$ 19,4 bilhões em 2012 só não foi maior porque se descobriu que a Petrobras teve permissão para jogar alguns números de 2012 para este ano. Mais um truquezinho contábil.

Quase 70% do que o Brasil exporta são commodities e para alguns poucos mercados. Isso deixa o país vulnerável a qualquer oscilação de preços, como a queda do minério de ferro que aconteceu em 2012 e pode se repetir este ano, ou de conjuntura. Uma política comercial que tivesse visão estratégica estaria olhando todos esses fatores que estão drenando a competitividade do Brasil. Isso faz mais falta do que US$ 10 bilhões a menos no saldo.

Índio... - SONIA RACY


O ESTADÃO - 05/01


Joaquim Barbosa inicia o ano no GNJ lançando censo para apurar quantos negros e índios trabalham como juizes e servidores em tribunais. Primeiro passo para criar cotas nos concursos ao Judiciário.

A iniciativa é herança da gestão de Carlos Ayres Brito também defensor das cotas.

...quer apito
O conselho fez as contas: forneceu 10 mil documentos a índios em 2012. Foram realizados, ao todo, seis mutirões em aldeias.

Meta? Entregar mais de 100 mil certidões e registros de nascimento, carteiras de trabalho e GPFs até julho.

Efeito crack
Nem todos concordam com o projeto que prevê internação à força de dependentes de drogas. "É uma boa solução política, porque esconde o problema da população", afirmou à coluna Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça.

Para ele, tratar os usuários no meio em que vivem seria mais eficiente: "É preciso que os consultórios estejam nas ruas, onde as drogas estão".

Crack2
Já Eloisa Arruda, secretária estadual de Justiça, nega que vá ocorrer uma banalização das internações. "Elas só acontecerão em situações dramáticas, quando o usuário não tem condições de decidir sobre seus atos", declarou à coluna.

O projeto, segundo ela, deve ser implantado até o fim do mês.

Lá e cá
Está dando o que falar em Portugal decisão da Justiçabrasi-leira que determinou a penhora de um avião da TAP. Motivo? Pagar dívidà trabalhista a funcionária da embaixada portuguesa em Brasília.

A empresa pretende recorrer: por ser uma sociedade privada, alega que não pode responder por questões do governo.

USA Justice
Saiu no Wall Street Journal Dos US$ 6o bilhões da fraude Madoff - que chacoalhou o mundo das finanças - foram ; reconhecidos legalmente US$ 17,5 bilhões. Destes, US$ 11,5 bilhões já foram recuperados.

Enquanto isso, no Brasil...

Vida que segue
Após tomar posse, anteontem, na Câmara dos Deputados, José Genoino voou para SP. Jantou no Martin Fierro, na Vila Madalena. De cabeça baixa, dirigiu-se ao andar de cima, mais reservado.

Alguns clientes bateram nas mesas, em sinal de protesto.

Palestinos
Página no Facebook foi criada para que israelenses "doem" votos a palestinos nas eleições do dia 22. Intitulado Democracia Real, o perfil é obra de ativistas que participaram de campanha durante as eleições de 2010, na Inglaterra.

Naquela oportunidade, milhares de ingleses deram seus votos a pessoa 110 Afeganistão, Bangladesh Gana - países afetados por políticas do Reino Unido.

O mistério de Dilma - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 05/01


A única forma de entender um político é observá-lo de perto. Contar gestos e pausas e, mais importante, desconsiderar as frases. Principalmente aquelas repetidas à exaustão. Um perfil jornalístico tem mais chances de revelar uma personalidade do que uma entrevista. Nada mais próximo da realidade do que uma apuração a partir da várias fontes, incluindo o próprio faro do repórter. Assim, perguntas a um personagem público sobre o futuro trazem quase sempre respostas enigmáticas ou evasivas. Ao longo dos últimos 24 meses, tal obscuridade tem servido de mote a Dilma Rousseff. E continuará servindo por mais 12 meses. Não só a ela, é verdade, mas também a Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos. Por ora, entretanto, fiquemos com Dilma e a última declaração da petista, dada durante um café da manhã oferecido a quase 30 jornalistas, em 27 de dezembro, no Palácio do Planalto.

Até é possível entender os motivos para o mistério do anúncio, mas a resposta da escolha será sempre uma: Dilma vai para a corrida ser for a melhor avaliada no momento do anúncio. Caso contrário, o PT fica com Lula ou qualquer outro mais bem posicionado. É simples assim. Por isso, as declarações neste momento são cautelosas e quase impenetráveis. Uma das melhores respostas sobre o desejo e possibilidade de se lançar a uma disputa foi dada pelo norte-americano Al Gore, alguns meses depois da derrota para o republicano George W. Bush, ocorrida em dezembro de 2000. E está num trecho do perfil feito por David Remnick, editor da revista The New Yorker, referência em cuidado na apuração e excelência de texto jornalístico. No momento da publicação, havia uma certa torcida para que Gore tentasse uma revanche contra Bush, afinal, a vitória escapou das mãos do democrata por pouco.

Apesar do entusiasmo com a disputa, a pergunta estava lá. E a resposta era clara, até onde poderia ser clara naquele momento, tão distante de uma nova disputa com Bush: “Basicamente, eu não espero ser candidato de novo”, começou a declaração, republicada no livro Dentro da floresta (Companhia das Letras, 576 págs., R$ 68), de autoria de Remnick. “A segunda parte da resposta é que eu ainda não descartei essa possibilidade por completo. E o terceiro qualificador é que não estou afirmando a segunda parte como forma de sinalizar acanhamento. É apenas para completar uma resposta honesta à pergunta e de maneira alguma muda a parte principal da resposta, que é: eu realmente não espero voltar a ser candidato. Se tivesse alguma expectativa de ser candidato de novo, eu provavelmente não me sentiria tão livre quanto me sinto para falar o que quero nas palestras. E eu gosto disso.”

A sombra
Gore não fugiu à pergunta. Era simplesmente impossível respondê-la. Sem a sombra de Lula, tal questão não seria dirigida a Dilma, afinal, nada mais natural do que um político em pleno primeiro mandato disputar a reeleição. Mas como a política no Brasil sempre é mais difícil de explicar, lá estão todos os analistas e jornalistas a apostarem fichas e amolarem a presidente, que, na entrevista de fim de ano, tentou explicar o inexplicável: “Agora, tenho de falar com sinceridade. Eu não falo sobre sucessão no meio do meu governo. Por quê? Porque se eu falasse, eu estaria antecipando 2014. E eu pretendo governar de hoje até 31 de dezembro de 2014 com o absoluto empenho, como se fosse sempre o início e com aquela força que você tem e que você sempre tem de ter no início da semana, de manhã cedo, com todo o empenho que aquela primeira entrada que a gente inicia um governo.”

Enquanto Gore usa a expressão “resposta honesta”, Dilma fala “com sinceridade”. De certa forma, dizem a verdade. No caso do norte-americano, era evidente, naquele momento, o entusiasmo nas palestras sobre aquecimento global, que começavam quase sempre com um “Oi, meu nome é Al Gore. Eu costumava ser o próximo presidente dos EUA”. O trabalho rendeu um filme, que ganhou o Oscar de documentário em 2007, e deu a Gore e ao Painel Intergovernamental para Alterações Climáticas da ONU o Nobel da Paz. Nada mal, pois. Dilma, por sua vez, dedica-se ao mandato, algo inquestionável até mesmo para o mais ferrenho adversário. É razoável que ela afirme querer governar até 2014 com todo empenho possível. Não é possível, entretanto, acreditar na possibilidade de que Dilma não pense na reeleição. Aliás, ela não disse isso. Afirmou que não falaria sobre sucessão. Mas que pensa, pensa.

Assim, as declarações de Dilma, Gore ou qualquer outro pré-candidato a presidente serão sempre vazias antes do anúncio oficial e do início da campanha. Resta observar os gestos e as pausas. Dilma está com o maior jeitão de que será candidata à reeleição. E apenas estará fora se estiver mal nas pesquisas.


O pior ano de nossas vidas - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 05/01


Um grito desesperado no vácuo, o céu coalhado de coisas mortas, estrelas que não existem mais


Trezentos e sessenta e cinco dias de farsa, de conversas imaginárias, de não diálogos, palavras atravessadas, da glote que se fecha, asfixia, na garganta áspera o ar que passa queima como gelo.

De não presença, não sorrisos, de perda de tempo.

Ano de indecisões, ou decisões erradas, desastre iminente, passos mal dados, de indefinição, de atrasos, adiamentos. De insegurança, arrependimento, da brutalidade da dúvida, de não pensar, ou pensar demais. De caixas postais vazias, telefones sempre mudos, mensagens dissipadas no éter como fumaça virtual.

Da ausência de desejos ou ambições. De um grito desesperado no vácuo, onde o som não se propaga. Do céu coalhado de coisas mortas, estrelas que já não existem (mas só agora seu brilho nos atinge, estertor feito de fótons).

De oportunidades desperdiçadas, contatos nunca estabelecidos. De papos de araque, dissimulações, promessas não cumpridas (feitas e recebidas). De pouco se lixar, sem prazos, sem projetos, sem horizonte, bússola de agulha desmagnetizada. De um único olhar, longo, indiferente, que fita uma planície de vidro opaco.

Ano de falta de ideias, de lugares-comuns, ano da página em branco, do teclado em silêncio, do caderno vazio, de falar sozinho, ou nem isso.

Do eco dos próprios passos na madrugada, rua escura coberta de névoa, do caminhar sem rumo, de nunca ter rumo, de escolher os piores trajetos, da angústia da perda total.

Ano de roer as unhas, ranger os dentes, de sopro no coração, de sangrar aos poucos (cada gota que mancha traz o vermelho do ferro e a densidade do mercúrio). De perder apostas, ficar devendo, implorar clemência, ouvir um não a cada hora.

Ano de vacilar na curva, agonizar, enxergar o próprio corpo do alto, percorrer túneis, uma luz, depois o escuro mais escuro, todos os comprimentos de onda em absorção total.

De ir embora para nunca mais voltar, mas acabar voltando por falta de alternativa. Do reflexo em estilhaços, paredes que se fecham, um quarto frio, TV fora do ar, solidão.

De mandar mensagens a si mesmo, passar datas em branco, esquecer essas datas, ou lembrar e não sentir nada, nada mesmo, fechar os olhos, fazer contagem regressiva e pedir para acabar logo.

Ano sem metáforas nem ironia, nenhuma figura de pensamento ou linguagem, frieza, ano bege, indistinto. De dissonâncias, harmônicos fora de fase, interferências destrutivas.

Ano de isolamento, de mergulhar nas canções mais sombrias. De assistir mentalmente a sessões contínuas de filmes em que ninguém é feliz. De espinha em pedaços e coração intranquilo.

De experiências terríveis, aniquilação, ampolas vazias, chegar ao limite, das janelas mais altas, de escorregar com tudo, de deslizes sem volta ou perdão.

De ser um fio desencapado, nunca relaxar. De ter uma britadeira endógena entre os ouvidos, 24 horas por dia, descanso impossível, inferno, vigília autoimposta.

Ano de dor, tensão sem fim, músculos contraídos, sinapses mergulhadas em um torpor de afasia, impulsos nervosos abaixo do nível de detecção. De tremores, delírio na noite, lençóis ensopados.

Ano de todos os males, de almas penadas, dos círculos concêntricos do inferno, de uma espiral de danação, dos pesadelos mais realistas.

Da cidade medonha, do caldo podre da enchente, dos parasitas no esgoto, das doenças sem cura.

Do erro do médico, do planejamento precário, da combustão incompleta, da fuligem que mancha o pulmão.

Do papel que não vale nada, chutes, números sem sentido, de conclusões indevidas. Do experimento que falha, do desespero, da fraude, da execração.

De não entender nada, de correr sem ter aonde chegar, do ônibus que não para. Dos rostos indiferentes que passam na chuva, das vozes distantes em línguas guturais, corredores que nunca terminam, labirintos que desembocam em novos labirintos.

Cinquenta e duas semanas em que cem flores murcham. De martírio, desprezo, incômodo, deslocamento, deficit de atenção, pensamentos obsessivos.

Do fracasso recorrente, vexame, vergonha. E da desesperança, eterna companheira.

Todo ano novo pode ser o pior ano de nossas vidas.

A indústria brasileira sofre uma crise estrutural - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 05/01


A notícia segun­do a qual as festas do final do ano de 2012 foram marca­das por uma forte redução dos esto­ques - o que leva­ria a indústria a re­ceber grandes en­comendas para repô-los - pode não se concretizar. É o que se depreende da análise da produção industrial nos últimos meses.

Em outubro houve alguma esperan­ça, com a recuperação nítida do setor, mas agora ela foi frustrada, porque os dados de setembro em relação a agosto e de setembro a outubro foram revisados para baixo, especialmente nes­te último mês (de zero para 0,1% positivo). E em novembro voltamos a uma redução de 0,6%, Com esses no­vos dados, em 11 meses de 2012 a pro­dução cai para 2,6% negativos.

A reduçao tributária de alguns seto­res, juros fortemente reduzidos e empréstimos subsidiados do BNDES não conseguiram vencer a apatia do setor industrial, apesar de um consu­mo familiar robusto, nem levaram as empresas aos investimentos necessá­rios. Apenas aumentaram as importa­ções de bens intermediários, mais ba­ratos do que os produzidos no Brasil.

Para oferecer produtos mais bara­tos com maior conteúdo tecnológi­co, a indústria precisaria investir em bens de capital, cuja produção caiu 16,6% em 11 meses, ante igual período de 2011. A indústria não está prepara­da para produzir mais bens de quali­dade em 2013. Os bens de consumo duráveis tiveram queda de 3,3%; os semiduráveis e não duráveis, de 0,3%; e os intermediários, de 1,6%.

Em termos mais desagregados re­gistra-se queda de 13,3% para veícu­los automotores e igual recuo para material de informática, de 4,2% para a metalurgia básica, onde detemos uma vantagem natural.

Como se verifica, a eliminação de alguns fatores que eram considera­dos empecilhos ao aumento da pro­dução industrial não apresentou o efeito esperado. De fato, nossa indús­tria enfrenta uma crise estrutural. Malgrado a recessão nos países avan­çados, a Ásia continua exportando seus produtos manufaturados para eles. O que a Ásia exporta são bens de alta tecnologia, com inovações que suas indústrias souberam desen­volver graças a um sistema de educa­ção e treinamento bem orientado. É verdade que são produzidos com mão de obra mais barata, mas o que não se leva em conta suficiente é que se trata de operários com alto nível de produtividade.

Conseguindo aumentar nossa pro­dutividade, poderemos oferecer pro­dutos a preços mas baixos ao mesmo tempo que teríamos redução nos cus­tos das obras de infraestrutura e a possibilidade de reduzir impostos.

A previsão do passado - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 05/01


Cabe a nós, o povo, insistir na compatibilização da escrita constitucional com a realidade nacional


Grande exemplo histórico da previsão errada, no passado, foi a de Napoleão Bonaparte, ao invadir a Rússia dos czares. Acreditou que obrigaria a monarquia russa a se render, assim que conquistasse Moscou. Não conquistou. A desastrada profecia otimista parecia aceitável, em começos do século 19.

Mais incompetente foi Adolf Hitler. Quase na metade do século 20, pretendeu dar realidade ao sonho de Bonaparte. Seu fracasso foi pior que o francês. Também desconsiderou o inimigo insuperável: o "general" inverno.

Se tomarmos o passado como base de previsões novas, precisa-mos saber que os enganadores do povo dispõem de novos instrumentos. Por isso, o primeiro cuidado a adotar está em defender, em debate livre, as soluções democráticas, para garantia da adesão voluntária.

Contraponto do parágrafo precedente será a composição heterogênea do povo brasileiro, no nível ainda alto do analfabetismo, nas distâncias significativas entre as duas primeiras linhas da sociedade e as outras. Compreendem os mais ricos ou de maior preparo cultural e o elevado percentual numéricos das demais categorias.

A derrocada argentina no combate sobre as Malvinas é mostra recente da imprudência dos falsos profetas, comuns em pretensas lideranças "milagrosas".

A contar de tais exemplos, podemos tentar prever o futuro do Brasil, na difusão de seus fundamentos essenciais, desde o art. 1º da Carta (soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana), sem descuidar dos valores sociais do trabalho, da livre iniciativa, do pluralismo político. Temos de dar conteúdo real ao art. 2º da Constituição. Ali se lê, quanto aos poderes da União, da independência de uns frente aos outros; da harmonia, que deveria ser imperativa entre eles. É o que está escrito na Carta.

Nós, porém, sabemos que se trata de uma impropriedade do texto, pois regra da harmonia substancial não se mostra na realidade da República, dos Estados e municípios.

Cabe a nós, o povo, insistir na compatibilização da escrita constitucional com a realidade nacional. Possibilitará, ainda que a prazo, a instalação de mecanismo sério, dos direitos vigentes na relação entre níveis de governo.

Os elementos complementares da previsão programática já estiveram presentes na coluna. Convém reiterá-los, junto com os direitos e garantias fundamentais, bem como os deveres individuais e coletivos que lhes correspondem, no equilíbrio do seu exercício extensivo a todos e a cada um de seus habitantes. Programa essencial para tal fim -insistentemente afirmada no passado- é a extensão desses valores, acoplados aos deveres consequentes.

O passo inicial consiste em lutar pela igualdade de todos perante a lei, precedida pela obviedade de que, assim como a segurança e a garantia da propriedade, não é definitiva no Brasil de hoje.

Superar obstáculos e transformar a previsão sonhada em realidade exigem, em primeiro lugar, que cada ser vivente do país saiba de seu direito. Que se entusiasme com a defesa. Que o reclame como valor jurídico e não como favor do poderoso.

Cada desigualdade que for eliminada será um passo para melhor. A luta será digna, ainda que ultrapasse o espaço de uma vida, ante o relevo da obra. Parece quixotesca, mas vale a pena.

ANJA DO SOM - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 05/01


A romena Anca Gavris, 38, tocou violino com Andrea Bocelli no seu show em SP, em dezembro. Ela veio para o Brasil há dois anos para se juntar à Osesp e acabou ficando.

Neste ano, ela fará uma homenagem ao poeta Paulo Bonfim. "Vou me apresentar em frente a um mural que tem poesias dele pintadas, em SP."

MEDIDA CERTA
Os frequentadores do Vigilantes do Peso no Brasil perderam ao todo 331 mil quilos em 2012. Desse total, 118 mil foram eliminados só no Estado de São Paulo. Em 2011, a perda de peso nacional ficou em 308,7 mil quilos -sendo 106 mil em SP.

ZONA LESTE MAGRA
Na capital paulista, o bairro que mais emagreceu foi o Tatuapé: 8.800 quilos. Em segundo lugar ficaram os associados das reuniões na avenida Paulista. No total, perderam 8.000.

CUMPRA-SE A LEI
Netinho de Paula (PC do B), secretário municipal de Igualdade Racial, diz que, "atendendo à solicitação do prefeito", vai priorizar a implementação na cidade de uma lei federal de 2003, que torna obrigatório o ensino sobre cultura e história afro-brasileira nas escolas públicas e particulares.

CACHOEIRA DO AMOR
O pastor que casou Carlinhos Cachoeira no dia 28 de dezembro conta que o empresário estava muito calmo durante toda a cerimônia. "Ele sorria muito", diz Vitor Hugo Queiroz, da igreja Nova Vida de Anápolis (GO). "Mas preferiu não fazer os votos de bodas."

O CONDE CASAR-SE-Á
Chiquinho Scarpa vai se casar com a empresária Marlene Nicolau. Depois de pedir sua mão, recebeu ontem em sua mansão a diretoria da Microcamp, empresa de Nicolau, para anunciar.

"Ainda não temos data definida", diz Scarpa, que pensa em fazer sua terceira boda em São Paulo. "Quem sabe até em casa. Veremos."

VOZ QUE NÃO CALA
O sertanejo Daniel está reaproveitando cantores do programa "The Voice Brasil", do qual ele foi jurado.

"Já cantei num show meu com a Carol Marques. E quero convidar outros participantes para apresentações."

MAMA ÁFRICA
O moçambicano Stewart Sukuma vem ao Brasil no mês que vem. O cantor, que é Embaixador da Boa Vontade da Unicef, se apresentará junto com a banda Nkhuvu no dia 24 de fevereiro no Auditório Ibirapuera.

LISTA VIP
Andrea Barata Ribeiro, que fundou a O2 Filmes ao lado de Fernando Meirelles e Paulo Morelli, é a única latino-americana entre as 12 empresárias de entretenimento mais importantes do mundo, em eleição da revista estadunidense "The Hollywood Reporter". Ela foi a produtora-executiva de filmes como "Cidade de Deus", "Ensaio sobre a Cegueira" e "Xingu".

PRÊMIO PRÉDIO
O troféu do Prêmio Governador do Estado para a Cultura será feito neste ano pelo artista plástico Luiz Hermano. Ele diz ter se inspirado na arquitetura da cidade de São Paulo para criar a peça.

VIRADA DE DISCO
O DJ Konrad se apresentou na festa de música eletrônica Mothership da boate D-Edge, na Barra Funda. Convidados como a modista Patricia Tessarolo e a estudante Graziela Belfort foram recebidos na balada pela hostess Natalia Scabora.

TRANCOSO É UM GLOBO
Atores globais como Alinne Moraes, Rodrigo Simas e Nathalia Dill foram à festa Saravá, em Trancoso, no sul da Bahia. O piloto Thiago Camilo também esteve no evento, em que só tocaram músicas nacionais.

CURTO-CIRCUITO
Vanessa Jackson se apresenta hoje no Bar Brahma do centro. 18 anos.

O Gero reabre das férias hoje, às 19h, nos Jardins.

O Ferretti Club Day é hoje, em Angra dos Reis.

O Dia de Reis será celebrado amanhã, às 19h, no bar Balcão, nos Jardins.

Quem vai deter Eduardo Campos? - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém


O GLOBO - 05/01


As principais lideranças políticas do país já trabalham com o seguinte cenário eleitoral para o ano que vem: Dilma x Eduardo Campos x Aécio.

A dúvida é apenas em relação a Aécio, não naquilo que depender dele. Pelo contrário, o senador já assumiu sua condição de candidato. É que, em se tratando do PSDB, hoje, ninguém faz nada sem o aval do governador Alckmin.

A candidatura Eduardo Campos já tem adeptos de mais para ser desfeita sem danos políticos ao governador de Pernambuco. E une o estado inteiro, menos o PT, naturalmente.

- A candidatura, não ele, avançou demais. Não dá mais para recuar! - afirma o até ontem maior adversário de Campos, o ex-governador Jarbas Vasconcelos, um dos líderes da oposição ao PT.

Dilma também trabalha com a hipótese, menos Lula. Para o ex-presidente, a hipótese Eduardo Campos não existe. O que existe é a candidatura Eduardo Campos.

Em forma
FH, no "Manhattan Connection", perguntado sobre com quem ficaria numa ilha deserta, se com Angelina Jolie ou Gisele Bündchen, respondeu na bucha:

- A Suellen! Se pudesse. Mas, com a minha idade, não ousaria tanto. Não passa de sonho de velho.

Elegância
Pois não é que a coluna conseguiu localizar a "Mulher do Ano" numa ilha perto do Caribe, acompanhada de um bando de amigas?!

- Ilha deserta???? Não poderíamos trocar por uma linda tarde de sol na Prainha????? Na verdade não sou muito fã de lugares desertos, mas certamente adoraria conversar com alguém que tem as maiores qualidades que um homem pode ter, independentemente da idade. Fernando Henrique é um homem inteligente e lisonjeador. Estou envaidecida com os elogios.

Gêmeos
Chalita está mandando e desmandando na prefeitura de São Paulo mais do que o prefeito Fernando Haddad.
Até quando? Não sei!

Mas deve durar por um bom tempo. É que a família Haddad, inclusive a Primeira-Mãe, passou o réveillon na casa do futuro ministro da Ciência e Tecnologia, e dona Norma saiu encantada com o anfitrião, ao ponto de dizer que iria adotá-lo como filho.

Não será difícil. O próprio filho dela, que é a vaidade em pessoa, reconhece ser muito parecido com Chalita.

Ladino
Renan Calheiros está trabalhando sua candidatura à presidência do Senado em surdina. Pretende anunciá-la somente às vésperas da eleição e, assim, evitar que ela exponha o seu passado de presidente deposto. Acha que, agindo assim, a mídia se esquece dele. Leda certeza!

Se não sou eu...

Afago
Ah, já ia me esquecendo, ainda na entrevista ao "Manhattan Connection", perguntaram a FH quem ele gostaria, entre Lula, Collor e Sarney, de ter como parceiro de naufrágio por dez anos numa ilha. E ele, de chofre:

- Sarney! Pelo menos conversaríamos sobre literatura e uma porção de coisas amenas.

Emoções
Pois não é que, a exemplo da Isis Valverde, fui encontrar Sarney na solitária ilha do Curupi, no Maranhão. "O dono do mar" e ex-dono desta coluna estava emocionado. Primeiro, com o meu telefonema (há um ano ele não saía aqui ). Depois, com as declarações do outro ex-amigo:

- As declarações foram muito generosas. Nós dois não precisaríamos de uma ilha deserta para estarmos juntos. Eu gosto dos livros do FH, e ele, dos meus. E gostamos muito de literatura.

Embate
Sarney já até sonha com esse encontro:

- Eu aproveitaria para puxar um tema que Fernando Henrique adora: o seu fascínio pelo Sérgio Buarque de Holanda e de seus embates com Gilberto Freyre.

Velhos babões
Como amigo da Casa do Saber, em nome daquele "feixe de luz" chamado Maria Fernanda Cândido e do Armando Strozenberg, mentores da entidade, ofereci essa meca da cultura nacional como local do encontro entre os dois ex-presidentes.

FH foi o primeiro a aceitar, mas com a seguinte exigência:

Que o debate entre Sarney e ele seja mediado pela Isis Valverde.

Sarney topou no ato. Acha Isis parecida com a sua Saraminda.

Será que na idade deles vou ficar também babão?

Onde as crianças nascem menos - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 05/01


População do Japão não para de cair; vendem-se mais fraldas para adultos que para crianças no país


NO JAPÃO, a cada 31 segundos, nasce uma pessoa. A cada 26, morre outra. Ou seja, tem mais gente morrendo que nascendo.

Desde 2007, a população japonesa não para de diminuir. Segundo o governo, de 2011 a 2012, o país perdeu o número recorde de 212 mil pessoas. Nesse ritmo, até 2060, os japoneses, hoje 128 milhões, estariam reduzidos a 86 milhões apenas.

Em 2012, nasceram 18 mil crianças a menos que em 2011. Essa tendência está diretamente vinculada à baixa taxa de fertilidade das japonesas. Hoje, a média de filhos por mulher é de 1,39. Para que a população se mantivesse estável, seria necessário que ela alcançasse 2,1.

A redução do número de filhos é explicada, ao menos parcialmente, por razões econômicas. A conjuntura de recessão desencoraja a constituição de novas famílias. As pessoas se casam menos e mais tarde. A manutenção de um filho é cara: em 2009, os cinco primeiros anos de educação infantil custavam cerca de US$ 73 mil, 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos, por exemplo.

Além disso, ter filhos dificulta o avanço profissional das mulheres. Como trabalhar 15 horas por dia - coisa comum no Japão- quando se tem criança pequena em casa? Diante desse dilema, número cada vez maior de mulheres tem priorizado a carreira profissional e decidido não ter filhos.

Com a redução no número de nascimentos e uma das expectativas de vida mais elevadas do planeta, o Japão se transformou no país desenvolvido com a mais alta proporção de idosos. No mercado japonês, vendem-se mais fraldas descartáveis para adultos que para crianças. Hoje, 24% da população total é de idosos. Em 2060, os idosos serão 40%.

Essa tendência é uma bomba-relógio populacional. A cada cem segundos, o Japão tem uma criança a menos. Segundo Hiroshi Yoshida, professor de economia da Universidade de Tohoku, a prevalecer esse quadro, em maio de 3011, não haverá mais crianças no país.

O envelhecimento da população imporá sobrecarga crescente ao sistema previdenciário. Também terá impacto sobre o nível da produtividade e o ritmo do crescimento. Agora, mesmo que a taxa de fertilidade subisse, tomaria mais de uma geração para que a diferença pudesse ser economicamente verificada.

A incorporação de imigrantes poderia ajudar a compensar o deficit demográfico, mas essa hipótese parece não ser considerada pelas autoridades japonesas. O governo está ciente da questão e estabeleceu um ministério específico para o tema. Algumas políticas têm sido implementadas, mas os resultados têm ficado aquém das expectativas.

Contudo, a despeito do que faça o governo, é fundamental que a comunidade empresarial reconheça e assuma seu quinhão de responsabilidade. É importante para toda a nação que a cultura corporativa e o ambiente laboral incorporem regras de proteção ao convívio familiar e protejam o avanço profissional das trabalhadoras com filhos. A contribuição que as mulheres japonesas podem dar ao sistema produtivo de seu país, mais do que valiosa, é necessária. Não deve ser desprezada.

Quando ao subir o homem desce - ALOÍSIO DE TOLEDO CESAR


ESTADÃO - 05/01


O Brasil talvez seja o unico pais do mundo onde uma pessoa condenada pelos crimes de corrupção e formação de quadrilha, por decisão do mais alto tribunal da República, assume no Congresso Nacional o cargo de deputado federal, podendo atuar na elaboração de leis. Meu Deus, qual será a validade dessas leis que vierem a ter o autógrafo de José Genoino?

É vergonhoso, humilhante, afrontoso verificar que isso acontece logo depois de o Senado ter dado um pé no traseiro de Demóstenes Torres, em face da suspeita de envolvimento criminoso do então senador com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Os crimes praticados por José Genoino, e que levaram à sua condenação, são muito mais graves, de tal forma que sua posse na Câmara dos Deputados eqüivale a chicotear a República e a negar o Estado de Direito, pelo qual a Nação tanto lutou. É um ato vergonhoso que mancha definitivamente a biografia do agora parlamentar.

Não percebe esse político que sua presença no Congresso será um prato cheio para seus adversários? A qualquer palavra que diga, sempre alguém o lembrará de que é uma pessoa condenada por corrupção e formação de quadrilha. Isso certamente atingirá não somente a sua pessoa, mas também o partido político do qual foi presidente, e até mesmo o País.

Quando ocorria o seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, por haver atuado, como presidente do Partido dos Trabalhadores, no avanço em dinheiro público para farta distribuição a amigos e aliados políticos, a ministra Çármen Lúcia, que o julgava, procurou deixar claro que não estava "julgando uma biografia", mas, sim, casos concretos de corrupção e formação de quadrilha.

A menção feita à "biografia" resulta da reputação que Genoi-no incorporou à sua carreira política como combatente armado na luta contra o regime militar implantado no Brasil em março de 1964. Naquela época, certamente com patriotismo, mas sem maior inteligênciaecomfra-gilíssima estratégia, jovens sem experiência lançaram-se a uma luta de poucas armas exatamente contra a única instituição que detinha o poderio bélico.,

Sob o ardor da juventude, assaltaram bancos, dinamitaram cofres para resgatar dinheiro e chegaram ao exagero de seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos e a jogar uma poderosa bomba sobre o quartel do II Exército, em Sãó Paulo, fazendo em pedaços o infeliz soldado Mário Kozel Filho, de 18 anos, que ali estava de sentinela.

Essas ações de confronto representaram para os detentores do poder os melhores argumentos de que necessitavam para não devolver o poder aos civis. Na 2.a Seção do II Exército, onde atuava o serviço secreto militar, seguiam-se reuniões sempre com o mesmo desfecho: "Como devolver o poder a esse bando de loucos?".

Aquela juventude armada, à qual nunca se negou coragem, teve como integrante e participante, além de José Genoino, uma estudante de nome Dilma Rousseff, agora presidente da República. O movimento pendular da História é sempre surpreendente e serve para mostrar que no Chile, no Brasil e no Uruguai os guerrilheiros de ános atrás, que lutaram contra as ditaduras, chegaram ao poder não pelaviolência, mas pelo voto (e já no poder - isso é incrível - não se mostraram muito diferentes daqueles a quem haviam combatido).

No caso especial do Brasil, a reconquista do poder pelos civis veio a ocorrer não pelo ardor juvenil que levou à violência e à luta armada. O poder foi reconquistado por força de atos de inteligência e boa estratégia demonstrados por homens nada violentos como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Mário Covas e tantos outros.

Esses políticos, que até hoje fazem muita falta, pareceram adotar o estilo de Gandhi quando resolveu ogor-se ao domínio britânico ná índia, fazendo uso, tão somente, da não violência e da não cooperação. Esse movimento, a que Gandhi dava o nome de "Satyagraha", procurava mostrar a força da verdade e da ausência de medo. Exatamente por não encontrarem como combatê-lo, os britânicos acabaram pegando os seus chapéus, os seus tacos de golfe evoltaram para a Inglaterra.

No Brasil, a devolução poder aos civis também veio a ocorrer, mas sempre com muita tensão. Poucas pessoas têm conhecimento das dificuldades, dos esforços e das cobranças que o então governador paulista Paulo Egydio Martins fazia ao presidente Ernesto Geisel para que promovesse uma abertura política que, mesmo lenta, avançasse progressiva e irreversivelmente. Sem o uso de bombas, ou de armas, enfim, o País aos poucos voltou a ter eleições, mas, por lamentáveis falhas dos eleitores, repetidamente são eleitas pessoas destituídas do necessário preparo.

Isso acontece desde os tempos do Brasil colônia, quando o satírico Gregório de Matos, em seus versos, dizia: "Quem sobe a alto lugar, que não merece, homem sobe, asno vai, burro parece, que 0 subir é desgraça muitas vezes". E ele completava que melhor é user homem em baixo, do que burro em cima".

A biografia de José Genoino, objeto de admiração por seus seguidores de partido, não mereceria ter esse complemento vergonhoso, porque a contamina por inteiro. A sua posse no Congresso Nacional representa praticamente a anulação de eficácia da Lei da Ficha Limpa, conquista nacional

Realmente, alguns milhares de políticos não puderam sequer disputar cargos eletivos pelo fato de suas biografias estarem ornamentadas por ilícitos administrativos e por delitos. Alguns prefeitos eleitos nem ao menos puderam assumir seus cargos em razão desses vícios não aceitos pela referida lei.

Aposse de Genoino desmoraliza a Lei da Ficha Limpa e certamente servirá de paradigma para que outros condenados, sem os seus direitos políticos, assim como ele, também possam tomar posse. É triste ter de assistir a mais esse espetáculo de desprezo à inteligência das pessoas.

Ueba! Falta muito pro Carnaval? - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 05/01


Ô Pato caro! E manco! Ultimamente o Pato só fazia gol na filha do Berlusconi. É verdade!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Cachoeira está se convertendo, diz pastor evangélico". Se convertendo em euro ou dólar? Jesus tá sabendo disso? E, com a lábia do Cachoeira, é mais fácil o pastor se converter ao jogo do bicho!

E adorei o Zeca Pagodinho na enchente em Caxias. Com seu possante quadriciclo. O Zeca devia ser prefeito de Caxias! Tira o Zito e bota o Zeca! Não deixa a enchente me levar! E ele tomou quantos engradados de água de enchente?!

E a manchete do Piauí Herald: "Zeca Pagodinho multado pela Lei Seca". Diz que ele estava salvando 12 engradados de cerveja das enchentes!

E diz que tudo é culpa do lixo! Então atenção, cidadão: não pode jogar lixo e nem votar em lixo!

E o futebol? Tô adorando as contratações de 2013! "Transferência de Pato ao Corinthians é a mais cara do futebol brasileiro." O Pato dos ovos de ouro.

Ô Pato caro! E manco! Ultimamente o Pato só fazia gol na filha do Berlusconi. É verdade! Na Itália era assim: o Milan entrava com o pato, e o Berlusconi com o pinto! E sabe qual é a semelhança entre o Pato e o Ganso? Ambos estão bichados! Rarará!

E o Santos fechou com o Montilla. E com o Pinga! Ron Montilla e Pinga! Agora só falta contratar o Adriano Imperador. E tem mais: este Pinga jogava no Al-Gharafa! E isso é futebol ou granja? Pato, Ganso, Pardalzinho!

E olha o site Futirinhas: "Santos fecha com Montillo. Corinthians fecha com Pato, São Paulo fecha com Vargas. E o Palmeiras fecha as portas". Rarará! Não se pode mais falar em futebol sem zoar o Palmeiras. É compulsão! O Palmeiras virou o Sarney do futebol!

E o site CornetaFC revela que o Vargas é a cara da Maria Gadú! O São Paulo quer fazer um shimbalaiê! O São Paulo contratou a Maria Gadú. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

O Brasileiro é Cordial! Primeira placa do ano direto de Esmeraldas, Minas: "Feliz 2013! E que neste novo ano você coloque o lixo na porta da perereca da sua mãe". Rarará!

E uma pergunta clássica de todo mês de janeiro: falta muito pro Carnaval? Falta! Faltam 25 dias úteis. Ou seja, inúteis! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Risco Garotinho - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 05/01


A ala governista do PR está em pânico com a possibilidade de o deputado Anthony Garotinho (RJ) se eleger líder da bancada. Dizem que será um "complicador" na relação com o Planalto, num momento em que o partido tenta emplacar um ministro. Esse grupo não sabe o que fazer para deter o ex-governador. Uma das estratégias é lançar vários candidatos para dispersar os votos.

Corrida em direção ao Paraguai
Com a construção do linhão de 500kW, ligando a Usina de Itaipu e Assunção, capital do Paraguai, empresas brasileiras estão abrindo subsidiárias no país vizinho. Os investimentos mais fortes são nas áreas de fabricação de cimento, de produtos agrícolas, de insumos agrícolas, têxteis e tintas. Além da oferta de energia barata, o que atrai os investidores é a baixa carga tributária. No Paraguai, ao contrário do Brasil, só é cobrado um tributo, o IVA, de 10%. Outro fator de atração é a legislação trabalhista antiga. Lá, não há nada parecido com o FGTS brasileiro, nem seus trabalhadores são beneficiados por um programa de assistência à saúde como o INSS.

“Vocês estão loucos!”
Luiz Inácio Lula da Silva Ex-presidente da República, reagindo aos petistas que defendem o lançamento de sua candidatura ao governo de São Paulo nas eleições de 2014

Cortejando a oposição
Candidato a presidente da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG) começa sua campanha pelo Norte do país. Na semana que vem, com o aval dos prefeitos de oposição, fará reuniões com deputados em Manaus, Belém e Macapá.

"Dolce far niente"
O contraventor Carlos Cachoeira e sua mulher, Andressa Mendonça, foram vistos ontem embarcando faceiros num táxi-aéreo no aeroporto de Salvador. Acompanhados por forte esquema de segurança, carregavam grande quantidade de compras e presentes. Cachoeira, alvo da Operação Monte Carlo, da PF, ficou nove meses preso em 2012.

As voltas que o mundo dá
Portugal está protestando devido à dificuldade de engenheiros lusitanos obterem autorização para exercer a profissão no Brasil. Há duas décadas, quem vivia esse drama eram dentistas brasileiros que tentavam se radicar no país europeu.

Os tucanos emplacaram
O governador Cid Gomes (PSB-CE), os petistas e aliados estão possessos. O presidente do BNB, Ary Lanzarin, nomeou, para comandar a área de comunicação do banco, Nilton Almeida. Ele é de carreira, mas dirigiu a Fundação Queiroz Jereissatti e foi secretário de Cultura no governo Tasso Jereissatti (PSDB). "É um verdadeiro disparate!", protesta o líder do PT, José Guimarães.

"Está todo mundo aqui"
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está fazendo campanha a líder da bancada na Câmara em... Miami. Ele foi para o réveillon e resolveu ficar pela quantidade de colegas de partido curtindo as férias no balneário americano.

Com a pulga atrás da orelha
A equipe da ministra Miriam Belchior (Planejamento) ficou indignada com as críticas vindas do Planalto pelo fato de a ministra estar de folga. Alegam que Miriam trabalhou no Natal e no ano-novo, e que está tudo sob controle.

O governo Dilma prevê safra agrícola recorde de 182 milhões de toneladas. E alto preço de mercado, devido à quebra de safra nos EUA e na Rússia.

Redução de danos - FÁBIO ZAMBELI - PAINEL


FOLHA DE SP - 05/01


Enquanto técnicos da Fazenda buscam equação para a dívida da Prefeitura de São Paulo com a União, o governo de Dilma Rousseff ajudará o aliado Fernando Haddad a enfrentar o período das chuvas, desafio inicial da gestão petista. Por meio do PAC, o Ministério das Cidades acaba de autorizar o repasse de R$ 640 milhões para três obras emergenciais antienchentes na capital: a drenagem nos córregos Aricanduva e Zavuvus e a contenção de encostas em 13 áreas de alto risco.

Mutirão Inspirado no modelo da gestão de Marta Suplicy (2001-04), Haddad quer treinar 400 moradores de áreas de risco para atuar na Defesa Civil, antecipando a evacuação de moradias na iminência de deslizamentos.

Sinal amarelo A manifestação de sem-teto que bloqueou ontem o acesso ao edifício Matarazzo, sede da prefeitura, aumentou a tensão entre petistas que alertavam Haddad sobre as expectativas que sua campanha alimentou nos movimentos sociais.

Onde pega Aliados do prefeito temem que a pressão contamine o debate do Plano Diretor, prioridade zero da Câmara para 2013.

Expediente Haddad tem permanecido na prefeitura das 8h às 20h nos primeiros dias de governo. O almoço, do qual participam grupos de secretários, é servido em sala anexa ao gabinete, com cardápio frugal: filé de frango, arroz, salada, purê e frutas da estação de sobremesa.

Belezura Andrea Matarazzo (PSDB) mandou reformar seu gabinete na Câmara paulistana, herdado do comunista Jamil Murad, que não se reelegeu. O tucano retirou divisórias e mandou pintar as paredes de "off white", tonalidade de branco comum em vestidos de noiva.

Companheiros Ligado à CUT, Carlos Grana (PT) nomeou Cícero Firmino, da Força Sindical, para a Secretaria do Trabalho em Santo André.

Discurso... Criticada por ministros, a declaração de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) contrariando o STF quanto à perda de mandato de condenados no mensalão foi interpretada por correligionários como manobra para estancar o avanço das candidaturas de rivais à presidência da Câmara.

... de campanha Peemedebistas afirmam que Alves, no final do ano passado, mostrava-se refratário ao enfrentamento com o Supremo para evitar desgastes antes de assumir, mas mudou de conduta ao ser informado do avanço dos rivais. "Ele está tentando neutralizar", diz um congressista da sigla.

Calculadora Nas contas feitas por parlamentares governistas, Rose de Freitas (PMDB-ES) e Julio Delgado (PSB-MG) já teriam alcançado, juntos, mais de 150 votos. O patamar ainda é insuficiente para abalar o favoritismo do atual líder do PMDB.

Catraca Dirigentes da seção pernambucana da UNE preparam série de manifestações contra o aumento da passagem de ônibus na região metropolitana de Recife, anunciado ontem. Petistas querem usar a ofensiva para melindrar o governador Eduardo Campos e o prefeito Geraldo Júlio, ambos do PSB.

Passivo 1 Tramitam na TSE 10.625 ações de 2012 passíveis de revisão. Parte expressiva pode alterar as composições de Câmaras municipais e prefeituras. São decisões monocráticas (individuais), que abrem margem para agravos ao plenário da corte.

Passivo 2 No ano passado, deram entrada no Ministério Público Eleitoral 22 mil processos, mas o tribunal anunciou, em dezembro passado, que foram distribuídos apenas 14 mil aos ministros.

com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA

tiroteio
"Demorou um ano para o PSDB introduzir a internação compulsória? Está na cara que a operação na cracolândia foi marketing puro."
DO PRESIDENTE DO PT-SP, EDINHO SILVA, sobre as medidas recém-anunciadas pelo governo paulista para o tratamento de dependentes no centro paulistano.

contraponto


Boi na linha


Enquanto se reunia com secretários no Palácio dos Bandeirantes para despachar em plena noite de domingo, Geraldo Alckmin resolveu checar informações sobre obras de seu governo no interior do Estado. Telefonou, então, para um prefeito e anunciou solenemente.

-Alô, aqui é o Geraldo Alckmin. Tudo bem?

O prefeito desconfiou que estava sendo vítima de um trote por causa do horário da ligação -já passava das 19h. Respondeu em voz alta, sem titubear:

-Ah, sei, a essa hora? Tudo bem, se for assim, aqui quem fala é George Bush.

Genoino no seu pior papel - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 05/01


Ao tomar posse como suplente de uma cadeira na Câmara dos Deputados, no dia 3, José Genoino foi parcimonioso em declarações aos jornalistas e garantiu que se sentia "confortável" ao assumir mandato parlamentar enquanto aguarda a tramitação em julgado da sentença do Supremo Tribunal Federal que o condenou, no processo do mensalão, a 6 anos e 11 meses de prisão. Na verdade, naquele momento o ex-presidente do PT poderia estar-se sentindo tudo, menos "confortável". Comprovam no todas as fotos em que aparece durante a rápida e discreta solenidade realizada no gabinete do presidente da Çâmara para dar posse a 17 dos quase 30 suplentes de parlamentares que foram eleitos prefeitos ou assumiram secretarias municipais.

O flagrante estampado na primeira página do Estado (4/1), de autoria do fotógrafo Beto Barata, tomado no momento em que Genoino prestava declarações à imprensa tendo vários microfones à sua frente, escancara a expressão constrangida de uma pessoa que tem perfeita consciência do extremo incômodo do instante que estava vivendo. Para emoldurar a cena patética, atrás de Genoino três deputados petistas que o acompanhavam - José Mentor, Ricardo Berzoini e José Guimarães, seu irmão - exibem fisionomias carrancudas mais adequadas a um velório do que ao ato presumivelmente jubiloso que testemunhavam. Muito melhor do que palavras, essa foto ilustra o transe doloroso a que a falência dos princípios republicanos está levando o ofício da política, como nunca antes na história deste país.

Nesse quadro, José Genoino é apenas um coadjuvante para o qual se apontam circunstancialmente os holofotes. Um coadjuvante a quem, com alguma indulgência, se pode atribuir o papel de vítima. Uma vítima cujos algozes não são, como querem os petistas, as elites perversas, o judiciário politizado, a mídia monopolista e vendida - enfim, tudo e todos que se recusam a alinhar-se com os planos de poder do partido dito dos trabalhadores. Genoino é, isso sim, vítima das enormes contradições do PT, da falta de escrúpulos com que a liderança da companheira-da reescreveu a história de um partido que nasceu com o compromisso de passar o Brasil a limpo.

Não tem faltado quem, indignado com o absurdo ético que representa seu retomo à condição de deputado, não hesite em classificar Genoino como "bandido". Não é justo. Bandidos há muitos na política brasileira em geral e dentro do PT em particular. Especialmente aqueles que ingressaram na vida publica arrostando o perigo de desafiar a ditadura militar e que hoje se refestelam nõ luxo dos confortos "burgueses" imbuídos da convicção de que fizeram por merecê-lo por serem "do bem". Não é o caso de José Genoino, no que diz respeito ao padrão de vida de classe media que sua família sempre teve. Mas Genoino erra. E da mesma forma como cometeu no passado o erro político de optar pela luta armada para defender a democracia, hoje Genoino erra ao não admitir os crimes em que se viu envolvido e pelos quais foi condenado. Se agisse hoje com a mesma coragem, desassombro e generosidade que há mais de 40 anos o levaram a arriscar a vida no movimento de resistência à ditadura militar, admitiria seus erros no episódio do mensalão, sem precisar quebrar o vínculo de fidelidade a seus companheiros, e teria poupado o País e a si mesmo da cena patética que protagonizou ao trocar o fundamento sólido e permanente da ética pelo oportunismo efêmero da legalidade.

"Estou cumprindo as regras, a Constituição e as normas do País, Fui eleito com 92.326 votos e estou no dever legal, correto e justo de cumprir a Constituição brasileira. " Se é de fato o homem probo envolvido em malfeitos por força das circunstâncias, como muitos brasileiros acreditam, José Genoino certamente um dia se arrependerá do cinismo dessa declaração. Pois ninguém contesta o direito que, à luz do ordenamento jurídico brasileiro, ele tem de assumir uma vaga de suplente na Câmara dos Deputados. Mas nem tudo que é legal e legítimo, é moral e ético.

José Genoino conquistou no passado o respeito até dos brasileiros que dele discordavam porque lutou por aquilo em que acreditava. Hoje procura apenas se agarrar ao que lhe convém. É pena.